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Projetos buscam a profissionalização da renda de bilro em Florianópolis

A sinfonia criada pelas ondas do mar, que quebram forte na orla do Sambaqui, na Ilha de Santa Catarina, se mistura com o tilintar dos bilros e com as vozes afinadas das rendeiras que trabalham e vendem as suas peças na antiga alfândega do bairro.

A edificação construída em 1854, reformada e reinaugurada em 2011, no ano em que um levantamento sobre a atividade apurou pelo menos 300 pessoas como produtoras de renda no município, é um dos marcos da recente onda de valorização do trabalho das rendeiras.

Desde 2010, quando foi lançado oficialmente o primeiro Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, na Lagoa da Conceição, esta atividade tem lentamente recebido uma nova dinâmica na cidade. A diferença é que agora a convergência de ações significará o ponto da virada para a profissionalização e qualificação da atividade.

Oficinas de capacitação do projeto Rendeiras da Ilha, proposto pela Fepese (Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos) e com patrocínio da Petrobras, começam na próxima quarta-feira pelo grupo de rendeiras da Ponta das Canas.

Elas serão as primeiras a ter aulas de relacionamento interpessoal, empreendedorismo, noções de informática, saúde da mulher, administração financeira, qualidade e exportação de produtos.

Paralelamente, a Secretaria Municipal de Cultura avança no trabalho desenvolvido nos últimos anos para a valorização da renda feita na Ilha. Na próxima semana, o secretário da pasta, Luiz Moukarzel, deve aprovar o projeto arquitetônico do novo Centro de Referência da Renda de Bilro na cidade, que será inaugurado no renovado Mercado Público.

Além disso, a secretaria capitaneada por Moukarzel está incentivando a agregação de valor da produção da renda. Faz parte deste processo o incentivo à diversificação dos produtos, a criação e padronização de embalagens e etiquetas que identifiquem a renda e a sua história, e o estabelecimento de cadeias curtas entre as rendeiras e os consumidores, eliminando a figura tradicional do processo que são os atravessadores.

Atividade sempre foi encarada como complemento da renda

Parece até que elas combinaram. Quase todas as rendeiras que são referência da produção na Ilha compartilham da mesma história: aprenderam a fazer renda aos sete ou oito anos de idade e vencendo a resistência das mães, que eram rendeiras mas que, em quase todos os casos, não acreditavam no futuro da atividade.

Isso porque a produção que utiliza o bilro sempre foi vista como uma atividade complementar da renda das famílias. A geração que tem hoje entre 60 e 80 anos fazia renda à noite, depois de trabalhar na lavoura em roças de café, mandioca e feijão, principalmente, e nos engenhos de farinha e de açúcar.

O trabalho noturno com os bilros rendia alguns trocados para ajudar a pagar as contas da família e para as moças comprarem vestidos e sapatos para os bailes nas diferentes comunidades da Ilha. Depois de casadas, muitas rendeiras largaram o bilro para ganhar mais como empregadas domésticas ou no comércio que começava a crescer com o turismo.

As artesãs que não abandonaram a atividade seguiram com a renda paralela a outras profissões. “Quase todas que fazem renda hoje são aposentadas. Isso porque a renda nunca deu muito dinheiro. Quem faz muito consegue, no máximo, R$ 200 em média por mês”, conta Maria da Glória Viana Soares, 64, líder do grupo de artesãs do Sambaqui.

Trabalho coletivo preserva hábitos e cadeia produtiva original

Toda a cadeia produtiva da confecção de renda de bilro na Ilha é feito dentro da cidade. As rendeiras mais experientes ou que tem interesse em aprender fazem, por sua própria conta, segundo Maria Rosa de Paulo, da Barra da Lagoa, os seus próprios caixotes e almofadas.

Até mesmo o bilro pode ser feito por conta própria – mas é mais difícil porque demanda encontrar a madeira certa e ter um pouco de habilidade para conseguir o formato certo. Quem quer comprar esses itens, encontra fabricantes dentro da Ilha – apenas as linhas e os alfinetes vem de fora.

Durante a lida de confecção da renda, as amigas de toda uma vida, Maria da Glória Viana Soares, 64, Benta Maria do Amaral, 70, e Valdete de Jesus Lima, 80, responsáveis pelo atendimento aos turistas no Casarão do Sambaqui, contam “causos”, esbanjam alegria e vitalidade e resgatam a cantoria dos antigos.

Os versos de ratoeira (tipo de cancioneiro popular) ou de canções conhecidas nas Festas do Divino são repassados entre gerações ou criados pela compositora principal do grupo, a Valdete. “Cantar é o hábito da gente”, explica a rendeira mais antiga do grupo.

Ela aprendeu a fazer renda com a mãe quando tinha sete anos e ficou conhecida por conquistar um namorado com os versos improvisados. “Eu não queria, mas ele insistiu”, ela brinca. No final, Valdete acabou se casando com outro.

Desafio é agregar valor à produção

A rendeira Benta Maria do Amaral, 70, sempre sorridente, é um exemplo da migração de atividade pela qual muitas artesãs passaram nas últimas décadas. Depois de casar, aos 16 anos, e ter o primeiro filho, ela começou a trabalhar como faxineira e largou a renda. “Fiquei 30 anos sem fazer”, conta.

Desde que a associação das rendeiras foi criada no Sambaqui, há três anos, com o apoio fundamental da criação de um espaço para elas no antigo posto da alfândega, Benta retomou o trabalho com os bilros. “Voltei porque adoro fazer renda. E também pela bagunça e pela diversão, porque estamos sempre inticando uma com a outra e cantando. Um dia que eu não venho (no casarão), sinto falta”, conta.

O desafio das ações desenvolvidas no município envolvendo as rendeiras é o de agregar valor à essa produção. “Historicamente esse trabalho foi visto como uma renda suplementar. A rendeira pensava que teria lucro ao fazer dez peças com um novelo, que custa entre R$ 7 e R$ 12, e vender cada peça por R$ 5 ou R$ 6. Mas ao fazer isso, ela não está agregando o verdadeiro atributo das peças que é o trabalho manual”, comenta o secretário municipal de Cultura, Luiz Moukarzel.

A secretaria liderada por ele está começando a mostrar para as rendeiras que a linha é apenas um insumo básico das peças (confira na arte o custo de alguns itens do processo), mas que a criatividade, a história da atividade e o custo de mão de obra são itens ainda mais relevantes para a definição do preço. “Estamos na fase de agregar valor a essa produção, mostrando que esse trabalho tem que ser mais valorizado que aquele feito em tear mecânico, por exemplo. Porque ele é único, exclusivo, tem criatividade e valor de produção”, opina o secretário de Cultura.

Rendeiras terão, pela primeira vez, espaço no Mercado Público

O primeiro passo para a valorização da renda de bilro de Florianópolis passou pela destinação de espaços para que esta produção seja feita coletivamente e possa ser vendida direto para os consumidores. O primeiro espaço criado na cidade com esta finalidade foi o Centro Cultural Bento Silvério, conhecido como Casarão da Lagoa.

A partir de 1987, segundo comenta Carin Heloísa Hahn da Silva Machado na obra “Desde o Tempo da Pomboca – Renda de Bilro de Florianópolis”, o local começou a oferecer Oficinas de Arte e Educação, com destaque para as aulas que ensinam a renda de bilro. Mas somente em 2010 o local se transformou em Centro de Referência da Renda de Bilro.

O segundo Centro de Referência – além dos espaços próprios para as rendeiras no Sambaqui e no Pântano do Sul, criados em 2011 – será lançado este ano no Mercado Público, local privilegiado do Centro da cidade. “Teremos ali os produtos e as rendeiras, assim como informações culturais e um audiovisual de exibição permanente com explicações sobre a história e os tipos de renda”, adianta o secretário municipal de Cultura, Luiz Moukarzel.

Depois da definição destes espaços e da exposição da produção local em eventos de referência fora de Santa Catarina (confira na linha do tempo), o momento atual é o da fabricação de embalagens e etiquetas para que os produtos sejam classificados como de referência.

Projeto prevê capacitação e fortalecimento do viés empreendedor das rendeiras

Após ler o edital do programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania, com seleção pública de projetos em 2012, as professoras da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Joana Stelzer e Marilda Todescat decidiram inscrever uma proposta de valorização para as rendeiras de Florianópolis. O projeto da Fepese nasceu no dia 16 de novembro de 2012 e, este ano, começa a sair do papel.

A proposta prevê a capacitação de 125 rendeiras com aulas divididas em oito módulos e começam a ser ministradas na próxima semana. Após a turma da Ponta das Canas, que terá a primeira aula no dia 10, será a vez das rendeiras do Pântano do Sul e da Praia da Armação participarem do projeto a partir do dia 12.

Rendeiras inscritas no Sambaqui e na Lagoa da Conceição ainda terão as datas para o início do curso definidas. Nesta segunda-feira, as artesãs atuantes na Praia do Forte serão apresentadas para a proposta em um café promovido pelas organizadoras do projeto. “Queremos melhorar a distribuição e a renda das mulheres, filhas e netas que produzem renda na cidade. Com isso, podemos contribuir para que a renda continue”, observa Joana Stelzer.

Após a assinatura do contrato pela Fepese com a Petrobras em março deste ano, o Departamento de Ciências da Administração da UFSC capitaneou a adequação dos conteúdos para o curso em oito coletâneas. “Esse material servirá de base para as aulas”, observa Marilda.

Entre os objetivos do projeto está o fortalecimento e a autonomia dos grupos de rendeiras. “Nosso primeiro desafio é unificar todas as rendeiras, porque a pulverização delas enfraquece o potencial de venda do produto. Neste momento estamos estudando a melhor forma de fazer isso, se seria com uma cooperativa ou uma associação”, explica Joana.

Site vai fomentar a exportação através do comércio justo

Paralelamente ao curso de capacitação, o projeto Rendeiras da Ilha prevê a criação de um site com um catálogo virtual de produtos que utilizam a renda de bilro. Em processo de elaboração, essa página na internet quer aproximar as rendeiras dos consumidores de outros países sem depender da visita deles nas lojas específicas da Ilha.

“Hoje as vendas em pontos de referência como a Lagoa e o Sambaqui são feitas de forma passiva porque dependem da visita dos turistas. O que queremos fazer é inserir a produção das rendeiras na exportação utilizando lojas de comércio justo fora do país”, adianta Joana Stelzer, uma das coordenadoras do projeto.

O próximo passo será contratar a consultoria de uma empresa de comércio exterior para procurar parceiros para estabelecer essa rede para a exportação da renda. Também estão sendo estudadas parcerias com a Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina, com a ArteSol (Artesanato Solidário) e com a plataforma Faces do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.

Previsto para durar dois anos, o Rendeiras da Ilha também vai identificar até 15 lideranças entre as rendeiras que vão fazer a capacitação para que seja desenvolvido um plano de negócios para a atividade. Está prevista também a doação de computadores, impressora e o acesso à internet para as rendeiras nos pontos de venda de referência na cidade.

Renda chega a todas as latitudes de dentro e de fora do país

Bem frequentados por turistas de dentro e de fora do país, os casarões com renda na Lagoa da Conceição e no Sambaqui estão acostumados a comercializar o produto para diferentes latitudes. Há três anos as rendeiras Maria da Glória Viana Soares, mais conhecida como Glorinha, Benta Maria do Amaral e Valdete de Jesus Lima, 80, recebem os turistas no Sambaqui com cantoria, capricho no trabalho de fazer a renda, muitas histórias e sorrisos.

De quinta-feira até domingo o espaço fica aberto para receber turistas como a francesa Justine Renard, 24, natural de Paris e que visitou Florianópolis por dois dias esta semana. Fascinada pela cultura de cada país que visita, Justine ficou impressionada com o trabalho das rendeiras.

“Incrível” foi a palavra mais utilizada pela francesa, que ficou hospedada na casa de Celina Rodrigues, 56, que mora no Kobrasol. A filha dela estudou na mesma cidade que Justine por um período. “Na França, não existe nada igual. Mas em Portugal, sim”, observou Justine.

Celina sempre leva os turistas que recebe em casa para visitar os pontos culturais da Ilha. No roteiro, inclui as rendeiras. “Do Brasil, recebemos pessoas de todos os lugares. Mas de fora do país, a maioria vem da Itália, do Portugal e da Bélgica”, conta Glorinha.

No livro de visitas do local, há registro de turistas dos Estados Unidos, Japão, Argentina, Nova Zelândia, China, Uruguai, Suécia, Eslováquia, Espanha, Chile, Holanda, Reino Unido, entre outros países.

Além das peças disponíveis no mostruário, as rendeiras trabalham com encomendas. “Já produzimos vestidos sob medida para São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Quando há uma encomenda grande, além das 10 rendeiras que fazem parte da associação, acionamos mais oito que produzem no bairro”, conta Glorinha.

A tecnologia das rendeiras

Confira os itens principais utilizados na confecção da renda de bilro, com que material eles são feitos pelas rendeiras experientes e o custo médio de cada item para quem decide comprá-los:

Caixas de madeira (chamadas também de caixote) ou cavalete: como se fosse o gabinete torre do computador. São utilizados para sustentar as almofadas. Normalmente são encomendados pelas rendeiras para carpinteiros. Fabricantes especializados destas caixas cobram R$ 70 pela unidade.

Almofadas: equivale ao monitor de um computador. Em formato de cilindro, são feitas com um metro de tecido de algodão e recheados de palhas de bananeira, barba-de-velho, capim colchão (itens mais comuns), serragem ou esponja sintética. Custa entre R$ 30 e R$ 50.

Bilros: equivalente ao mouse, são pequenas bobinas de madeira (geralmente do tipo rabo de macaco). Trabalhadas de par em par, custam R$ 25 a dúzia. Iniciantes podem trabalhar com duas dúzias, mas as peças mais elaboradas de renda exigem seis dúzias ou mais.

Pique: é a CPU da renda. Equivale ao molde ou gabarito utilizado na costura. Geralmente é feito de papelão-couro ou de papelão comum reaproveitado de caixas. No pique é que são furados, com agulha, os desenhos que servirão de base para o trabalho da rendeira. O alfinete de cabeça é utilizado para ajudar na confecção seguindo o desenho do pique.

Linhas: as preferidas pelas rendeiras são as de puro algodão com diversas espessuras. Cada linha custa a média de R$ 8 a R$ 8,50, mas comprando em atacado, a unidade pode sair a R$ 6,50 em média.

Fontes: renderias Maria da Glória Viana Soares, do Sambaqui, e Maria Rosa de Paulo, da Barra da Lagoa; catálogo Rendas de Bilro de Florianópolis do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e do Iphan.

Netas das artesãs voltam a se interessar pela renda

Poucas rendeiras tem paciência para passar adiante a arte da renda de bilro. Mas quem se dispõe a dar aulas, como as rendeiras Maria da Glória Viana Soares, conhecida como a Glorinha do Sambaqui, e Maria Rosa de Paulo, da Barra da Lagoa, não sentem falta de crianças e adultos interessados. Elas sempre tem turmas para ensinar.

Os projetos em desenvolvimento em Florianópolis para valorizar a atividade da renda de bilro procuram agregar valor à essa produção e, consequentemente, atrair mais jovens para a atividade.

“Trabalhando na identificação deste trabalho via mapeamento da produção, atuando em lojas específicas aumentando a possibilidade das vendas e dando visibilidade para a renda através do marketing, vamos motivar a nova geração a fazer aquilo que as mães e avós faziam”, projeta Luiz Moukarzel, secretário municipal de Cultura.

O projeto Rendeiras da Ilha, da Fepese com recursos da Petrobras, tem o mesmo objetivo. “Melhorando a distribuição e as vendas da renda, as filhas e netas das rendeiras vão se interessar pela atividade e fazer com que a renda continue”, projeta Joana Stelzer, uma das coordenadoras da proposta.

No ano passado, Glorinha teve o incentivo da Fundação Franklin Cascaes para ensinar a renda para duas turmas, uma que começou em julho, outra em novembro. Mas este ano ela não teve este apoio.

Segundo Moukarzel, os cursos estão em período de avaliação. “A formação tem que ser contínua e qualificadora. Estamos vendo convênios com algumas instituições para que ela possa ser mais permanente”, observou.

Segundo os cálculos de Glorinha, oito rendeiras dão aula na Ilha – ela é a única no Sambaqui. Ela foi procurada pela Caixa Econômica Federal, que estaria interessada em destinar recursos para um projeto de formação de rendeiras. Uma das ideias é que Glorinha ensine a fazer renda através de vídeos-aula.

Maria Rosa, raro exemplo de dedicação exclusiva à renda de bilro

A rendeira Maria Rosa de Paulo, 71, é um raro exemplo de empreendedora que conquistou muitos bens importantes para ela e a família através do dinheiro obtido com a renda. Referência em ensinar o trabalho com o bilro na Barra da Lagoa, Maria Rosa dá aulas há 20 anos. Atualmente, ensina o ofício para 18 alunas com idades entre 40 e 83 anos.

Ela aprendeu a fazer renda aos oito anos de idade com a madrinha – a mãe dela não tinha paciência, conta. “Na época era difícil encontrar bilro. Por isso fiz os meus primeiros com bambu”, recorda. Como as outras rendeiras de sua geração, Maria Rosa trabalhava na roça durante o dia e, à noite, fazia renda para comprar vestidos para os bailes.

Diferente das amigas renderias, ela não precisava vender a produção baratinho para comprar linha e seguir produzindo. “Meus irmãos me pagavam para eu passar roupa pra eles e, com aquele dinheiro, eu comprava as linhas. Daí eu fazia oito ou dez rendas e vendia o conjunto, conseguindo mais dinheiro e juntando o que recebia”.

Foi assim que ela conseguiu comprar o enxoval para o casamento, celebrado quando ela tinha 21 anos. O marido, pescador, queria mudar de vida, e Maria Rosa o incentivou. O dinheiro da renda de bilro e o da pesca fez com que o casal comprasse o primeiro carro, um Fusca. O veículo significou a migração do marido da pesca para a construção civil, com ele trabalhando como pedreiro.

Há 25 anos, Maria Rosa foi pioneira ao montar a primeira loja para a comercialização de renda na praia, ao lado de um restaurante. Ela vendeu bem para os turistas que forravam as praias no Verão e conseguiu, com o dinheiro da renda de bilro, comprar móveis para casa.

Após ver a renda sumir, Ilha de São Miguel reaprende a arte com rendeiras de Florianópolis

O local mais distante que Maria da Glória Viana Soares tinha visitado até abril deste ano havia sido o Recife, distante 3,3 mil quilômetros do Sambaqui, onde atua como rendeira. Isso até que ela foi, acompanhada de Maria de Lourdes de Jesus, da Lagoa da Conceição, ensinar a renda de bilro para 30 alunas da Ilha de São Miguel, nos Açores, que fica a quase 7,7 mil quilômetros da casa delas em Florianópolis.

“A renda de bilro veio de lá, mas ela não existia mais na Ilha de São Miguel. Por isso fomos convidadas pela Casa dos Açores para ficar por lá por um mês ensinando as pessoas que tinham interesse”, explica Glorinha. O grupo que se formou após o curso mantém contato com a rendeira do Sambaqui pelo Facebook. Pela rede social, eles já mostraram peças que estão criando, como um colar feito de renda.

Pelas manhãs, as aulas eram ministradas na cidade de Ponta Delgada e, à tarde, em Ribeira Grande. “Esse era um sonho que eu tinha, porque o meu bisavô veio de lá. Foi muito bonito, porque quando chegamos, eles estavam nos esperando com muita alegria. Parecia que a gente se conhecia há anos”, conta.

Além de resgatar a renda na Ilha de São Miguel, Glorinha trabalha para garantir a continuidade da renda na Ilha de Santa Catarina, ensinando descendentes da própria família e de outras rendeiras.

Depois de passar o conhecimento para duas de suas filhas, que não produzem renda atualmente, Glorinha ensinou duas netas, está passando os conhecimentos para a terceira, que tem sete anos, e dando aulas para outras crianças, como a neta de quatro anos de Benta Maria do Amaral.

Renda em evidência

Confira as ações de valorização desta produção em Florianópolis feitas pela Secretaria Municipal de Cultura, Programa de Promoção :

– 1987: o Centro Cultural Bento Silvério, conhecido como Casarão da Lagoa, começa a oferecer gratuitamente Oficinas de Arte e Educação para as comunidades. Uma das com maior destaque é a Oficina de Renda de Bilro;

– 2010: em março é lançado oficialmente o Centro de Referência da Renda de Bilro de Florianópolis, instalado no Centro Cultural Bento Silvério, em uma parceria da Secretaria Municipal de Cultura e o Promoart (Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural) do MinC (Ministério da Cultura);

– 2011: um grupo de rendeiras é levado para participar do Salão do Artista Popular do Rio de Janeiro e de feiras nacionais em outros Estados, como a Mercado Brasil de Rendas e Bordados, em Brasília;

– 2011: é inaugurado o casarão que abriga o núcleo das rendeiras do Sambaqui. No local, originalmente, funcionava o antigo posto de alfândega da localidade, que foi desativado em 1964 e, posteriormente, foi totalmente reformado pela prefeitura e cedido para a Associação do Bairro Sambaqui;

– 2011: instalado o núcleo de rendeiras do Pântano do Sul em imóvel reformado pela prefeitura e cedido para a Associação de Moradores do bairro;

– 2012: através da Fundação Franklin Cascaes, rendeiras participam de cursos de gestão e de exposições em eventos como o Açor, em São Francisco do Sul;

– 2012: o Fundo Municipal de Cultura garante a confecção de um site, de uma exposição e de uma pesquisa para livro tendo as rendeiras como temática central;

– 2013: formalizado o comodato para que as rendeiras tenham espaço garantido no Casarão do Sambaqui;

– 2013: uma parceria com o Sesc, a secretaria municipal de Cultura propicia que as rendas de Florianópolis sejam inseridas em exposição temática no Sesc Belenzinho, em São Paulo, que reuniu a produção de rendeiras de diversas regiões do país;

– 2013: parceria similar, mas com o Sebrae, garante que uma linha de produtos de um grupo de rendeiras participe da Vitrine Sebrae – feira de produtos artesanais no Beiramar Shopping;

– 2013: rendeiras de Florianópolis participam de um intercâmbio com rendeiras do Ceará e do Sergipe;

– 2013: é implantada uma loja no Casarão da Lagoa para escoar os produtos das rendeiras;

– 2014: em março a Fepese (Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas) assina contrato com a Petrobras para começar a desenvolver o projeto Rendeiras da Ilha. A capacitação envolvendo oito módulos de conteúdo começa a ser dada a partir do dia 10 de setembro e tem o objetivo de envolver, no total, 125 rendeiras de diferentes comunidades da Ilha;

– 2014: as rendeiras Maria da Glória Viana Soares, do Sambaqui, e Maria de Lourdes de Jesus, da Lagoa da Conceição, ministram entre os dias 27 de abril e 30 de maio oficinas de renda de bilro para 30 alunas na Ilha de São Miguel, em Açores, Portugal, em um projeto da Casa dos Açores Ilha de Santa Catarina. No dia da formatura, foi lançado o livro Desde o Tempo da Pomboca – Renda de Bilro de Florianópolis, posteriormente lançado na 21ª Açor em Florianópolis;

– 2014: instalação de um espaço próprio para a renda durante a 21ª Açor (Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina), promovida em agosto em Santo Antônio de Lisboa. O local utilizado foi a antiga sede da delegacia do bairro, reformada para abrigar a Casa das Rendeiras durante o evento;

– 2014: a secretaria municipal de Cultura assegura um espaço permanente para venda e valorização da renda de bilro no Mercado Público, com projeto do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis);

Fontes: assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Cultura de Florianópolis, obra Desde o Tempo da Pomboca – Renda de Bilro de Florianópolis, rendeira Maria da Glória Viana Soares, professoras Marilda Todescat e Joana Steizer, coordenadoras do projeto Rendeiras da Ilha

( Notícias do Dia Online, 07/09/2014)

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