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Taxistas reclamam que problemas no setor impedem o bom funcionamento do serviço em Florianópolis

Alvo de diversas denúncias nos últimos anos — que inclusive ensejaram pedido de cancelamento de 77 permissões de táxis—, os problemas do serviço na Capital vão mais além e chegam também aos taxistas. Eles reclamam que os problemas no setor não se resumem apenas às pequenas “máfias” que negociam as licenças. Falta de fiscalização, de reajuste da tarifa, de novos pontos, de segurança, de políticas que incluam o setor nos planos de mobilidade, entre tantos outros problemas, têm dificultado tanto o trabalho dos motoristas como o funcionamento do serviço na cidade. “O taxista é mal visto, o serviço é mal visto, mas a verdade é que não existe nenhum incentivo para a categoria”, alega o motorista auxiliar Marcelo Lohn, 45 anos, que há 23 anos circula na cidade.

Enfileirados na praça 15 de Novembro, um dos pontos mais movimentados da Capital, os passageiros pouco se importam quando um táxi de Itapema, Biguaçu ou Palhoça aparece para uma corrida. Mas cada vez que um táxi de outra cidade recolhe passageiros em Florianópolis, um taxista da cidade deixa de fazer o seu trabalho. “Os pescadores [carros de outras cidades] continuam trabalhando direto, as centrais clandestinas continuam operando e os carros executivos fazem serviço de táxi”, afirma o presidente do Sindicato dos Taxistas de Florianópolis, Zulmar de Faria.

Ele reclama que as denúncias que evidenciaram o mercado paralelo no serviço de táxi acabaram manchando o setor. “A maioria dos taxistas trabalha todos os dias honestamente, mas isso não é visto”, diz. Segundo Faria, dos cerca de 5 milhões de atendimentos feitos ao ano, apenas 250 reclamações são registradas na Ouvidoria da Prefeitura de Florianópolis.

Para muitos taxistas, a ineficiência e até mesmo a corrupção dentro do próprio Núcleo de Transportes da Secretaria de Mobilidade Urbana impede que o serviço seja bem-visto pela população. “Os fiscais passam todos os dias pelos pontos, mas ao invés de impedirem as ilegalidades que todos conhecem, se preocupam em multar os taxistas pela roupa, barba ou até mesmo se um luminoso não está aceso. Querem arrumar o sistema e não arrumam a própria casa”, reclama Lohn.

Fora dos projetos de mobilidade

O presidente do Sindicato dos Taxistas, Zulmar de Faria, aposta em uma integração do serviço aos projetos de mobilidade urbana da cidade. Nos próximos dias, a prefeitura deve anunciar nova licitação para o setor — e incluir mais táxis na praça —, mas a esperança de que mais carros possam suprir as deficiências do setor não é tão bem aceita pela categoria. “Pode colocar mil táxis na praça e quando chegar o horário de pico faltará carro, isso porque ficamos todos presos no trânsito”, diz o taxista Marcelo Lohn. “Queremos que o táxi também seja privilegiado com acesso a corredores exclusivos e outras possibilidades para facilitar a mobilidade”, emenda Faria.

Para os taxistas, antes de colocar novos carros na rua, a prefeitura deveria regularizar os pontos existentes. Muitos não comportam o número de carros destinados àquele ponto e por isso a necessidade de se criar novos pontos na cidade.

Sem reajuste desde 2012, o valor da tarifa é outra reclamação do sindicato. Atualmente, a bandeirada custa R$ 3,80 e o quilômetro rodado R$ 2, enquanto a hora parada R$ custa 10,70.

Por causa dos valores, não é raro encontrar taxistas que se neguem a, por exemplo, atravessar as pontes nos horários de pico. “Não compactuo que os taxistas neguem corrida, mas se no horário de pico eles levam duas horas para fazer uma corrida até o Continente e voltar, isso acaba não sendo compensador. O ideal é que a tarifa seja reajustada e o tempo da hora parada também”, diz Faria.

Nova licitação

Com o anúncio da cassação de 77 táxis — que ainda deve ser votado pelo Conselho Municipal de Transportes —, a necessidade de ampliar a frota da cidade se fará ainda mais urgente. No entanto, diferente do que promete a Prefeitura, que anunciou 200 novos táxis na licitação que deve ser lançada nos próximos dias, Zulmar de Faria defende o cumprimento da legislação municipal que determina um táxi para cada 800 habitantes.

Pelas contas do Sindicato, a cidade deverá receber 133 novos táxis. “Estamos brigando para que os taxistas sejam beneficiados e não como aconteceu nas outras vezes, quando médicos e advogados ganharam concessões”, afirma Faria. O incentivo aos taxistas profissionais deve vir pela pontuação por tempo de alvará na praça.

Segundo André Luiz Cúrcio, diretor de Operações da Secretaria de Mobilidade Urbana, a nova licitação está praticamente concluída. “A ideia inicial eram 200 novos táxis, mas esse número ainda não está fechado”, diz.

Além de novos táxis comuns, a licitação também deverá incluir o táxi executivo na cidade. Atualmente, Florianópolis dispõe apenas do serviço executivo de turismo, que não é táxi, pois as placas são fornecidas às empresas sem licitação.

Carros executivos

No Aeroporto Hercílio Luz, enquanto os táxis tradicionais da cidade, pintados de vermelho e azul, ficam enfileirados no desembarque, do outro lado os carros executivos de turismo fazem a mesma coisa. “O problema é que o carro executivo não é táxi, e eles não podem sair por aí pegando passageiros sem ter um voucher, ou esperando alguém específico”, diz um taxista do aeroporto que pediu para não ser identificado.

Discretos, mas alertas, os carros executivos fazem o trabalho de táxi em diversos pontos da cidade. Mas é no aeroporto que se pode medir o tamanho do problema de a Capital não ter táxis executivos regulamentados. “Normalmente eles vão dentro do aeroporto e perguntam se as pessoas querem táxi. Depois que encontram o passageiro vão para o carro e ficam com a corrida, enquanto nós, que somos carros oficiais, temos que ver sem poder fazer nada”, completa o mesmo taxista. O assunto já foi motivo de briga por duas vezes, quando taxistas se reuniram para espancar um dos motoristas dos carros executivos.

Segundo os taxistas, a fiscalização é ineficiente e “faz vistas grossas, porque os próprios funcionários do Núcleo de Transportes têm carros executivos”, denuncia o taxista do aeroporto. “Como eles vão fiscalizar se eles mesmos ganham com isso?”, completa.

Etore Pedro Fortunato, dono de um dos carros executivos que normalmente atende passageiros no aeroporto, se defende. “O aeroporto é o único que não tem serviço de táxi executivo, já tentamos diversas vezes criar um ponto aqui. Tem passageiros para todos, nós temos placas vermelhas e somos legalizados, e não ilegais como eles [os taxistas] dizem”, afirma.

Defesa da secretaria

Conforme André Luiz Cúrcio, diretor de Operações da Secretaria de Mobilidade Urbana, a fiscalização é atuante no aeroporto, mas os fiscais não podem, por exemplo, ficar no saguão para ver quem está pescando passageiros. Cúrcio diz que desconhece que funcionários da secretaria tenham carros executivos, e defende a categoria. “Para os taxistas todo mundo é pescador. Os executivos podem ir ao aeroporto, desde que tenham a corrida marcada. A fiscalização sempre pede aos executivos uma confirmação, caso contrário são autuados”, explica.

Michel Vargas, que também trabalha com carro executivo, diz que a prefeitura não oferece chances de trabalho aos cerca de 70 carros de turismo da cidade. “Nós só queremos poder trabalhar, somos carros de turismo e onde é que os turistas chegam? É no aeroporto”, defende o motorista que diz servir empresas e agências de turismo.

Apreensões de carros clandestinos

Segundo o setor de fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana, todos os fins de semana pelo menos três carros são apreendidos por realizar o serviço de táxi de forma clandestina. Mesmo assim, o setor de fiscalização tem dificuldades em atuar todos. “No caso da central clandestina, por exemplo, já estivemos lá, mas não posso autuar um carro dentro de uma propriedade e flagrar ele na rua é muito difícil”, afirma André Luiz Cúrcio.

Sobre os casos de arrendamentos, o diretor de operações diz que a fiscalização é mais difícil ainda. “Aqui para nós cada permissionário tem o seu táxi com todas as documentações em dia e é muito difícil de sabermos se o carro está ou não arrendado”, diz.

Em abril de 2011, o Notícias do Dia denunciou o esquema de arrendamento de placas na cidade, no qual poucas pessoas administram diversas permissões ao mesmo tempo. Médicos, dentistas, advogados, entre outros, que detêm uma permissão, acabam nunca dirigindo um táxi e por isso repassam a licença para um terceiro administrar por meio de contratos de gaveta.

BANDEIRADA

A frota de Florianópolis

258 táxis antigos (sem licitação)

221 táxis novos (licitados em 2010)

77 permissões com pedidos de cancelamento

Frota atual é de 479 veículos

Principais reclamações

Pescadores: Táxis de outras cidades que pegam passageiros em Florianópolis

Clandestinos: Carros de passeio que fazem serviço de táxi

Executivos: Carros de turismo que fazem serviço de táxi

Rotas: Falta de rotas exclusivas para fugir do trânsito

Rádiotáxi: Central está defasada e não atende todas as regiões da cidade

Fiscalização: Fiscais deixam de impedir ilegalidades no serviço

Tarifa: Último reajuste foi em 2012

(Notícias do dia, 10/07/2014)

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