O vento nordeste com rajadas de 35 nós (média de 65 km/h) incomodou, mas os olhos de Hubert Beck Júnior, 70 anos, brilharam ao acompanhar o vaivém dos catamarãs voadores na raia da baía Norte, onde ele próprio aprendeu a velejar e competir. “A cidade está precisando disso, e tomara que não seja apenas mais uma iniciativa isolada”, diz.
Saudoso das competições a vela nas baías Norte e Sul, o aposentado que viu de perto a transformação da cidade, era uma das 1,5 mil pessoas que passaram a tarde de sexta-feira junto ao trapiche da Beira-Mar. E viu de perto o desempenho dos oito barcos inscritos na oitava etapa do Extreme Sailing Series. “Este tipo de evento traz dinheiro para a cidade e estimula as novas gerações. Precisamos recuperar nossa cultura marítima”, defende.
O corretor de imóveis João Egydio da Silveira Neto, 52, também sempre admirou o colorido das velas no mar. Mas o que o mantém desde quinta feira na Beira-Mar é a possibilidade de bons negócios.
Para aproveitar a presença de competidores internacionais e a platéia de alto poder aquisitivo, ele e quatro colegas transferiram o escritório de uma das maiores imobiliárias da cidade para a principal avenida da cidade, com ofertas de imóveis de alto padrão. “Encontramos pessoas da Inglaterra, da Nova Zelândia e Estados Unidos, por exemplo. E fizemos bons contatos para futuras vendas”, garante.
Nem todos são otimistas. Também velejador veterano, Tarcísio Matos, 55, não acredita em resgate de cultura marítima. “Temos um baita potencial, as melhores raias do Brasil, grandes talentos, mas é só. Não existe cultura”, rebate.
Na opinião de Matos, o Extreme Sailing Series não deixará raízes em Florianópolis. “A cidade precisa de marinas públicas para abrigar barcos a vela”, completa. Em Florianópolis, segundo ele, a cultura náutica se resume à ostentação de quem navega em lanchas de luxo e pode pagar garagens náuticas.
Evento fortalece economia da cidade
Dentro da água, Florianópolis oferece o que os competidores mais querem – condições variadas para regatas em alto nível técnico. Em terra, a estrutura da montada para competição escondeu o acanhado trapiche da avenida Beira-Mar Norte e foi uma mostra do investimento da organização e das oito equipes: R$ 60 milhões.
O impacto econômico é de R$ 12,8 milhões em cada uma das sedes do evento, segundo François Vergnol, diretor comercial da OC Sport, a empresa organizadora. Para sustentar a temporada, a organização investe entre R$ 3,7 e 4,7 milhões nas sedes. “Nossa estimativa é de que as cidades movimentem mais de R$ 12 milhões por etapa”, afirma o francês.
Em 2013, o retorno de mídia obtido pelo circuito deve ultrapassar R$ 90 milhões. O aumento registrado a cada ano varia entre 15 e 40%. As imagens dos barcos voadores chegam a 54 redes de televisão, incluindo Channel 4 (Reino Unido), Eurosport, ESPN e Al Jazzera, entre outras que distribuem o material do Extreme Sailing Series para mais de 100 países.
Em Florianópolis, foram credenciados 100 jornalistas, entre brasileiros e estrangeiros. As regatas decisivas, neste domingo, terão transmissão ao vivo, entre 14h30 e 16h30, por canal fechado no Brasil. Vergmol ressalta a presença de mais de 120 mil espectadores na etapa de Cardiff, País de Gales. A média do ano tem sido de 45 mil pessoas em cada arena, ao longo dos quatro dias de evento. Na Capital, este número deve ficar em 15 mil espectadores, entre quinta feira e domingo.
Arena é forma de aproximar platéia
Apesar do aspecto comercial do circuito, a regata mantém um conceito particular. “Em vez de levarmos o público à vela, trazemos a vela ao público”, diz François Vergmol. “Queremos criar aficionados, como existem no futebol, na Fórmula 1 e no tênis”, completa o francês.
Uma das missões sociais do Extreme Sailing Series, ressalta Lars Grael, capitão da equipe brasileira na regata, é expandir a prática da vela a regiões sem cultura náutica. “Florianópolis tem enorme potencial, excelentes raias, e não poderia ficar à margem”, diz.
A criação de arena para organização do evento, segundo o velejador, é uma das formas não só de garantir retorno comercial ao evento. Mas, principalmente despertar o interesse das novas gerações pelo esporte. “Ganham os velejadores e organizadores. E ganha a cidade”, resume Grael.
Apesar do sucesso técnico e comercial, a volta do circuito a Florianópolis em 2014 não está garantida. “Ainda não temos definição, mas há grandes chances de estarmos aqui novamente”, confirma o diretor da OC Sport.
O grupo fixo da organização do Extreme Sailing Series é de 50 profissionais, além de outros 70 entre velejadores e equipes de apoio. Agências locais parceiras da OC Sport, segundo François Vergmol, contratam em cada cidade a média de outras 100 pessoas.
Extreme Sailing Series
Período: março a novembro
Sedes
Muscat (Omã)
Singapura (Singapura)
Oingdao (China)
Porto (Portugal)
Cardiff (País de Gales- Reino Unido)
Nice (França)
Florianópolis (Brasil)
(ND, 16/11/2013)
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