Um sistema de mobilidade urbano eficaz e sustentável deve estar inserido em uma cidade que também seja pensada de forma sustentável. Os fatores que circundam esta questão foram discutidos ontem, em Florianópolis, durante o “Seminário de Meio Ambiente – Os Desafios de Santa Catarina no Brasil de 2020”, que também será realizado em Joinville e Chapecó, nos dias 16 e 24 deste mês, com apoio do Grupo RIC.
Priorizar pedestres, ciclistas e veículos não motorizados é essencial para melhorar a mobilidade, mas deve-se buscar um meio-termo entre todas as formas de locomoção. “As cidades estão em grande expansão e é necessária uma perspectiva de equilíbrio, com políticas e ações de transporte público eficazes a longo prazo”, comenta Valério Medeiros, pesquisador, arquiteto e professor do Centro Universitário Unieuro.
Segundo ele, as relações urbanas são importantes para compreender a necessidade em traçar um conjunto de estratégias das ocupações espaciais. Pensar em mobilidade implica diretamente em pensar em como é a forma física da cidade. “Em Florianópolis, o crescimento urbano foi tão avassalador quanto em outras capitais. A inação pública causou uma fragmentação, produzindo espaços que são cada vez mais labirínticos”.
Somente o setor de transportes é responsável por 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, segundo Rafael Sindelar Barczak, arquiteto e urbanista, mestre pela PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica). Nos países desenvolvidos, o transporte público individual é prioridade, mas há um equilíbrio com as outras formas de locomoção. Por isso, segundo ele, é necessário aproximar a população do poder público, a fim de tomar medidas integradas que gerem impactos a longo prazo.
Responsável pelo Processo Aqua, certificação concedida a construções sustentáveis, Bruno Casagrande aponta que a construção civil consome 50% dos recursos naturais, 8% de toda emissão de dióxido de carbono (CO2) no mundo e é classificada como a grande vilã quando se fala em sustentabilidade. Mas, segundo ele, é possível construir pensando no meio ambiente. O Processo Aqua certificou 173 edifícios no Brasil com o selo de qualidade ambiental. Destes, 127 ficam em São Paulo e nenhum em Santa Catarina. “O Estado tem grande potencial, mas ainda não acordou para esta realidade”, comenta ele.
Pesquisa para criar um Plano Diretor de Mobilidade Regional
Para o prefeito Cesar Souza Júnior, Florianópolis tem um dos patrimônios naturais mais belos do mundo e, para manter isso, a estratégia de desenvolvimento deve ser pensada em conjunto com o meio ambiente. “A cultura do concreto afasta o indivíduo do contato com a natureza. Para não acontecer isso, fazemos uma série de iniciativas como as ciclofaixas de domingo em Coqueiros, o projeto de aluguel de bicicletas e o novo Plano Diretor”.
Para fornecer dados atuais de planejamento a médio e longo prazo e criar um Plano Diretor de Mobilidade Regional, a SC Participações e Parcerias (SCPar), em convênio com o BNDES e outras 50 entidades, conduzirá uma pesquisa de Demanda-Origem-Destino abrangendo os 13 município da Grande Florianópolis. Um estudo sobre mobilidade não era realizado desde 1978 na Capital.
O estudo será realizado em 5 mil domicílio a partir de janeiro para entender padrões de mobilidade da população. Guilherme Medeiros, coordenador técnico do projeto, explica que a pesquisa será feita durante 12 meses e o resultado estará disponível para toda a população.
Depoimentos
Gean Loureiro, presidente da Fatma (Fundação do Meio Ambiente)
“Hoje, todas as secretarias da Prefeitura estão preocupadas em discutir o meio ambiente. Por isso, é importante a preservação de locais como o Parque do Rio Vermelho e a Serra do Tabuleiro”.
Marcello Corrêa Petrelli, presidente executivo RIC SC
“O Grupo RIC aborda de forma contínua a discussão em torno da preservação do meio ambiente e da qualidade de vida da população”.
Cesar Souza Júnior, prefeito de Florianópolis
“Qualquer tentativa de crescimento deve estar aliada ao meio ambiente. Não dá mais para deixar a cidade crescer de qualquer jeito e depois o poder público correr atrás do prejuízo. É preciso fazer o caminho inverso”.
Paulo Bornhausen, Secretario de Desenvolvimento Econômico Sustentável de SC
“Para acharmos o equilíbrio de qualidade de vida catarinense, é preciso ter uma visão de longo prazo com ações de curto prazo, com capacidade técnica para encontrar soluções “.
(ND, 10/10/2013)