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Contradições sobre a mobilidade

Artigo de Jéferson Dantas, professor e historiador (ND, 20/08/2013)
No momento histórico em que se debatem os limites da ocupação urbana de Florianópolis, com diversos estrangulamentos viários e a continuidade da especulação vertiginosa do capital mobiliário, o governo do Estado discute a construção de uma quarta ponte de integração Ilha-Continente. Curiosamente, tudo isto ocorre na mesma semana em que o prefeito da cidade percorreu de bicicleta o trajeto da prefeitura até a sua casa no bairro João Paulo. Evidentemente, o prefeito pôde comprovar as enormes dificuldades que os/as ciclistas enfrentam com ruas esburacadas, ausência de ciclovias, iluminação pública precária etc. Não sem razão, o geógrafo britânico David Harvey considera que os desenvolvimentos geográficos desiguais nas médias e grandes metrópoles contribuem, decisivamente, para que apenas uma parcela da sociedade usufrua dos bens sociais e culturais da cidade, o que não é diferente na capital catarinense.
Florianópolis continua sendo pensada, nesta direção, para uma única classe social, e não é possível discutirmos os processos de produção e reprodução dos bens econômicos da cidade sem considerarmos quem são os seus verdadeiros beneficiários. As “jornadas de junho”, como ficaram conhecidas as grandes manifestações de rua em nosso país, problematizaram questões centrais em diversos setores (saúde, educação, infraestrutura viária, gratuidade do transporte coletivo, bens culturais de fácil acesso), mas os poderes públicos constituídos continuam governando de costas para a população.
Nos termos da urbanista Ermínia Maricato, a desigualdade social no Brasil – a maior da América Latina –, associada a uma política patrimonialista transversalizada pela “política do favor”, reflete-se na maneira como nossas cidades foram erigidas; ou seja: há uma cidade formal destinada a ser “simulacro de imagens-retalho do primeiro mundo” e uma cidade informal construída pela classe trabalhadora, geralmente em áreas ambientalmente frágeis ou adquiridas em loteamentos ilegais. Esta força de trabalho que se esgueira nas periferias das periferias, segregada e incluída de forma desigual na “cidade legal”, é fonte inesgotável do arcaico clientelismo político, já que permanecem as práticas nefastas de se trocar votos pela pavimentação de uma rua, pela iluminação pública, por postos de saúde, linhas de ônibus, e assim por diante.
Fica-nos as seguintes questões: Florianópolis necessita de uma quarta ponte de integração? A população fará parte deste debate? A quem interessa mais viadutos, pontes e transportes individuais? Ora, num Estado que se vangloria de trazer uma empresa automotora transnacional como grande iniciativa econômica, que gera pífios empregos diretos, não são de estranhar tais escolhas políticas.

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