Artigo de Nelson Saraiva, arquiteto (DC, 12/06/2013)
Os lugares marinhos catarinenses e seus desafios impuseram aos cerca de 40 arquitetos urbanistas do Instituto Silva Paes a criação, em 2010, do Projeto Vita et Otium. O objetivo a alcançar é a celebração desenhada da vida litorânea articulada às serras e da sua decantada vocação ao ócio. Buscamos por meio de exercícios físico-espaciais propositivos, derivados desse novo olhar, aprofundar as escalas global e local. Devemos pensar o futuro espacialmente integrado da Grande Florianópolis, como parte da metrópole litorânea conurbada e linear, em acelerada construção sobre a BR-101.
Devemos especular sobre as identidades de cada uma dessas cidades, que repetem tecidos urbanos nada inventivos e danosos – à conservação da paisagem natural e à diversidade da paisagem construída. As decisões municipais individualizadas dificultam a concepção de uma macroestrutura territorial e urbana e, principalmente, de uma estratégia de sustentabilidade a ser implementada.
Entre as propostas do Projeto Vita Et Otium para o Litoral-Centro, constam a Via das Etnias, interligando as cidades de Rancho Queimado e Canelinha; a relocação da BR-101, deslocando o tráfego internacional, nacional, regional e estadual do leito atual para a nova alça de contorno da Grande Florianópolis; a Boulevard Verde Continental, no antigo leito da BR-101, constituindo a principal centralidade metropolitana; a Boulevard Verde Insular, sobre a SC-401 e SC-405, ligando Ingleses ao Campeche, com a instalação de transporte coletivo eficiente. Esses eixos unidos pela Via Expressa conformam uma estrutura urbana metropolitana em “H”, identificada pelo Plano Participativo de Florianópolis.
Também propomos a criação da Estação Rodoferroviária junto à BR-101 relocada, articulada às centralidades metropolitanas (por transporte coletivo eficiente). O uso de modais náuticos complementaria a estrutura urbana metropolitana em “H”, reorientando os fluxos rodoviários e descomprimindo o trânsito junto às cabeceiras das pontes: ferryboats ligariam Ilha-Continente – integrados a linhas regulares de transporte coletivo ligando as localidades –, de Biguaçu a Canasvieiras, na Baía Norte; e Palhoça-Aeroporto, na Baía Sul.
O teleférico seria uma das soluções de transporte coletivo entre o continente e a Costa Leste da Ilha, com estações na BR-101, aterro da Baía Sul, Morro da Cruz, UFSC, Morro da Lagoa e Joaquina, servindo aos habitantes locais e à clientela turística, que, estacionando carros e ônibus na BR-101, inauguraria um modo sustentável de entrar na Ilha.
Além disso, pensamos em novo aeroporto internacional na planície de Tijucas, relacionando o Litoral-Centro aos interesses da conurbação litorânea; Porto Turístico Flutuante no fundeadouro histórico, em frente ao novo aeroporto, equipado com estares e restaurantes, na cota perfeita ao atraque de naves turísticas – sem abertura de canais e problemas com os golfinhos, a proposta renovaria a minguada frota de transporte náutico da região.
Propomos ainda o planejamento urbano da Pinheira, como denso lugar turístico referencial, integrando e reforçando a presença dos corredores ambientais, articuladores da nova cidade com o Parque do Tabuleiro; planejamento do promontório de Ganchos, através de ocupações mais leves e equilibradas, valorizando sua invulgar paisagem natural; nova centralidade metropolitana de São José e área conurbada; planejamento das novas centralidades de Biguaçu e Palhoça, reforçadas por constituírem os acessos principais norte-sul do Boulevard Verde Continental; planejamento do Belvedere Cambirela; e Point Gastronômico na Enseada de Brito.
Idealizaram e coordenaram o Projeto Vita et Otium os arquitetos Michel de Andrado Mittmann, Enrique Hugo Brena e Nelson Saraiva.