Quem tinha agilidade nas pernas corria da polícia. Quem não tinha brigava pelas mercadorias. O centro histórico era assim quando Ângela Amin assumiu a Prefeitura da Capital, em 1997. Para solucionar a rixa dos ambulantes, que volta e meia discutiam com os comerciantes do Mercado Público, a prefeita cedeu um terreno e uma lona para que famílias estruturassem o comércio. Nascia o Camelódromo Centro Sul, pago com o dinheiro dos que ocuparam os boxes. Porém, Ângela ofertou algo que não lhe pertencia: as terras da União, que agora exige o espaço.
Com sentença dada pelo juiz federal Hildo Nicolau Peron, os camelôs devem desocupar o prédio nos próximos sete dias. Ontem, às 16h20, o prefeito Cesar Souza Júnior entrava apressadamente na sala do juiz para negociar um novo prazo e um novo método de desocupação, menos bruto. E para evitar o desemprego das 158 famílias que lá trabalham.
A reunião foi informal, e o juiz não se posicionou. Mas ciente da máxima de que “toda sentença é imutável, mas passível de recursos”, Cesar trata com a União a transferência da posse do terreno para o município. O pedido é para que a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) abdique o uso da área por 20 anos.
Atualmente, a prefeitura não tem autorização nem para limpar o local. O prefeito está tão esperançoso que fala “em uma semana” para que o trâmite se realize. E já antecipa os primeiros passos: limpar, cercar, trocar o asfalto velho e iluminar o terreno. Se tudo correr como o esperado, no próximo mês será aberto o processo licitatório para a revitalização da área de 32 mil metros quadrados, um projeto audacioso que pretende transformar a imagem do Centro.
O Centro também será revitalizado com a verba federal do Pacto pelas Cidades Históricas, R$ 20 milhões, para reforma do Mercado Público, Largo da Alfândega e Casa de Casa de Câmara.
Em 1978, em co-autoria com Burle Max, o arquiteto e urbanista José Tabacow assinou o projeto do aterro da Baía Sul. Agora, após 35 anos, Tabacow é designado para repensar a estética da área e remodelar a Baía Sul. Desafio que divide com o arquiteto Cesar Floriano.
Na planta já é possível visualizar a união do Centro ao mar através de uma grande plataforma – e de R$ 10 milhões que serão desembolsados do município para execução do parque, que será cortado por uma passarela que inicia com quatro metros de altura, cobre o Camelódromo e chega a 6,5 metros, sobre um grande auditório, restaurantes e lanchonetes. Ao redor haverá jardins, quadras de futebol e vôlei e pistas de skate e para corridas e pedaladas.
Parque deve estar pronto em três anos
Nagila Rabello, 48 anos, foi uma das primeiras a carregar a barraca das mercadorias até o novo prédio, hoje chamado Camelódromo Centro Sul. Era 31 de dezembro de 1997. Grávida de oito meses, Nagila não poupou esforçou para efetuar a mudança que representava estabilidade.
Mas o vai e vem das muambas entrou em trabalho de parto. Os trabalhos do camelódromo começaram assim, com água de mulher e choro de criança: Joarle, hoje com 16 anos.
Para que estas famílias não saiam dali, Cesar Souza Júnior negociou um prazo de três anos – estima-se que o parque fique pronto neste período –, mas foi negado. Fontes do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) informaram que a superintendente do Patrimônio da União, Isolde Espíndola, definiu que as famílias poderão ficar no terreno por mais 18 meses.
Como há boxes livres, a ideia do prefeito é realocar as sete famílias que trabalhavam no Direto do Campo (demolido em abril) no Camelódromo. Quando o parque for inaugurado, as famílias poderão concorrer à licitação por vagas no centro popular, coberto pela passarela.
Dados do aterro
– Projeto original do aterro, que pertence à União, foi assinado pelo arquiteto Roberto Burle Marx, em 1978. Ele previa uma grande área verde de lazer.
– Em 1997, uma parte do aterro foi ocupada pelo Camelódromo Centro Sul, Direto do Campo e estacionamento da Comcap.
– No início deste ano, o estacionamento foi desativado. Em abril, o Direto do Campo foi demolido.
– O prazo para os comerciantes deixarem o Camelódromo vence no dia 4 de julho.
– Para revitalizar a área de 32 mil metros quadrados, a prefeitura tem projeto de construir um parque público, com auditório, restaurantes e lanchonetes, jardins, quadras de futebol e vôlei e pistas de skate e para corridas e pedaladas.
(ND, 26/06/2013)
Área é pensada para o lazer
O projeto de parque público de autoria do paisagista Roberto Burle Marx, engavetado há 35 anos, inspirou arquitetos da prefeitura sobre o que fazer com o terreno quase desocupado do aterro da Baía Sul, em Florianópolis.
A área de 32,7 mil metros quadrados está em processo de desocupação desde o início do ano, quando o Direto do Campo e o estacionamento foram demolidos. A nova ideia para o local foi apresentada pela primeira vez na tarde de ontem, em reunião da prefeitura com a Justiça Federal.
O espaço projetado por Burle Marx, em 1978, inspirado no aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, trazia quadras de esporte, canchas polivalentes, espelhos d’água e mais de 2 mil árvores. A proposta, porém, nunca chegou a sair do papel. Mas ganhou um novo rosto pelas mãos do arquiteto César Floriano, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), estudioso das obras de Burle Marx durante a tese de doutorado que apresentou na Universidade Politécnica de Madri. Durante os dois meses de trabalho, Floriano teve a ajuda do co-autor do projeto original, o arquiteto José Tabacow.
As obras começariam no segundo semestre
Na nova proposta, o aterro também ganha quadras esportivas, pista de skate, espaço para corrida e caminhada, jardins e até uma passarela suspensa de 200 metros de comprimento e seis metros de altura que conectará o terreno até o mar – passando ao lado do Centrosul e adentrando o mar. Debaixo dela será construída uma área física que oferecerá serviços básicos à população, como caixas eletrônicos, banheiros públicos, floricultura, banca de revistas, farmácia, praça de alimentação e até um espaço para cerca de 180 boxes – cujos comerciantes serão conhecidos por meio de licitação.
– Aquela área já nasceu como parque público. Mas como fugiu muito do projeto original, fica impossível de restaurá-lo. Então, fizemos uma releitura.
O projeto depende da autorização da Secretaria de Patrimônio da União, que cederá o uso da área à prefeitura. Segundo o órgão, não há impedimento, mas é preciso analisar o projeto. A prefeitura prevê o início da obra para o segundo semestre deste ano.
(DC, 27/06/2013)
Ônibus ocupam local irregularmente
Enquanto a obra da revitalização da Baía Sul não sai do papel, a região volta a ser ocupada, mas de maneira irregular. Na manhã de terça-feira, foram encontrados 16 ônibus municipais e intermunicipais parados, como conferiu a equipe do DC.
O secretário municipal de Transportes, Mobilidade e Terminais, Valmir Piacentini, informou que iria apurar o caso e instruir os empresários a manter a área desocupada.
O procurador-geral do município, Julio Cesar Marcellino Júnior, explica que a prefeitura vai requerer a área para iniciar a revitalização. A responsabilidade do terreno estaria com a União. O procurador-geral afirma que foi solicitado à Superintendência de Patrimônio da União (SPU) uma posse precária, que ainda não teria sido concedida.
Segundo Marcellino, isso permitiria que a prefeitura realizasse a limpeza e a segurança, feita pela Guarda Municipal. Já a SPU afirma que concedeu a permissão há mais de um mês.
Tanto o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros da Grande Florianópolis (Setuf) como o Departamento de Transportes e Terminais (Deter) reforçam que não orientaram os motoristas a estacionarem no local e que a iniciativa deve ter partido dos próprios motoristas das empresas.
A equipe do DC também flagrou usuários de crack na área. O secretário municipal de Segurança e Defensoria do Cidadão, Raffael de Bona Dutra, garantiu que no próximo mês estas pessoas serão retiradas das ruas e receberão tratamento.
(DC, 27/06/2013)