A matéria-prima é das melhores. Dunas, costões, mangues, Lagoa da Conceição, Ponte Hercílio Luz e o mar, que forma os mais variados tipos de praia, além da mata atlântica, que preenche os contornos das montanhas que cercam a cidade. Permitir que as belezas naturais coexistam de forma harmônica com uma cidade que deve chegar a 800 mil habitantes é o desafio do arquiteto Dalmo Vieira Filho.
Ele foi o homem escolhido pelo prefeito Cesar Souza Junior para assumir a Superintendência do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). Como consequência, vai montar o Plano Diretor, conjunto de leis que planeja a cidade para os próximos 20 anos.
A proposta está sendo debatida com entidades empresariais, de comércio, movimentos sociais e os moradores dos bairros. A prefeitura informa que irá garantir o cuidado de falar direto com a população para evitar que grupos de pressão, mesmo em minoria, consigam fazer valer a vontade deles em detrimento do interesse coletivo em Florianópolis.
O resultado de todo o trabalho está previsto para ser entregue à Câmara de Vereadores na última semana de setembro. O cronograma inclui muitas discussões para que sejam feitos poucos ajustes pelo Legislativo. O secretário explica que o principal objetivo do Plano Diretor é dar qualidade a Florianópolis e, para isso, foram definidas três premissas: equilíbrio social, meio ambiente e patrimônio. Este conceito vai se materializar acima de tudo nas regiões escolhidas para abrigar os futuros moradores da cidade. Segundo Dalmo, serão criados centros urbanos locais autossuficientes.
Confira as principais alterações propostas:
1 – Recuperação do Centro Histórico:
Hoje o Centro de Florianópolis morre a partir das 20h. A proposta permite que comerciantes coloquem mesas nas ruas depois de certo horário para aumentar a permanência das pessoas. A intenção é criar um círculo em que lojas abram até mais tarde, fomentando o retorno a locais onde a cidade pulsava décadas atrás. Outra linha é fazer mais gente morar no Centro, criando demandas por comércio e serviços.
2 – Transporte Marítimo:
Soluções para a mobilidade passam pelo mar. Mas não bastam balsas a preços acessíveis porque a iniciativa não dura sem passageiros. Por este motivo, o Plano Diretor defende que São José, Palhoça e Biguaçu também incentivem concentrações de pessoas em bairros pré-determinados. O trabalho seria possível a partir de projetos para soluções metropolitanas, como o governo do Estado vem operando.
3 – Elevador:
Somando-se ao projeto de valorizar o entorno da Ponte Hercílio Luz está a construção de um elevador ligando o ponto de ônibus para quem chega à Ilha pela Senhora de Aço com o centro da cidade. O elevador também serviria aos passageiros que desembarcariam das barcas em um píer. O equipamento permitira acesso ao Centro de Florianópolis e teria a metade da altura do Elevador Lacerda, de Salvador.
4 – Valorizar a Ponte Hercílio Luz:
Em recente pesquisa, a Ponte Hercílio Luz foi considerada o principal cartão postal de Santa Catarina. O Plano Diretor trata as imediações dela como um presente da natureza e paralelo somente ao entorno do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Os projetos tiram o máximo proveito dos terrenos próximos às duas cabeceiras da ponte, com extensas áreas verdes intercaladas por cafés, confeitarias e restaurantes.
5 – Transporte coletivo terrestre:
As diretrizes estão fixadas: o pedestre será o protagonista do trânsito e o transporte público, valorizado. Mas a maneira de colocar em prática depende de um plano de mobilidade para a Grande Florianópolis. O plano inclui três corredores de ônibus na SC-401, outro ligando a Baía Sul, Beira-Mar e o contorno da UFSC e uma via rápida no continente. Veículos menores fariam o transporte em áreas como a Trindade.
6 – Altura do prédios:
Entre as singularidades de Florianópolis está um cenário de montanhas. Preservar a característica é preocupação do Plano Diretor porque permite um horizonte diferente à medida que o indivíduo avança pela cidade. Sem conseguir perceber as diferenças criadas pelo relevo, o observador tem um cenário monótono. Isto será levado em conta na hora de definir a altura que os prédios poderão ter no futuro.
7 – Para onde a cidade vai crescer:
Um dos pilares do Plano Diretor é a criação de áreas de centralidade, com maior número de moradores em locais que ofereçam mais serviços. Assim os deslocamentos se tornam menos frequentes. O caminho do crescimento no Norte é ao longo da SC-401. Mas ainda há bastante espaço a ocupar no final da rodovia onde hoje existe o Canto do Lamim. O Sul sofrerá uma mudança considerável com o novo acesso ao aeroporto, com construções na Tapera e no Campeche. No Leste e Continente, há pouco espaço para crescer.
8 – Moradia popular:
Desejada por todo o país, Florianópolis se tornou tão cara que muitos mradores acabam se mudando para cidades vizinhas, como São José e Palhoça. O Ipuf entende que hoje vigora o capitalismo mais primitivo e o Plano Diretor vai estipular que para construir é preciso reservar áreas para moradias populares. A estratégia é que cada ponto de concentração urbana seja acompanhado deste tipo de imóvel, porque não é bom que trabalhadores precisem de grandes deslocamentos.
9 – Incentivo as bicicletas:
Fechar um circuito de ciclovias que liga a UFSC, a UDESC e o Centro de Florianópolis está na proposta do Plano Diretor. A intenção é que a bicicleta não seja somente lazer, mas meio de transporte. Também é estudada a oferta de bicicletas para aluguel, como em Paris. Nos fins de semana, prevê-se um circuito do Cacupé ao Continente e faixas da Beira-Mar e de Coqueiros seriam fechadas aos domingos como ciclovias.
10 – Baía sul:
A intenção é levar o CentroSul e a Passarela Nego Quirido para o Saco dos Limões, substituindo-os por um grande parque. A rodoviária iria para São José, onde fica a Ceasa. A estação de tratamento também deixaria o Centro, dando lugar à área verde de frente para uma marina. Um prolongamento da Praça XV até o mar contaria com um empreendimento com prédios comerciais.
(DC, 15/06/2013)
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