Produtores de ostras e mariscos não sabem o que fazer agora com um quase 1 milhão de dúzias que abasteceriam a festa
O cancelamento da 14a Fenaostra pela prefeitura de Florianópolis, inicialmente prevista para começar amanhã, criou uma situação inusitada para os produtores de ostras e mariscos: o que fazer com os moluscos que seriam servidos nos 10 dias do evento. Eles buscam alternativas para vender quase um milhão de dúzias.
O presidente da Associação de Maricultores e Pescadores do Sul da Ilha (Amprosul), Ademir Dário dos Santos, avalia com os associados a possibilidade da venda direta com preço reduzido.
– Estamos sem saber o que fazer, vendo a possibilidade de vender a ostra na praia – disse Santos.
A Amprosul envolve mais de cem produtores que sentem as consequências. Em reuniões, produtores discutem a possibilidade de manter o evento em 2013. A ideia é obter apoio da próxima gestão da prefeitura para manter a festa.
O presidente da CoperOstras e da Associação Sul da Ilha de Maricultores (Asimar), Henrique da Silva, reclama que os associados não foram avisados pela prefeitura sobre o cancelamento e que até os últimos dias as famílias dos maricultores estavam empenhadas na produção e preparação das ostras gratinadas.
– No primeiro adiamento, a prefeitura confirmou a festa. Investimos. Depois, nem fomos avisados (do cancelamento), fomos avisados pela imprensa – disse Silva.
Grandes compradores acertam com antecedência
O presidente da Associação dos Maricultores do Sul da Ilha, Klaus Ferreira, explica que os moluscos são vendidos no Ribeirão da Ilha entre R$ 4 e R$ 6 a dúzia. Para o atacado, o preço fica em média por R$ 4. Com o cancelamento, torna-se difícil vender o estoque, pois os grandes compradores têm os negócios acertados previamente.
Segundo a prefeitura, o cancelamento da festa é por falta de repasse dos governos estadual e federal. A Secretaria de Estado do Turismo, em nota, informou que o dinheiro não foi liberado porque a prestação de contas da festa de 2011 apresenta irregularidades.
Produção para a festa
l Aumenta em sete a oito vezes a produção normal do ano
l Ostras podem ficar armazenadas na água até o verão, mas aumentam de tamanho e perdem volume
l Ostras já preparadas e gratinadas podem ser congeladas por até dois meses
(DC, 23/11/2012)
Entidade organiza evento
Na Asimar, produtores tentam organizar um evento particular entre 7 e 9 de dezembro, no Ribeirão da Ilha. A ideia é vender o molusco “in natura” e ostras gratinadas no clube de futebol Canto do Rio. Segundo o presidente da entidade, Henrique da Silva, a liberação do evento ainda depende da autorização da prefeitura e de recursos. A intenção é reunir todas as associações e artesões e vender os produtos a custo menor do que na Fenaostra.
Entre os apoiadores da ideia está a empresa de São Paulo, escolhida por licitação, que faria a organização do evento. O produtor Luciano Serpa lembra que tentou até o último momento viabilizar a realização junto com parceiros. A empresa analisa como vai reverter o capital investido e se coloca à disposição para organizar uma festa particular como a da Asimar.
– Meia dúzia de ostra gratinada seria vendida por R$ 16 na Fenaostra. Agora, vamos vender a dúzia por R$ 15 – cita Silva.
Fora de época, animal perde 50% do volume
Nesta cadeia de prejuízos, nem com a queda dos preços do molusco o consumidor poderá levar vantagem. O engenheiro agrônomo Alex Alves dos Santos, da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), explica que a melhor época para o consumo da ostra é outubro. A partir daí, o molusco entra na fase de desova e perde cerca de 50% de volume.
– Perdemos também o circuito de turistas que frequentam a região nesta época. Agora não teremos para quem vender esta ostra – avalia Alex dos Santos.
Empresários do ramo gastronômico também lamentam o cancelamento do evento, que, para eles, serve de divulgação da região em todo o país. O proprietário do restaurante Rancho Açoriano, Dário Gonçalves, que participa da Fenaostra desde a primeira edição, lembra que o evento envolve direta e indiretamente mais de 5 mil pessoas e traz rendimentos para toda a cidade.
– O Brasil todo divulga nossa ostra, isso é uma vergonha para Florianópolis – disse Gonçalves.
(DC, 23/11/2012)