Dejetos lançadas no rio demonstram desleixo da população, falta de saneamento básico e ausência de fiscalização
Nadar e pescar nas águas do rio Tavares são atividades extintas. Os peixes, há muito foram expulsos pelo despejo de esgoto e lixo. A cor escura e o mau cheiro denunciam o estado alarmante do rio, vítima do desleixo da população e da negligência das autoridades. Para tentar salvar o que resta do rio que dá nome ao bairro, lideranças locais pedem socorro aos órgãos públicos. Limpeza, desassoriamenrto e retirada de casas das margens são algumas das providências que “amenizariam”, a princípio, a destruição do rio, que mais se parece com um cemitério.
“Não é mais rio e sim uma vala”, lamentou João Nazareno Bilck, presidente do Conselho Comunitário da Fazenda do Rio Tavares. Nas proximidades da ponte, na SC-405, onde está um dos pontos de maior ocupação desordenada, a altura máxima da água é de um metro. “A situação é caótica. Algo precisa ser feito, com urgência”, alertou o presidente, sobre acúmulo de lixo e esgoto. Bilck lembrou ainda que em dias de chuva as ruas próximas ao local alagam facilmente. Além da situação ambiental preocupante em que se encontra a região, o presidente alertou que com a aproximação da estação das chuvas, os riscos de enchentes aumentam. “O lixo dos quintais vão para dentro do rio. Acredito que o Ministério Público deva ser acionado”, disse.
Um cemitério de bicicletas
O espanto de João Nazareno Bilck aumentava a cada novo item que o morador Márcio Nicolau Marcelino, 34, retirava do leito do rio Tavares. Bicicletas praticamente inteiras, fruto de desovas, se mesclavam aos restos de sofás, lavadoras de roupas e pneus. “Dia desses, retirei uma montanha de ferro. Vendi e consegui R$ 180”, afirmou o ribeirinho, sobre a limpeza motivada por interesses meramente econômicos. Quanto a uma das três saídas de esgoto em seu quintal, Marcelino garantiu que fechará a tubulação que sai da casa do vizinho. “A sujeira passa pelo meu terreno. Se ele não levar os tubos até o rio, vou lacrar”, ameaçou.
O pedreiro desempregado lamentou o descaso dos vizinhos e afirmou que tenta fazer sua parte para conservar o que resta do rio agonizante. “Coloquei aterro aqui e reformei minha casa porque cansei de perder meus móveis e documentos”, explicou, sobre as medidas tomadas após enchentes enfrentadas durante os 11 anos em que mora às margens poluídas do rio Tavares.
“Essa é a mentalidade das pessoas que moram aqui. Se passarmos dragas para desassorear e limparmos tudo, em menos de um mês a sujeira será a mesma”, lamentou o presidente do Conselho Comunitário, João Nazareno Bilck.
Limpeza não foi solicitada à Casan
Gerson Basso, diretor da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), afirmou que cabe ao órgão apenas a fiscalização das ocupações irregulares. “Em 2011, derrubamos 301 moradias. Foi um recorde, uma vez que a Floram demoliu 240 unidades em seus 16 anos de história”, contabilizou Basso. O diretor lembrou ainda que os proprietários das casas construídas a menos de 30 metros do rio já foram autuados. “Os processos estão em julgamentos na Floram”, contou. Basso disse que a limpeza do rio é de responsabilidade da Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital).
Marius Bagnati, presidente da Comcap, afirmou que nenhuma solicitação de limpeza de rios foi feita à companhia. “Costumamos limpar valas. Temos um setor para isso”, comentou. Bagnati disse ainda que irá ao local para verificar a situação. “A limpeza pode ser feita com máquinas da prefeitura e com homens da Comcap”, adiantou.
Sobre a fiscalização do esgoto irregular, a Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento), informou que a região não tem rede de esgoto porque a companhia não tem licença ambiental para construir uma estação de tratamento de esgoto no bairro. De acordo com a assessoria de imprensa da Casan, caberia à Vigilância Sanitária a fiscalização dos despejos clandestinos de esgoto. Procurada pela reportagem do jornal Notícias do Dia, a Vigilância informou que atua mediante denúncias.
(ND, 23/02/2012)
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