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Passarela Nego Quirido: um desperdício de espaço público em Florianópolis

Uma piscina semi-olímpica na beira do mar, 540 metros quadrados de espaço coberto, 68 salas arejadas. Tudo público. E quase tudo inutilizado. Essa é a situação da Passarela Nego Quirido, no Centro da capital, que, um dia, abrigou projetos sociais que chegaram a atender 60 crianças, além de adultos e adolescentes. Em 2007, o local começou a ser reformado e, desde então, não está sendo tão aproveitado como poderia. No passado, a capacidade total da passarela foi utilizada durante menos de 20 dias. Foram quatro dias de Carnaval, dez de Fenaostra, três de Folianópolis e outros poucos de eventos isolados.

A piscina, cuja construção começou há quase três anos, ainda não está concluída. Por enquanto, só serve para juntar água parada e sujeira. O espaço coberto, embaixo das arquibancadas do lado contrário da Casa da Liberdade, serve de estacionamento para meia dúzia de carros de funcionários públicos. Até um fusca particular é consertado no local. A equipe do Notícias do Dia foi impedida de fotografar o veículo, assim como o lugar que, desde 2009, está prometido para o Museu do Carnaval, que não foi instalado até agora.

De todas as salas, uma é ocupada pela Liesf (Liga das Escolas de Samba de Florianópolis). Quatro são usadas pelos funcionários do Serviço de Abordagem de Rua, da Secretaria Municipal de Assistência Social, para funções administrativas e encontros com moradores de rua que querem ajuda. Outras dez estão sendo preparadas para receber o Creas POP (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua).

As demais salas servem apenas de camarote no Carnaval e em outros eventos. “Poderíamos ocupar esses espaços e esvaziá-los quando fosse necessário. Temos um depósito para isso”, diz o gerente da Passarela, Elemar Paz, no cargo há oito anos.

Propostas para usar o espaço são vagas

Muito já se disse sobre a utilização dos espaços vagos da Passarela Nego Quirido. Mas praticamente nada de concreto apareceu ainda. A Cidade da Criança, que foi transferida para a Agronômica e iria voltar, não vai mais retornar. O projeto “Animando a Cultura da Ilha”, que usa jogos e desenhos animados como ferramenta de inclusão social, também ia funcionar no sambódromo, mas desistiu porque encontrou um local mais adequado.

De acordo com o secretário adjunto de Assistência Social, Hélio Abreu, o Pró-Jovem, programa do governo federal, terá atividades na Passarela, assim como a FME (Fundação Municipal de Esportes). Dessa forma, a piscina e o espaço coberto embaixo da arquibancada ganhariam uma função. No entanto, a FME não confirma a informação e diz que, por hora, há apenas especulação sobre uma possível utilização da Nego Quirido. “Um projeto em parceria com outras secretarias está sendo discutido. Deve haver uma reunião sobre isso nos próximos dias”, informa a assessoria de imprensa da instituição.

A única proposta que está mesmo em andamento é do Creas POP. O serviço, previsto para começar em abril, oferecerá refeições (café da manhã, almoço e lanche da tarde), banheiros, opções de entretenimento (televisão e aparelho de DVD) e oficinas demandadas pelos próprios moradores de rua. “Queremos fazer um ambiente acolhedor para nos aproximar dessas pessoas e convencê-las com mais facilidade a aceitar tratamento. O modelo já está sendo testado em Juiz de Fora (MG) e está funcionando”, diz a coordenadora do Serviço de Abordagem de Rua, Irma Remor.

Local é inseguro

Além de mal utilizada, a Passarela Nego Quirido ainda é considerada insegura por quem trabalha lá. Prostituição e consumo de drogas, principalmente crack, são os principais problemas apontados pelos funcionários. “Aí você vê a minha situação: se eu chamo a polícia e o cara vai preso, depois ele sai, vem aqui e mata alguém”, desabafa Paz. Para aumentar a segurança, três cachorros são mantidos no local. “Mas o prefeito já prometeu que vai colocar segurança armada e vigilância eletrônica aqui”, diz o gerente da Passarela.

(Por Anita Martins, ND, 20/02/2011)

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