Joia inexplorada
08/11/2010
Metrópole
08/11/2010

Campo de SC recebe turistas globais

Thaise Costa Guzzatti

Da coluna Informe Econômico, por Estela Benetti (DC, 07/11/2010)

Fundadora e presidente da ONG Associação Acolhida na Colônia, que oferece hospedagem com vivência em propriedades agroecológicas em 25 municípios de Santa Catarina, Thaise Guzzatti, 35 anos, é graduada em Agronomia pela UFSC, mestre em Engenharia da Produção na área ambiental e está concluindo doutorado em Geografia, na mesma instituição. É casada com o agrônomo e professor da Udesc Valério Turnes e tem dois filhos: Beatriz, seis anos, e Thiago, dois.

Campo de SC recebe turistas globais

Na última temporada, mais de 50 turistas franceses se hospedaram em propriedades rurais de Santa Catarina. Alguns milhares de catarinenses e brasileiros também, entre os quais o casal de atores Grazi Massafera e Cauã Reymond. Eles aderiram a programa de turismo no meio rural, que permite se hospedar em casas de agricultores e vivenciar as atividades com o pagamento de diária de R$ 80, incluindo todas as refeições. Hoje, 170 famílias do Estado participam do projeto de geração de renda em propriedades agroecológicas, desenvolvido pela ONG Associação Acolhida na Colônia, fundada em 1998 pela engenheira agrônoma Thaise Costa Guzzatti. A organização é vinculada à francesa Accueil Paysan, que começa a difundir o modelo em outros países da América Latina.

O desafio de aumentar a renda do campo e preservar o meio ambiente, com a produção de alimentos orgânicos, cativa de tal forma que Thaise já recebeu várias premiações. A última foi o título Mulheres que Fazem a Diferença, concedido pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), na categoria Terceiro Setor. Com um prêmio da Editora Globo, de R$ 200 mil, a agrônoma criou fundo para financiar reformas nas propriedades rurais. Os maiores desafios são atrair mais turistas e ampliar as vendas de produtos.

O que levou você a difundir o turismo na colônia?

Thaise Costa Guzzatti – Meus avós atuaram na agricultura, já meu pai é comerciante, tem joalheria em Criciúma, e minha mãe é professora de matemática. Eu e a minha mãe sempre fomos superambientalistas e pensávamos em abrir uma floricultura. Na hora do vestibular, saí de casa para me inscrever para Odontologia, que dava mais dinheiro, mas pensei em algo ambiental e retornei inscrita para Agronomia na UFSC. Meus pais não gostaram. Mesmo assim, comecei o curso, mas me rebelei contra o estágio obrigatório, no meio do curso, em casa de agricultor. Então meu pai me obrigou a fazê-lo, no interior de Seara.

O que o estágio com agricultores representou para você?

Thaise – Eu fui pensando que seria um desastre, mas foi uma das melhores coisas que fiz em minha vida, e olha que eu conheço o mundo. Cheguei lá, o seu Luiz foi me buscar com um carrinho simples, não tinha telefone, televisão, as estradas eram terríveis. A família trabalhava muito, tinha integração de suínos, mas eles não conseguiam ganhar dinheiro. Só tinham a terra, perdendo o valor. Voltei e decidi que eu queria trabalhar com os agricultores. Então passei a fazer estágio na ONG Cepagro, que trabalha com produção orgânica e tinha um convênio com a França. Daí fui conhecer os programas franceses, experimentei esse da Accueil Paysan e trouxe para Santa Catarina.

Como começou a Acolhida e quantas famílias participam hoje?

Thaise – Quando criamos a Acolhida, em 1998, eram cinco municípios na Encosta da Serra Geral, na região de Santa Rosa de Lima, com 30 famílias. Até 2002, organizamos as propriedades. Hoje são 25 municípios e 170 famílias. Muitas prefeituras se interessam, mas não é fácil expandir. Acabamos de incluir famílias de pescadores de Imbituba e produtores de Biguaçu também vão aderir.

Qual é o impacto do programa na renda das famílias?

Thaise – É variável. Depende do número de visitantes e da venda dos produtos orgânicos. A diária, incluindo todas as refeições, é de R$ 80 por pessoa. Há famílias que tiram R$ 50% da renda com o programa. O agricultor que tira mais ganha uns R$ 2 mil por mês. Muitas famílias de agricultores têm como renda principal a aposentadoria, que é um salário mínimo. Ganhar R$ 1 mil de turismo como fonte de renda não agrícola é muito significativo.

Os agricultores vendem, também, produtos orgânicos?

Thaise – Além de ganhar dinheiro com o serviço, os agricultores vendem seus produtos. A ideia é que ele não precisa sair para vender a produção. Você vai lá e faz a sua feira. Se comprar direto do produtor, você economiza e paga parte da viagem. O molho de tomate orgânico da Agreco que você paga R$ 8 no supermercado, lá sai por R$ 4.

Vocês financiam investimentos?

Thaise – É consolidar o trabalho atual. Para isso, temos o nosso fundo, que tem os R$ 200 mil que ganhei em prêmio da Editora Globo e doei para a Acolhida. A gente empresta R$ 5 mil para produtores que necessitam, sem juros, para eles fazerem melhorias nas propriedades.

E a questão ecológica?

Thaise – O tripé ambiental é importante. Os agricultores desenvolvem produção orgânica, protegem as nascentes das águas, cuidam do lixo. Começamos uma parceria com a Bovespa, no ano passado, numa ação de energias renováveis, com o agrônomo Fábio Rosa, do Instituto Ideas. A ideia é que todos os nossos agricultores sejam eficientes energeticamente, com emissão zero de carbono.

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Acolhida

Os municípios que têm agricultores associados à Acolhida na Colônia são Rancho Queimado, Anitápolis, Santa Rosa de Lima, Vitor Meireles, Witmarsum, Presidente Getúlio, Ibirama, Lontras, Presidente Nereu, Trombudo Central, Agronômica, Aurora, Vidal Ramos, Leoberto Leal, Imbuia, Ituporanga, Atalanta, Agrolândia, Petrolândia, Grão Pará, Gravatal, Urubici, Rio Rufino e Imbituba. Biguaçu está entrando. Interessados em fazer o turismo nas propriedades podem fazer contatos e reservas pelo site www.acolhida.com.br. Lá, encontrarão roteiros com informações em português, francês e inglês. O telefone é (48) 3654-0186.

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França

O objetivo da Accuiel Paysan, fundada nos anos de 1980, na França, é difundir o programa em diversos países para que o turista possa viajar dentro do conceito slow travell. A ideia é conhecer os países pelas pessoas que são do local.

A Acolhida é a primeira associação na América Latina. Mas, agora, está surgindo também na Costa Rica e no Chile.

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Renda

A associação é mantida com uma pequena contribuição dos agricultores associados. Segundo Thaise Guzzatti, os técnicos do programa têm mais dificuldades, porque eles se mantêm com projetos. Se não tem projetos, muitas vezes ficam meses sem renda. Ela espera que a nova presidente, Dilma Rousseff, fortaleça, no Ministério de Turismo, o turismo comunitário, que hoje recebe apenas 1% das ações.

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Prêmio

O trabalho da jovem Thaise já recebeu vários reconhecimentos. Sobre o último, da Acif, ela diz que ficou feliz porque a Acolhida foi reconhecida como boa iniciativa econômica, social e ambiental. Em 2007, ela foi apontada pela revista World Business, da escola Insead, como uma das 35 mulheres com menos de 35 anos com algo especial para oferecer ao planeta.

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