Enquanto para alguns a simples ideia de trocar o carro pela bicicleta traz à mente uma porção de inconvenientes – dias de mau tempo, suor, trânsito inseguro –, para outros é o inverso: abrir mão da bike pelo carro se mostra totalmente sem sentido.
– Acho estranho o fato de, sozinha, conseguir mover uma tonelada – diz a bioquímica Hila Rocha.
Com a vantagem de ter armário e vestiário com chuveiro no trabalho, ela só se locomove de bicicleta.
– Nos dias quentes, posso chegar lá, tomar um banho e trocar a roupa por outra mais adequada – diz ela, que tem no carro estacionado na garagem (que apenas o filho dirige, de vez em quando) um adesivo que lembra as advertências em carteiras de cigarro, enumerando quantos gases o carro emite e os males que isto pode causar ao meio ambiente.
Para o deslocamento, o trânsito lento das grandes cidades é outro ponto extra para a bike. Hila afirma que, dependendo da rua e dos horários, a bicicleta é mais rápida que o carro.
– Faço tudo de bike. Além de trabalhar, vou ao cinema, jantar fora e até pra barzinhos de bicicleta. Em alguns lugares as pessoas acham estranho, parece que sou uma aberração. Mas em outros, sinto muita receptividade.
Ela conta que outro dia foi jantar com a filha em um restaurante japonês que tinha manobrista.
– Ele que “estacionou” e depois buscou a bike para mim. Foi muito engraçado – conta a bioquímica.
Além de não emitir os gases prejudiciais ao meioambiente, que os automóveis jogam na atmosfera, as bikes ainda ocupam menos espaço territorial, um aspecto bem importante em cidades que precisam destinar cada vez mais área para ocupação humana e menos para o cultivo do verde.
O mais recente apelo em nome da bike é a possibilidade de manter a elegância sob duas rodas. Talvez por isso o número de mulheres adeptas do uso da bike esteja aumentando. Nos passeios noturnos organizados pela ONG ViaCiclo – Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis, a maioria dos participantes é do sexo feminino, que têm um perfil diferenciado.
– São mulheres que se preocupam com a saúde e não dispensam o batom, por exemplo – diz Milton.
É o caso da arquiteta Ana Paula Beszczynski, de Blumenau. Ela usa o veículo para todos os deslocamentos.
– Só uso ônibus em dias de chuva. Vou à padaria, ao mercado, ao barzinho e até às reuniões de trabalho.
(DC, 25/07/2010)
Elas vão de bike
Para a padaria, para o trabalho, para o barzinho. Elas se deslocam pela cidade de bike. São meninas urbanas que, trocando quatro por duas rodas, lideram um movimento que une prazer, saúde, sustentabilidade e elegância.
Sensação de liberdade, cabelos ao vento e interação com as belezas da cidade, sem falar na endorfina que é liberada quando nos exercitamos e que eleva o humor e induz ao relaxamento são todos bons motivos para pedalar, elencados pelas próprias ciclousuárias.
A estilista Ana Carol Vivian diz que nota uma melhora clara no humor.
– Para mim, pedalar é um momento de prazer que tenho no meu dia a dia. Quando está chovendo e resolvo ir para o trabalho de ônibus, sempre acabo me arrependendo – conta.
Ana Carol e o marido são donos do projeto Pedarilhos, que, entre outras ações, vende utilitários e vestuário diferenciado para pedalar.
Além de saúde e bem-estar – benefícios que qualquer atividade física promove – a sustentabilidade é um dos mais recentes convites ao uso da bicicleta.
– Dos anos 1970 para cá a bicicleta teve bastante variação de popularidade, com sobe e desce no uso. O movimento mais recente, ligado ao veículo, é o apelo sustentável internacional – destaca o presidente da Organização não-governamental Viaciclo, Milton Carlos Della Giustina, ciclousuário há 40 anos.
Quem ainda pensa que o vestuário para pedalar só tem a ver com roupas justas, como leggings, ou largadonas, como os assexuados abrigos, está por fora. Movimentos internacionais, como o cycle chic já têm repercussão no Brasil, com grupos em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, que defendem o uso de roupas do cotidiano.
(Por LAURA COUTINHO, DC, 25/07/2010)
Bicicleta combina com elegância
Quer saber qual é a último acessório fashion na Europa? Bicicleta. Sim, ela, que já esteve na moda no final do século 19, voltou renovada: agora ela é uma sustentável, econômica e inteligente alternativa ao carro. Tão na moda que originou até outro termo para a nova onda: o cycle chic.
O movimento surgiu em 2006 na Dinamarca, onde foi criado o blog Copenhagen Cycle Chic. A ideia era mostrar como as pessoas se vestiam para andar de bicicleta na capital mundial do ciclismo. Desde então, surgiram vários blogs do gênero por todo o mundo, mostrando que é possível aliar moda e pedais. O termo “cycle chic” foi criado pelo blogger Mikael Colville-Andersen para o site. Ao lado de Marie, sua parceira, Mikael percorre Copenhagen e flagra os ciclistas mais fashions que desfilam pelas ruas da cidade, fazendo uma espécie de editorial de moda sobre duas rodas. Colville-Andersen já foi chamado de “The Sartorialist” (blog de street style mais conceituado do planeta) em duas rodas.
Desde 2006, quando o blog começou, muitos outros sites do gênero surgiram por todo o mundo, mostrando que é possível aliar moda e pedais. Nessas imagens, nada de ciclistas vestidos com roupas coladinhas (constrangedoras para grande parte dos homens), como leggings, ou largonas, como os abrigos.
A ideia sustentada pelos seguidores do movimento é a de que é possível pedalar com suas roupas do dia a dia, de acordo com a sua personalidade e, claro, com a ocasião.
Até mesmo de vestido, saia, terno e (porque não?) os desejáveis pares de sapato Louboutin é possível pedalar com estilo.
Aqui no Brasil, o movimento também teve eco. São Paulo, Curitiba e Porto Alegre são algumas das capitais que já contam com grupos de cycle chic, onde meninas divulgam ações em que defendem o uso da bicicleta com elegância.
Alinhada com os preceitos da onda, a estilista Ana Carol Vivian montou com o marido, André Costa, o site Pedarilhos, onde divulgam ideias de reciclagem e ecologia, entre outros temas.
– Para pedalar no dia a dia não precisa vestir aquelas roupas coladinhas. É possível usar as mesmas roupas que você usa para trabalhar ou estudar – defende a estilista, que se desloca para o trabalho de calça jeans e sapato, sob duas rodas.
(DC, 25/07/2010)
Universo “biker” na web
– O twitter
@ondepedalar reúne informações diversas sobre eventos, condições das ciclovias e lançamentos pelo Brasil.
– O Pedarilhos
(www.pedarilhos.com.br) aqui de Floripa – divulga ideias sobre reciclagem e vende produtos para ciclousuários, como vestuário e ferramentas.
– O site da ONG Viaciclo
(www.viaciclo.org.br), de Florianópolis, divulga ações e traz muitas serviço e muita informação para ciclousuários.
– A Associação Blumenauense Pró-Ciclovias
(www.abciclovias.com.br) traz dicas de seguranças e sobre as ciclovias de Blumenau.
– No google digite
“cycle chic” e você verá em quantas cidades do mundo (incluindo capitais brasileiras) o movimento está presente.
– Versão couchsurfing para ciclistas, o warm showers
(www.warmshowers.org) site de troca de hospedagem para quem viaja de bicicleta pelo mundo.
(DC, 25/07/2010)
De bicicleta rumo ao altar
Se casal que pedala junto permanece unido, André Vinícius Mulho da Costa, 24 anos, e Ana Carol Vivian, 23, têm amor eterno garantido. Recém-casados, eles usam a bike para qualquer deslocamento do dia a dia e mais para os passeios e viagens de final de semana.
Tamanha paixão não poderia ficar fora em uma data pra lá de importante: o dia do casamento da dupla.
– Antes mesmo de programar o casamento, já tínhamos o sonho de ir pedalando – conta Ana Carolina.
E foi o que fizeram. Do Itacorubi até a igrejinha na Cachoeira do Bom Jesus, no Norte da Ilha, seguiram acompanhados dos amigos de pedaladas.
– Com retalhos e sobras desenvolvi um vestido reciclado com um dispositivo que acoplei para que ficasse mais curto na hora de pedalar. Quando cheguei na igreja, soltei e ficou longo – relembra a noiva.
Mas a dupla não foi pioneira na ideia. Milton Carlos Della Giustina também foi na sua bike ao lado da noiva em direção à igreja, lá em 1979.
(DC, 25/07/2010)
Pedalando pela Europa
Por Julia Dócolas, jornalista, 27 anos, moradora de Leipzig, Alemanha
“Andar de bicicleta aqui na Alemanha é tão comum quanto andar de carro ou de transporte público, principalmente no verão. A bicicleta é um meio de transporte e não apenas mais um apetrecho esportivo. Além de ser mais barato, saudável, ecologicamente correto e muitas vezes mais rápido do que carro ou metrô. Exceção aqui é não ter uma bicicleta.
O fato da maioria das cidades serem planas e as ciclovias bem sinalizadas e respeitadas pelos motoristas, facilita e estimula o pessoal a pedalar. Sem falar na segurança: aqui ninguém teme ser assaltado. Dá pra andar de bicicleta a qualquer hora do dia, tranquilamente.
Mas, para andar de bici também existem regras. É obrigatório ter luz branca na frente e vermelha atrás. Quem anda no escuro e é pego pela polícia leva uma multa de 15 euros na hora. E na madrugada, não é incomum ver ciclistas fazendo teste de bafômetro.
Não importa a idade nem o gênero, todo mundo pedala por aqui. No verão, as gurias saem de vestidinho ou de sainha, sem ter medo de ouvir piadas de mau gosto da ala masculina. Os alemães encaram o corpo com mais naturalidade e sobretudo respeito, sem maliciar, como no Brasil.
Eu confesso que adoro a tranquilidade da vida aqui. Lembro de como eu era dependente do carro quando trabalhava no Brasil. Aí era aquela incomodação com flanelinhas, estacionamento, roubos e estresse. Eu me sinto mais viva e mais jovem ao pegar a bici. Às vezes encontro meus amigos e vamos todos de bicicleta para um lago. É divertido ver aquele bando todo pedalando junto na rua. Parece coisa de filme de cidade do interior.”
(DC, 25/07/2010)
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