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O recall da natureza

Artigo escrito por Silvio Luzardo, educador (DC, 24/04/2010)

No debate efervescente e impostergável de um Plano Diretor coerente e sensato em Florianópolis, é bom lembrar que a natureza não tem peças de reposição. Não pode fazer recall, como vem ocorrendo na indústria automobilística. Cedo ou tarde, ocupa ou retoma o que lhe é devido. É implacável. O homem, de um lado, ainda não entendeu. Avança em locais críticos em nome da sobrevivência, do interesse pessoal, do status ou da acomodação, abusa dos riscos, não tem limites.

Os poderes públicos, que deveriam preservar o equilíbrio harmonioso, planejar o que dizem ser “sustentável”, controlar a sanha dos investidores e a manha dos eleitores, são, muitas vezes, irresponsáveis. Elaboram regras abrangentes, deslocadas da realidade, ou fracassam na fiscalização. As construtoras norteiam seus projetos objetivando o lucro a qualquer preço, quando não driblam os rigores das normas ou afetam as normas com seus rigores, como diria Rui Barbosa.

Tanto a capital catarinense como a Grande Florianópolis, seus prefeitos, vereadores, as comunidades dos bairros, entidades representativas dos segmentos diretamente interessados na questão urbana têm muito a aprender com as lamentáveis tragédias que abalaram o Rio de Janeiro, a Bahia e, em 2008, o Vale do Rio Itajaí. Ainda há tempo para frear a ocupação indevida, estabelecer limites, definir um Plano Diretor responsável, respeitando a geografia e o hábitat único e maravilhoso, coibir os abusos imobiliários, o assentamento humano em lugares indevidos e o avanço de cortiços verticais nos morros (há 10 anos eram residências de um piso só, hoje…), criar polícia ambiental virtual por rastreamento de satélite, preservar o que a natureza nos legou sem nos cobrar nada.

Mas, se não pensarmos “que somos parte dela”, como alertava o cacique Seattle, em carta ao presidente americano, em 1854, mais adiante a natureza pode nos apresentar sua conta. Implacável.

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