Considerado o pior problema da Capital, o trânsito tem lá suas razões para reclamar dos usuários
Diário Catarinense – Seu trânsito…
Trânsito – Senhor trânsito, por favor.
DC – Tudo bem. Mas por que tamanha distinção para algo tão popular?
Trânsito – Olha como me tratam. Dizem que sou um caos, um inferno. E além de tudo me escolheram como o pior problema de Florianópolis. É bom começarem a me respeitar.
DC – Está estressado, é?
Trânsito – Tais rindo? Estressado, não, estou indignado. Estressados estão os que precisam se locomover na cidade. Assim como meu amigo João Lídio Costa, que desde 1984 dirige um táxi aqui, estou vacinado. Quando ele começa a ouvir buzina ou reclamação, fecha a janela do carro e espera. E como espera. Em horário de rush, chega a levar quatro horas do Aeroporto até a Barra da Lagoa. Em horários normais, o tempo ficaria em uma hora. E entrar ou sair da Ilha é ainda pior.
DC – Mas qual é o tamanho do problema?
Trânsito – Olha, um pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Valério Medeiros, publicou um estudo, em maio de 2009, mostrando que Floripa tem a segunda pior mobilidade urbana do mundo e a pior do Brasil.
DC – E até onde vai chegar?
Trânsito – Há quem diga que eu posso parar entre 2014 e 2018. E não sou eu que estou dizendo. A informação é do engenheiro Severino Soares Silva, que fez um estudo com um grupo de especialistas sobre a infraestrutura da Capital. Mas é só pensar: a população cresce, há mais empregos, a taxa de motorização não para de aumentar e o meio físico permanece igual.
DC – Há muitos carros em Floripa?
Trânsito – Hoje são mais de 250 mil carros para uma população de 408 mil pessoas. Segundo dados de dezembro de 2009, a cidade tem um carro para cada 1,6 habitante. É igual a Curitiba. E só fica atrás de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Goiânia, onde a relação é 1,5.
DC – E quais obras poderiam solucionar o problema?
Transito – Ideia de obras é o que não falta. Já foi falado em quarta ponte para ligar a Ilha ao continente, metrô de superfície, túnel submerso, duplicação da SC-405, pedágio urbano, sistema teleférico integrado, transporte marítimo. Mas ainda estou esperando uma solução.
DC – E qual você escolheria?
Trânsito – Diria que o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lino Peres, tem uma ideia interessante. Chamar a população e mostrar todas as alternativas possíveis, incluindo corredores exclusivos para ônibus, como em Curitiba, por exemplo. Faz um estudo, mostra os resultados e os impactos que cada uma teria. Então opte-se pelas melhores soluções.
DC – Tudo isso vai levar certo tempo, desde que se comece já. Não há o que fazer agora?
Trânsito – O presidente do Instituto de Certificação e Estudos de Trânsito e Transporte, José Leles Sousa, fala que os congestionamentos ocorrem em horários mais ou menos definidos – início da manhã, meio-dia e fim da tarde. Campanhas educativas mostrando as melhores horas para ir ao Centro, por exemplo, já ajudariam. Se você for até lá comprar uma camiseta, vá no meio da manhã ou no meio da tarde.
DC – Há muito desrespeito?
Trânsito – Até parece que você não anda por aqui. Mas vou te dizer uma coisa. O Alberto Martins, gerente de trânsito da Guarda Municipal, conta que a maioria das multas aplicadas é por estacionamento irregular. As pessoas param nas próprias vias ou em cima das calçadas. E sabe o que elas dizem quando são abordadas? “É rapidinho”. Vocês humanos são mesmo muito irracionais.
Ações
:: As últimas ações na tentativa de minimizar os congestionamentos na cidade foram a implantão de dois corredores de ônibus e táxis. Um na Ponte Colombo Salles e outro no Bairro Saco dos Limões até o trevo da Seta.
:: Projetos — Está em estudo transformar a Avenida Lauro Linhares, no Bairro Trindade, em mão única.
:: Fluxo — Por dia, passam pelas pontes que ligam a Ilha ao continente cerca de 150 mil carros.
(DC, ClicRBS, 19/03/2010)
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