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Floripa tem dois governos, além do caos

Artigo escrito por Laudelino José Sardá – Jornalista, professor (Acontecendo Aqui, 26/10/2009)
26/10/09 – O florianopolitano sempre considerou o governador o seu melhor prefeito, até mesmo aqueles que pouco fizeram pela capital. O atual, Luiz Henrique da Silveira, por exemplo, ainda tem chance de cumprir o que prometeu, a construção do metrô de superfície, passando pela ponte Hercílio Luz, a conclusão da via expressa sul e a complementação da duplicação da SC-401 até Canasvieiras. Bem que ele poderia ter aproveitado a sua viagem ao exterior para dar um pulo até a Finlândia, e pedir ao Papai Noel um metrô de presente a estes pobres engarrafados. O velhinho tem estado generoso ultimamente.
Alguns governos marcaram presença como bons inquilinos na Ilha. Além de hospitais e escolas, a Capital, odiada por alemães e italianos do interior do estado, ganhou três pontes, avenidas, vias expressas, centros de cultura, rodoviária. O governador mais ousado foi o lageano Hercílio Luz, no começo do século XX. Além de construir a primeira ponte e vias de acesso à cidade, ele projetou uma avenida contornando a ilha, mas acabou desistindo diante da pressão de assessores, que qualificaram o projeto de megalômano.
Quem sabe vamos desterrar os ossos desses assessores energúmenos.
Imagine se a ilha tivesse sido circundada por uma avenida no começo do século XX, como queria Hercílio Luz, mesmo sem conhecer 70% da cidade. Paradoxalmente, os que conheceram a ilha depois dele, procuraram se apossar de suas áreas, construindo casas quase que sobre o mar. Houve governadores que simplesmente se tornaram proprietários de dezenas de hectares. A avenida teria organizado a Ilha, sem dúvida, ou pelo menos brecado o ímpeto dos invasores.
Famílias soberanas e oligárquicas controlavam a bússola do crescimento da Ilha. Entre 1971 1976, por exemplo, uma equipe, coordenada pelo arquiteto e professor Luiz Felipe Gama D’Éça, propôs um plano diretor que organizaria a ilha a partir da estruturação urbana do Campeche, a maior área disponível na época e que se transformaria, com bons acessos, no maior centro residencial da capital. Para o norte da Ilha, foi projetado um aeroporto internacional, com amplas perspectivas de desenvolvimento de negócios turísticos e de serviços. Contudo, prevaleceu o interesse dos usurpadores das terras do norte da ilha, que, através de pressão político-partidária, redirecionaram os investimentos públicos para Canasvieiras, Jurerê, Cachoeira e Ingleses, da forma como eles quiseram. O sul da Ilha sofreu um crescimento catastrófico, enquanto o norte, tirando Jurerê internacional, padece da desordem estimulada pela ausência de um plano diretor dos balneários.
Cabe aqui uma explicação. Os descendentes de alemães e italianos do norte e do sul do estado não têm motivo para não gostar da Ilha, mas são raríssimos os blumenauenses, joinvillenses e criciumenses que preferem a Ilha para curtir o verão. Eles costumam chamar os ilhéus de malandros. Absurdo! O ilhéu tem, sim, um estilo diferente de viver, mas não são malandros. Malandros são os que vêm à Ilha em busca de recursos públicos para seus negócios. Mas os alemães e italianos já estão se apaixonando, embora tarde demais, pela ilha.
O blumenauense, por exemplo, esqueceu de que foi o florianopolitano que mais prestigiou a primeira Oktoberfest, realizada para reconstruir a sua cidade no Vale tomada pelas enchentes de 1983. Mas, tudo bem, Santa Catarina é realmente um arquipélago de culturas; cada cidade vive a sua independência. Quem sabe por isso deu certo esse modelo de desenvolvimento.
MAIS UM CARTÓDROMO? QUE LOUCURA!
Para se ter uma idéia da bagunça política que foi a prefeitura de Florianópolis, entre 1970 e 1990, 12 prefeitos foram improvisados no cargo, com o aval da ditadura, e outros dois eleitos pelo povo. As capitais brasileiras até 1983 eram áreas de segurança, motivo pelo qual os prefeitos foram impostos. Esta é uma das causas da desordem no crescimento, sem plano diretor e ausência de planejamento na administração pública.
Governos, tanto estaduais quanto municipais, visam a soluções circunstanciais, que rendem popularidade. Por exemplo, o governador Luiz Henrique da Silveira, além de estar trazendo para o reveillon de Florianópolis Andrea Bocelli, a um custo de R$ 4 milhões, resolveu também construir mais um cartódromo, que não deverá consumir menos de R$ 10 milhões. O atual cartódromo, localizado na Vargem da Cachoeira, tem a melhor pista do Brasil e realiza apenas um evento nacional por ano. Para que mais um? Não há outra prioridade na Ilha?
Sabem-se dos gravíssimos problemas que a ilha concentra, tanto em mobilidade quanto em deterioração do seu tecido social, mas prevalece o desejo de quem governa, de promover um reveillon com o astro Bocelli, que na América Latina só encontrou em Luiz Henrique a disposição para desembolsar 900 mil euros de cachê, fora os gastos com as estruturas de apoio. Além disso, outro devaneio: construir mais um cartódromo, sem dar justificativa – se é que há – à população. Você, leitor, saberia dizer o percentual da população de Florianópolis que gosta de assistir a uma corrida de kart? Se aproximasse de 1% seria muito.
Isto acontece porque a Ilha acostumou-se a ser administrada pelo governador. O prefeito, a exemplo do atual alienígena, só sabe agradecer ao governo e não se preocupa em saber se a cidade precisa de mais um cartódromo. O que mais lhe importa é que Florianópolis vai ganhar mais e mais obras. Querem transformar a Ilha em um canteiro de votos, ou melhor, de obras.
COMO AGIR?
Entendo como primeira medida um abaixo assinado com a participação de no mínimo 20 mil moradores, para exigir a criação de um portal da transparência, em que a prefeitura será obrigada a colocar todos os dias seus gastos e transformar as licitações e concorrências, mesmo as do tapete preto, em pregão eletrônico, com o acompanhamento instantâneo da população. Olha, não sei não, mas essa proposta pode levar alguns políticos a transferir seus títulos para outro município!!
Da mesma forma, o portal da transparência, administrado por um condomínio bem representativo, deve exigir que o governo do estado submeta à apreciação do povo suas propostas para a Capital, já que muitos vereadores se ajoelham diante do soberano. O portal passa, também, a constituir-se em um mecanismo de mobilização. Quem sabe uma mobilização em praça pública uma vez ao mês, para advertir as autoridades sobre os graves problemas que ameaçam a capital.
Abomino o pessimismo, mas a temporada de verão, que está se aproximando, deve transformar a Ilha no caos. Imagine, leitor, já vivemos imobilizados, cercados de engarrafamento em todos os cantos, trancados em nossos domicílios, temendo a violência que penetra até nos apartamentos vigiados e seguros; só este ano já mataram 60 pessoas na Capital; as obras que já deveriam ter sido concluídas e que estão agora em execução, com perspectivas de complicar ainda mais o trânsito, principalmente na SC-401. Ainda há previsão de que o verão será chuvoso. Bem, temos agora quatro shoppings para abrigar os turistas. Se eu fosse empresário de shopping, estaria com uma vela acesa diante de São Pedro, para que não parasse de chover um dia sobre a Ilha. Por outro lado, se eu fosse vendedor de picolé, roupas, cachorro-quente (e frio), de bijuteria e de bijungaria, com certeza, prometeria a São Pedro caminhar de joelhos sete quilômetros na praia da Joaquina se não chovesse um dia no verão.
E se eu fosse turista? Bem, esperaria encontrar uma cidade com praias limpas repletas de entretenimentos e shows, como as da Bahia, Rio de Janeiro, Fortaleza e algumas do litoral paulista, por exemplo; e que a chuva não me prendesse em casa ou no hotel ou me empurrasse para o shopping.
Quem sabe, o novo cartódromo coberto, se transforme em uma atração em dias de chuva. E os turistas que não gostam de kart? Bem, alguém perguntou aos turistas se eles gostam de shopping?

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