Levantamento prévio feito por um grupo de 160 arquitetos no fim-de-semana mostra que há bloqueio de acessos à orla em 28% do território das regiões central e continental de Florianópolis. “O ideal deveria ser 0%”, destaca a presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil em Santa Catarina (IAB/SC), Cristina Piazza. Isso porque, de acordo com ela, toda a orla pertence à União e deveria ser de uso público.
A análise fez parte da 2ª Oficina de Desenho Urbano, coordenada pelo IAB/SC e pela ong FloripAmanhã em parceira a com Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea).
O bloqueio da orla inclui desde casas de famílias de baixa renda a construções de alto padrão, passando até por prédios públicos. “A cidade sofre há tempos com os sucessivos aterros e as pessoas vão tomando posse e obstruindo passagens”, diz Cristina.
A área analisada pelos arquitetos a pé ou por mar (com uma escuna) no domingo abrangeu na parte continental desde a Ponta do Coral, na avenida Beira-mar Norte, até o trevo da Seta, no acesso ao Sul da Ilha. No Continente, a área avaliada foi desde o Saco da Lama, em Coqueiros, à Ponta do Leal, no Balneário.
O estudo vai servir de subsídio a projetos para facilitar o acesso da população à beira do mar, que serão elaborados em outubro, quando ocorre a segunda etapa da oficina. As melhores idéias devem ser incluídas no novo Plano Diretor de Florianópolis. “Vamos ter que trabalhar soluções para retornar a orla à população, propondo formas de acesso ordenado”, afirma Cristina.
Entre as áreas onde ocorre maior bloqueio da orla estão as pontas do Leal e do Coral e o Saco da Lama, segundo Cristina Piazza. Ela destaca também uma parte próxima à cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz onde estaria ocorrendo favelização. “As casas ali estão muito perto das fundações da ponte, e isso pode ser perigoso. Se ocorrer alguma explosão, por exemplo, pode danificar as estruturas”, afirma.
A 2ª Oficina de Desenho Urbano ocorreu 13 anos depois da primeira, em 1994. Segundo Cristina, a falta de vontade do poder público foi o principal motivo para o longo intervalo. “Agora resolvemos batalhar novamente porque vimos que a situação está muito ruim”, diz.
Prefeitura aposta no Plano Diretor
A forma descuidada de ocupação da orla deprecia o que a Capital tem de melhor, na opinião do presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Ildo Rosa. “O mar tem uma importância vital para todos os que moram na cidade, e as edificações prejudicam toda a população, que fica sem acesso, no mínimo, à visibilidade natural”, lamenta.
Para ele, o Plano Diretor pode ser uma ferramenta de recuperar as áreas degradadas, com ações de médio e longo prazo. “Ele transcende o tempo de um mandato e pode propor ações que devem ser executadas em cinco ou seis anos”, sugere.
Segundo Rosa, o ideal seria começar o trabalho de recuperação da orla na região central de Florianópolis, fazendo o que se chama de “acupuntura urbana”: ações desenvolvidas nas áreas de maior influência na cidade. O fato de haver disciplinamento no Centro serviria de exemplo para que o mesmo ocorresse nos outros distritos, de acordo com esse conceito.
A recuperação da orla deve ocorrer por meio da criação de espaços voltados ao uso comunitário, segundo Rosa. Ele cita como exemplo a região do porto de Buenos Aires (Argentina), onde a população local tomou a frente de um trabalho de revitalização. “A situação era até pior que nos nossos aterros, e hoje é uma das áreas mais visitadas da cidade”, afirma.
Para o presidente do Ipuf, a praia de Ingleses, no Norte da Ilha, é talvez o balneário com mais problemas de acesso à orla. “Hoje só há algumas servidões que servem à população. A praia em si foi toda bloqueada”, lamenta.
(A Notícia, 25/09/2007)
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