Domingo é dia de diversão para crianças e adolescentes. Pião, pipa, futebol e bolinha de gude estão entre as principais formas de lazer para quem não tem internet nem videogame em casa. É o caso, por exemplo, de moradores do morro do Mocotó, no Centro de Florianópolis, que improvisaram um campinho de futebol com bandeira de escanteio, traves de madeira com redes e linhas laterais e de fundo demarcadas com cal.
O problema é a localização, próxima à saída do túnel Deputada Antonieta de Barros no sentido Saco dos Limões-Centro, uma região de tráfego de veículos em alta velocidade.
O campo foi montado pela própria comunidade para um campeonato que foi realizado ali, segundo o estudante Welysson Alexandre Lopes, 12 anos. Outro estudante, Matheus Fabian Silva de Oliveira, de 11 anos, conta com orgulho que ajudou a trazer cal e madeira para demarcar o gramado e fazer as traves. Uma bola foi comprada por meio de “vaquinha” feita entre os moradores. “É uma bola igual à da liga inglesa”, gaba-se Matheus.
Matheus, Welysson e outros três meninos que soltavam pipa eram minoria no campinho na tarde do último domingo. No grupo de 12 crianças e adolescentes que participavam de uma partida de futebol, por exemplo, dez eram meninas.
“Tem um monte de guria do morro que gosta de jogar bola. Ainda vão vir mais algumas. Olha, tem umas descendo agora”, disse a estudante Noemy Lopes, 16 anos, apontando para mais três jovens que desciam em direção ao campo.
Welysson Lopes diz que só foi jogar futebol no campinho porque a irmã o convidou. Ele e Matheus Silva costumam se divertir em uma quadra de cimento que fica na parte de cima do morro. “Lá dá para jogar também, mas aqui é melhor porque é grama”, diz Matheus.
De vez em quando, a bola cai na avenida, que fica a cerca de dez metros de distância de uma das linhas laterais do campinho. “Mas nunca teve problema não”, garante Welysson.
Líder comunitário alerta para perigo
O presidente do Conselho Comunitário do morro do Mocotó, Eli Lopes, conta que a montagem do campinho próximo ao túnel Deputada Antonieta de Barros há cerca de duas semanas ocorreu por causa da falta de opções de lazer na comunidade. A quadra de futebol que existe no alto do morro é pequena e não atende à demanda, segundo ele. “Temos um monte de crianças querendo entrar no futebol, mas falta espaço.”
O espaço, porém, ainda não é o ideal para o presidente do conselho comunitário. O maior perigo é o movimento intenso de veículos em alta velocidade, que representa risco na travessia das avenidas até o campo e na hora de buscar uma bola chutada com mais força ou sem direção. Lopes manifesta preocupação principalmente com as crianças. “É um perigo elas terem que atravessar no meio daquele monte de carros.” O conselho comunitário, conta Eli Lopes, vai pedir à Prefeitura a colocação de um alambrado em volta do campinho, para evitar que a bola caia nas avenidas.
O campinho serve de espaço também para os treinos de uma escolinha de futebol mantida pelo conselho comunitário. Nela estão inscritas 46 crianças da comunidade nas categorias sub-9 e sub-11. A falta de espaços para lazer na comunidade prejudica as crianças, segundo Lopes. Sem ter o que fazer, elas estão mais expostas ao tráfico de drogas, um dos problemas enfrentados pelos moradores da comunidade. “Eles acabam convivendo mais de perto com armas e drogas.”
Universidade coloca estrutura do Centro de Desportos à disposição
Além do futebol jogado aos sábados e domingo e durante os dias de semana à noite, o campinho montado pela comunidade do morro do Mocotó oferece espaço para soltar pipa, outra das diversões preferidas dos jovens e crianças.
O estudante Matheus de Oliveira diz que a preferência varia conforme a época do ano. Às vezes é pipa, às vezes pião, futebol ou bolinha de gude. “Quando enjoa de um, a gente começa a brincar mais do outro.”
O mesmo ocorre na comunidade da Serrinha, no outro lado do maciço do morro da Cruz, como conta o estudante e morador da localidade Samuel da Silva Oliveira, 13 anos. A vantagem é que há mais opções de onde brincar.
No último domingo, ele estava na fase de soltar pipa e aproveitou um espaço ao lado da piscina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para praticar a brincadeira com outros quatro amigos.
“A gente vem aqui mais nos fins-de-semana”, conta. Nos outros dias, ele costuma soltar pipa em casa e jogar futebol em uma quadra da escola local.
A UFSC é um espaço democrático de lazer para diversas comunidades aos domingos. Tênis, vôlei, futsal, basquete e handebol são alguns dos esportes que se pode praticar nas quadras da universidade. Às vezes, como a procura é grande, é preciso ter um pouco de paciência e formar o famoso “time de fora” para esperar a vez de jogar.
O auxiliar de padeiro Jackson de Pinho, por exemplo, sai todo fim-de-semana de casa, no Córrego Grande, para disputar partidas de futsal e basquete na UFSC. “É rapidinho. De moto, dá uns dois ou três minutos de lá até aqui.”
Pinho conta que na sua vizinhança não há um espaço como o da UFSC para as crianças brincarem. “Tem uma pracinha com parquinho e uma quadra pequena de futebol de areia”, relata.
Ele mora no Córrego Grande desde dezembro do ano passado, e diz que só ficou sabendo da área disponível para o lazer na universidade quando passou pelo local e viu as diversas quadras. Ele costuma ir até a UFSC sozinho e acredita que, se não existissem as quadras de futsal e basquete da universidade, provavelmente ficaria em casa dormindo na tarde fria de domingo.
Ipuf espera novo Plano Diretor para definição de espaços públicos
O presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Ildo Rosa, acredita que a definição de áreas públicas de lazer na área central da cidade deve ser disciplinada pelo Plano Diretor Participativo, que está em fase de discussão com líderes comunitários.
As comunidades do maciço do morro da Cruz, onde vivem cerca de 25 mil pessoas, segundo dados da Prefeitura, devem ser beneficiadas também com o projeto de urbanização da região. As obras já têm R$ 47,4 milhões garantidos pelo governo federal, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).
Uma das áreas centrais que mais deve receber investimento em lazer para a população fica na Via Expressa Sul. De acordo com Rosa, a faixa à direita do aterro no sentido Centro-aeroporto está reservada para instalação de equipamentos esportivos. A previsão é de que sejam criados uma raia de remo moderna e quadras poliesportivas.
Do lado esquerdo do aterro no mesmo sentido, devem ser construídos equipamentos voltados para a área de educação. Uma das prioridades é o museu de ciências da UFSC. “Nossa intenção é de que seja garantido o uso comunitário de todas as instalações”, diz Rosa.
(Felipe Silva, A Notícia, 14/08/2007)
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1 Comentário
isso faz com que os adolescentes não se envolvam no trafico de drogas(vida do crime).
quanto mais melhora, melhor sera o nosso futuro e o futuro deles.