Florianópolis é a cidade dos sonhos. Idealizada como um paraíso de qualidade de vida que alia beleza natural, qualidade, segurança a uma boa infra-estrutura urbana, é o local onde mais pessoas gastariam de morar, se tivessem a oportunidade. Segundo pesquisa do Instituto Mapa, encomendada pela Editora Expressão, 21 % dos habitantes da região Sul gostariam de viver em Florianópolis. Curitiba fica em segundo lugar, com 9% das preferências. A capital de Santa Catarina também é a mais lembrada como cidade turística do Sul. Ou seja, Florianópolis está na vitrine, para o bem e para o mal. Muitos estão realizando o sonho de ir viver em Florianópolis, e em uma década a população aumentou 50%.
O crescimento confere ares de cidade grande a outrora pequena capital, com oferta de bons serviços, alta gastronomia e novas opções de lazer. Mas também atrai os fantasmas que assombram as metrópoles, como violência urbana, trânsito caótico e pressões sobre o meio ambiente, a maior jóia da cidade. As tensões se exacerbaram em maio, quando uma operação da Policia Federal levantou forres suspeitas da existência de um esquema de compra de licenças ambientais para grandes empreendimentos, envolvendo vereadores, altos funcionários de órgãos públicos e alguns dos principais empresários locais. “Florianópolis tem as duas vocações mais cobiças no mundo e que mais geram bem estar: turismo e tecnologia. Temos uma beleza natural deslumbrante, mas nos falta inteligência para preservar essa fonte de riqueza e felicidade, diz Anita Pires, presidente da ONG FloripAmanhã.
Magnetismo natural
O esplendor natural de Florianópolis é notório. O jornalista Sérgio da Costa Ramos citou em sua coluna publicada no jornal Diário Catarinense, do dia 8 de maio, o botânico Dom Pernetty, que visitou a Lagoa da Conceição em 1763: “Está é uma paisagem que penetra pelos olhos e se instala na alma”. Emoções semelhantes podem ser despertadas, até hoje, em grande parte das mais de 40 praias da cidade, além de lagoas, dunas e manguezais. Ou pelas montanhas cobertas de verde que se estendem como a espinha dorsal de boa parte da ilha de Santa Catarina, que abriga a maior porção de Florianópolis. Nada menos que 45% da Ilha são áreas de preservação permanente.
Mas o magnetismo da cidade deve se também a aspectos sociais e econômicos. Dentre as capitais brasileiras, é a que possui o melhor índice de Desenvolvimento Humano. Isso se deve a elevadas taxas de escolaridade e renda da população, além de uma boa infra-estrutura urbana e de serviços. Florianópolis também a quarta melhor cidade para se viver do país, conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
A renda média da população é o dobro da brasileira. O setor público é o principal pilar da economia e responsável pela renda acima da média. Mas empresas de alta tecnologia e um grande número de instituições de ensino também se destacam crescentemente no cenário econômico. Além, é claro, do turismo. A temporada 2006/2007 foi considerada a melhor da história, e Florianópolis aparece como o terceiro destino de turismo de eventos no pais, atrás do Rio de Janeiro e São Paulo, segundo o Convention & Visitors Bureau. A revista norte americana Newsweek a considerou uma das nove cidades mais dinâmicas do mundo. No Brasil, a cidade esta entre as que mais tiveram crescimento na riqueza nos últimos 30 anos, e t a terceira – e primeira entre as capitais – no ranking da inclusão digital da Fundação Getúlio Vargas, com uma taxa de 33,3%.
Por isso tudo Florianópolis é não somente a cidade mais cobiçada, mas também uma das que efetivamente mais recebe migrantes. Entre 1996 e 2006 a população passou de 271 mil para 406 mil habitantes, e o viés continua sendo de alta. O crescimento populacional carreou o crescimento do comércio e dos serviços, das opções de vida noturna e da gastronomia. Ou seja, Florianópolis está ganhando ares de cidade grande.
Em cinco anos quatro hotéis de luxo foram erguidos onde ate então não havia nenhum. Em cinco meses dois shopping centrers – Floripa Shopping e Iguatemi – foram inaugurados, multiplicando por três o número desses estabelecimentos na cidade. No Iguatemi, que segue o padrão Iuxuoso dos seus congêneres, foram aplicados R$ 168 milhões. Outro sintoma de que os hábitos de consumo estão mudando é a sofisticação da gastronomia. Foi-se o tempo que o peixe frito com pirão era o prato principal da culinária ilhoa. Nos últimos anos, restaurantes especializados e cozinhas internacionais se estabeleceram, como o Pulau Magik, com cardápio contemporâneo desenvolvido pelo consagrado chef AIex Atala. “Fizemos pesquisas e percebemos que Florianópolis estava pronta para receber uma opção gastronômica de alto nível. Aliás, a cidade estava pedindo isso”, diz João Mansur, um dos sócios.
Mudança de padrão
As construtoras captaram essa tendência e também subiram o padrão. “Começamos com edifícios para a classe C, mas nos últimos dois anos mudamos o foca para as classes A e B, diz o diretor comercial da Hantei, Jonas dos Santos. Nos mesmos passos caminha a gaúcha CFL. “Encomendamos uma pesquisa que indicou Florianópolis como um lugar promissor para a construção civil, principalmente para prédios de alto padrão”, conta o diretor da CFL, Ricardo Saldanha.
Mas alguns dos principais empreendimentos de alto padrão da cidade estão sob suspeita de envolvimento no suposto esquema de venda de licenças ambientais. Dentre eles o shopping Iguatemi, e condomínios de luxo nas praias de Jurerê Internacional e Santinho, duas das mais sofisticadas da Ilha. Empresários da construção civil denunciam o excesso de burocracia, a inércia de órgãos públicos e o conflito de competências entre as esferas municipal, estadual e federal para a concessão de licenciamentos ambientais como os grandes problemas do setor.
“Investidores e empresários são inibidos de empreender dentro das normas e exigências legais, enquanto a favelização está liberada”, critica Helio Bairros, presidente do Sindicato da Construção Civil da Grande Florianópolis. “A operação (Moeda Verde, da Policia Federal) criou um estado de insegurança jurídica, paralisou a cidade e tratou empreendedores a quem a cidade deve muito como marginais, criando um clima de expiação pública e de pré-julgamento”, reclama.
O fato pode ter ajudado a polarizar ainda mais a questão ambiental entre os diversos atores que
debatem – e as vezes se degladiam – acerca do desenvolvimento da Ilha. Segundo Bairros, há cerca de 20 órgãos públicos e ONGs, associações e sindicatos legitimados par atuar na questão da gestão ambiental. Sua agenda é extensa. Segundo dados da prefeitura, 58% dos empreendimentos da cidade são ilegais. A favelização é observável a olho nu. Os maiores problemas da cidade são, na opinião do prefeito Dário Berger, a ocupação desordenada e a falta de saneamento.
A cidade discute seu Plano Diretor, que assim como o Plano de Gerenciamento Costeiro pretende definir o tipo de intervenção que poderá ser feita, quais as limitações em cada uma das localidades e que lugares serão absolutamente preservados. A idéia é que o Plano Diretor seja enviado a Câmara de Vereadores e a Prefeitura. “Precisamos definir o que é uma cidade boa para todos e garantir bem-estar para a população”, defende Anita Pires.
(Anuário Expressão, 03/07/2007)
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