Em apenas um hectare de Mata Atlântica, existem mais espécies de plantas e animais do que em toda a Alemanha. O problema é que pouca gente tem noção dessa imensa biodiversidade. A falta de informações precisas abre espaço para a destruição de um dos maiores patrimônios naturais do mundo. Com o objetivo de chamar a atenção da população sobre a necessidade de preservar e recuperar essa riqueza desconhecida pela maioria, foi criado, através de decreto federal de setembro de 1999, o Dia da Mata Atlântica, que se comemora em 27 de maio.
A criação do Dia da Mata Atlântica é uma espécie de divisor de águas no ritmo do desmatamento, que diminuiu 71% entre 2000 e 2005. Na época, já restavam apenas 6,98% da cobertura original, segundo o mais recente estudo divulgado pela fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O anuário divulgado pela Reserva de Biosfera da Mata Atlântica revela que a floresta detém o recorde mundial de mais de 450 espécies de árvores por hectare. Dos 20 mil tipos de vegetais existentes nesta biosfera, 8 mil são endêmicas, ou seja, só existem ali.
Em comparação, em toda a América do Norte são estimadas 17 mil espécies, na Europa cerca de 12,5 mil e na África entre 40 mil e 45 mil.
O coordenador do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica de Santa Catarina, professor Érico Porto Filho, explica que essa grande biodiversidade está associada a vários fatores, entre eles, a área de ocorrência geográfica que se estende do Norte ao Sul do Brasil.
– As condições de relevo variável e a proximidade com a linha de costa e o oceano condicionam diferentes mesoclimas e microclimas que proporcionaram a evolução de formações vegetais de características específicas, como nas zonas de transição entre matas de baixadas, planícies, manguezais, restingas e praias – diz Porto.
Outra ameaça à biodiversidade é a expansão de áreas urbanas e das fronteiras agrícolas ao longo dos anos, que atingiu o auge entre as décadas de 1970 e 1990.
No esplendor de sua primitividade, quando a Mata Atlântica cobria cerca de 15% do território brasileiro, abrangendo cerca de 1,3 milhão de quilômetros quadrados, Santa Catarina era o segundo Estado brasileiro com maior área original – 99,81%, de acordo com o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). O primeiro era o Espírito Santo, com 100%.
Os dados sobre a floresta remanescente em Santa Catarina não são precisos. A Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural aponta que há 37,196% de cobertura vegetal nativa em terras catarinenses. O número é de 2004, quando foi iniciado o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, ainda não concluído.
Já a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) indica 22,9% de Mata Atlântica no Estado e baseia-se no Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, publicado pelo Inpe e SOS Mata Atlântica.
A disparidade entre esses números pode ser explicada pelas diferentes metodologias aplicadas por cada instituição. O gerente de Desenvolvimento Florestal da Secretaria da Agricultura, Sílvio Menezes, informa que o inventário considera as áreas de capoeira como Mata Atlântica existente, mesmo que em estado de regeneração.
O professor Érico Porto Filho não concorda com essa avaliação e ressalta que as divergências são antigas.
– Um dos maiores problemas é a falta de conhecimento, pois só se preserva e se conserva aquilo que se conhece – destaca Porto Filho.
Saiba mais
Das 20 mil espécies vegetais da floresta remanescente, 8 mil só existem na Mata Atlântica
Unidades de conservação em SC
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – Criado em 1975, abrange Florianópolis, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio, São Martinho, Imaruí, Garopaba e Paulo Lopes. Engloba também as ilhas de Fortaleza/Araçatuba, Ilha do Andrade, Papagaio Pequeno, Três Irmãs, Moleques do Sul, Siriú, Coral, dos Cardos e a ponta Sul da Ilha de SC
Parque Estadual da Serra Furada – Criado em 1980, abrange os municípios de Orleans e Grão-Pará
Reserva Biológica Estadual dos Sassafrás – Criada em 4 de fevereiro de 1977 em Doutor Pedrinho e Benedito Novo
Reserva Biológica Estadual da Canela Preta – Fundada em 1908, fica em Botuverá e Nova Trento
Reserva Biológica Estadual do Aguaí – Criada em 1983, abrange os municípios de Meleiro, Siderópolis e Nova Veneza
Parque Estadual das Araucárias – Criado em 2003, localiza-se no município de São Domingos, na Bacia do Rio Chapecó
Parque Estadual Fritz Plaumann – Criado em 2003, em Concórdia
Parque Estadual Rio Canoas – Criado em 2004, fica em Campos Novos
Parque Estadual Acaraí – Criado em 2005, fica em São Francisco do Sul
Parque Estadual do Rio Vermelho – Criado em maio de 2007, fica no Leste da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis
Fonte: Fundação do Meio Ambiente (Fatma)
(Alícia Alão, DC, 03/06/2007)
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