A segurança pública é de longe o principal clamor no Norte da Ilha. Assaltos, arrombamentos e assassinatos provocam dor-de-cabeça diária na população estimada de 140 mil habitantes que ocupa a região permanentemente, na temporada o número aumenta significativamente. A estada de moradores “anuais” nos balneários da Ilha, no entanto, é cada vez mais notada por lideranças comunitárias, empresariais, políticas e os próprios gerenciadores no poder público.
Uma secretaria regional do Norte da Ilha é defendida, pois há quem desenhe um destino diferente às praias que não seja o relacionado ao turismo e as imagine como grandes bairros residenciais num futuro próximo. As necessidades, no entanto, já são evidentes. Mais água, energia elétrica, pavimentação, linhas de ônibus, áreas de lazer e serviços são anseios naturais.
Se por um lado a população espera a melhoria de vida pelos administradores municipais, uma parcela dela também se articula para não ver os lucros da temporada irem embora. Situação dos donos de propriedades que faturam nos aluguéis diários ou mensais de casas e apartamentos durante a alta temporada e mantêm os imóveis vazios nos demais meses.
Corretores acreditam que a tendência dos aluguéis anuais de moradores permanentes ganhe força devido a suposta queda durante os negócios no verão. Dono de uma imobiliária há dez anos em Canasvieiras, Paulo Amaral não acredita nessa possibilidade e sim no incremento do turismo. “Já tivemos experiências com aluguéis anuais e não deram certo. Noventa por cento são aventureiros, sem as documentações exigidas, e fica um negócio arriscado. Com os projetos em vista, como o alargamento da praia, esperamos que o turismo cresça”, aposta Amaral, que reconhece o crescimento da procura de pessoas que pretendem morar no balneário.
Em Canasvieiras, o alargamento da faixa de areia da praia é uma das promessas da Prefeitura. Atualmente está em andamento o projeto de revitalização das calçadas.
Entidade critica alteração de zoneamento e loteamentos
A União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (Ufeco), entidade que apresenta 130 associações filiadas, critica o crescimento desordenado do Norte da Ilha, os grandes empreendimentos e as mais de 300 alterações de zoneamento aprovadas em projetos de lei pela Câmara de Vereadores nos últimos anos.
O presidente da Ufeco, Modesto Azevedo, vê como fundamental a aprovação do plano diretor da Capital. O receio dele, contudo, é que não haja participação popular em sua discussão até o envio pelo Executivo à Câmara – a previsão é que seja levado aos vereadores em outubro. “Não podemos colocar uma porteira na ponte. A Câmara é responsável em definir regras”, cobrou Azevedo, que vem discutindo a causa em audiências públicas.
Demanda por energia elétrica é maior que oferta disponível
A procura pelo Norte da Ilha aumentou o número de consumidores de energia, o que pode representar problemas para os moradores. As Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) tem consciência disso e planeja investimentos para a região a fim de atender a demanda. “A distribuição de energia na subestação situada na entrada dos Ingleses será ampliada dos atuais 26 MW para 40 MWA”, garantiu o chefe da divisão de linhas da Celesc, engenheiro José da Silva Neto. O acréscimo é cogitado para o próximo verão e existe a possibilidade de prevalecer ao longo do ano que vem. A troca na rede está em estudo – seis quilômetros de extensão seriam substituídos.
Em Ingleses, pedido é por melhoria no saneamento básico
A presidente da Associação Comunitária Angra dos Reis, nos Ingleses, Flávia Solange Accord, mora há dez anos no balneário. Nos últimos 24 meses, preside a entidade na qual passou a lutar por melhorias na qualidade de vida dos moradores. Ela é enfática ao falar sobre os problemas de infra-estrutura na região. E também na hora de apontar o por que da situação ter chegado ao ponto de preocupar tanto. “Passou da hora (a ação de investimento). O Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano) e a Prefeitura não acompanharam o crescimento. Houve pouca fiscalização”, avaliou Flávia, que recentemente participou de uma reunião sobre o assunto com os representantes do poder público.
O saneamento básico, na avaliação da titular da associação, figura em primeiro na lista de prioridades. A poluição na praia e os supostos comerciantes que insistem em lançar o esgoto no mar foram abordados ontem numa reunião entre os moradores e o Ministério Público. “O mais importante é não perder a praia. Por isso esperamos que a fiscalização aconteça”, observou a líder comunitária.
A população de Ingleses é de 50 mil habitantes fora do verão. Na temporada passa de 100 mil. As vindas de famílias para morar no balneário são freqüentes. Gaúchos, paulistas, paranaenses e migrantes do Oeste catarinense lideram a lista.
Além do investimento em prol do meio ambiente, há necessidade de ações humanitárias. A comunidade dos Ingleses reivindica a construção de ginásios públicos, quadras de esporte e uma pista de skate para atender aos jovens. Outro anseio é por uma ciclovia.
Norte da ilha
CANASVIEIRAS
· Apesar da origem remota, sua oficialização como freguesia ocorreu a partir da Lei Provincial nº 008 de 15/4/1835. Sua área é 29,30 km2, sendo que dele fazem parte a sede de Canasvieiras e as praias de Canasvieiras, Daniela, Jurerê Internacional, Forte e as localidades de Vargem Pequena, Ponta Grossa e Lamim;
CACHOEIRA DO BOM JESUS
· Criada pela Lei Municipal nº 394 de 19/2/1916. Sua área é 30,37 km2. Fazem parte desse distrito as seguintes localidades: Cachoeira do Bom Jesus, Vargem do Bom Jesus, Vargem Grande, Ponta das Canas e Lagoinha;
INGLESES DO RIO VERMELHO
· Originou-se a partir de um Decreto de 11/8/1831. Sua área é 20,47 Km2. Fazem parte dele as praias de Ingleses, Brava e Santinho, e as localidades de Capivari e Aranhas;
SÃO JOÃO DO RIO VERMELHO
· Criado a partir da Resolução Régia de 11/8/1831. Sua área é 31,68 km2. Fazem parte dele as localidades de Moçambique, Parque Florestal e a própria sede do Distrital de que é São João do Rio Vermelho;
RATONES
· Surgiu pela Lei nº 620 de 21/6/1934, desmembrando-se do Distrito de Santo Antônio de Lisboa. Sua área é 33,12 Km2, a sua sede é a própria localidade de Ratones;
SANTO ANTÔNIO DE LISBOA
· Orinou-se a partir da Provisão Régia de 26/10/1751. Sua área é 22,45 Km2. Fazem parte as localidades de Cacupé, Sambaqui, Barra do Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa.
(Diogo Vargas, A Notícia, 21/06/2006)
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