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O setor de vigilância sanitária da Secretaria Municipal de Saúde começou a investigar ontem de manhã o lançamento de esgoto sem tratamento num curso d’água que desemboca na Ponta do Coral, na avenida Beira-mar Norte. A denúncia foi encaminhada pela Associação dos Pescadores da Ponta do Coral (APPC), cujos integrantes sofrem as conseqüências do forte odor e da presença de restos de materiais usados em hospitais, como seringas, esparadrapos e pedaços de órgãos humanos possivelmente usados em biópsias.

“Só vamos poder confirmar que existe lançamento de esgoto sem tratamento depois que for realizada uma análise de laboratório de uma amostras da água, mas pela cor escura e o forte odor, somos inclinados a acreditar que isso esteja realmente ocorrendo”, disse o técnico da vigilância sanitária Júlio C. Veras. Acompanhado de uma equipe, ele esteve no local fazendo fotos e ouvindo os pescadores, visando a elaboração de um relatório sobre o que foi encontrado no local.

“Com esse relatório serão tomadas medidas pelos setores de saneamento e meio ambiente”, acrescentou Veras. “O problema aumentou nos últimos dois meses e já se tornou insuportável a nossa presença aqui”, reclamou João Bittencourt, 49 anos, membro do conselho fiscal da APPC. Nos últimos dois anos, ele e os demais pescadores recolheram dezenas de produtos hospitalares que aparecem com as águas que descem dos morros da região.

“Recolhemos seringas e até pedaços de corpo humano e isso será usado para provar que estão lançando toda essa porcaria aqui”, destacou Bittencourt. No local existem quase 60 ranchos de pesca usados por aproximadamente 80 pessoas, algumas residentes. “Primeiro a gente ficava perto do Direto do Campo, depois nos mandaram para a frente do antigo Veleiros da Ilha. Mais tarde fomos instalados na frente do antigo Hospital Naval e, por último, alojaram a gente aqui”, relata o pescador, que trabalha na região há quase 40 anos. “Muita gente está pensando em desistir por causa desse esgoto”, assinalou.

O pescador Marcos Zimmer, há cerca de duas décadas em atividade naquele ponto, mostrou a rede usada nas pescarias: ela está repleta de lama misturada com fezes e que foi deixada de lado, exalando um odor insuportável. “Antes dava muito peixe e camarão, mas depois que essa poluição começou a aparecer eles desapareceram de vez”, assinalou Marcos. A reportagem de ANCapital não conseguiu obter informações nos hospitais próximos.

Poluição diminuiu quantidade de peixes e renda de pescadores

O pescador João Bittencourt tem um motivo a mais para estar preocupado com o lançamento de poluentes num riacho que desemboca entre os dois conjuntos de ranchos ao lado da Ponta do Coral: o estado de saúde de seu filho, João Felipe Fernandes de Souza, 21 anos. Nascido com cinco meses e meio, “ele sofreu um derrame quando era pequeno e nunca mais se recuperou disso”, contou o pai.

Apesar de sofrer da coordenação motora, João Felipe trabalha estuda no Senac, tendo que ser ajudado pelo pai nos deslocamentos. “Eu vivo para esse rapaz”, disse, separado da esposa e responsável pelos cuidados com o filho. “O que eu tiro da pesca aplico tudo na educação dele. Dentro de um ano mais ou menos ele se forma e eu devo ficar mais tranqüilo”, acrescentou.

Há pouco tempo, um veículo de comunicação da cidade divulgou que os ranchos de pesca seriam “ocupados por maloqueiros” e isso “me deixou revoltado”, disse João Felipe, que escreveu um artigo publicado num site na Internet, onde reclama do tratamento. “A minha revolta foi tão grande que escrevi esse artigo em resposta ao que foi dito sobre o pessoal daqui”, acrescentou.
Como a pesca diminuiu nos últimos meses “por causa dessa sujeirada toda que estão jogando”, o pai teme ficar impedido de continuar sustentando o filho. “A sorte é que todo final de semana eu cuido de um bar num campo de futebol no bairro Bela Vista (Barreiros, São José), onde tiro uns R$ 150,00 por vez. É isso que garante o nosso sustento, pois se dependesse da pesca ficaria difícil”, acrescentou.

Nas pescarias que realiza no meio da Baía Norte de Florianópolis, onde eventualmente aparecem burriquetes com 10 ou 12 quilos, João Bittencourt consegue o suficiente para vender e obter algum rendimento. “O grande problema é que eu fico com vergonha de dizer que matei esses peixes na avenida Beira-mar Norte, cuja presença de poluição é conhecida de todos. Se eu disser de onde veio o peixe as pessoas podem não querer mais comprar”, revelou.

Outro que também reclama da situação é Júlio Vargas Pereira, 62 anos de idade, que ontem de manhã conseguiu capturar o almoço do dia – tainhota e peixe-espada. “Antigamente não tinha essa sujeira toda. Era tudo limpo e dava gosto entrar na água”, lembrou Júlio. Pedreiro aposentado, ele tem na atividade a principal fonte de renda da família que reside no bairro da Agronômica.

Em conseqüência de todos esses problemas, algumas pessoas estão deixando a região, o que pode ser confirmado em placas com a inscrição “vende-se” e os números de telefones celulares ao lado. Uma senhora que mora com a família no local e trabalha no posto de saúde da Agronômica está fazendo as malas para mudar de endereço. “Depois que esse fedor apareceu ficou insuportável continuar morando aqui”, lamentou.

Fiscalização atrás da origem

A mesma equipe da Vigilância Sanitária municipal que realizou os levantamentos ontem de manhã junto à Ponta do Coral também efetuou vistorias em cinco possíveis pontos de lançamentos dos esgotos sem tratamento. “Não encontramos nenhuma saída que pudesse estar ocasionando esse problema”, disse o técnico Júlio Veras. Com o relatório que foi produzido ontem, os setores de saneamento e meio ambiente do órgão vão poder aprofundar a investigação.

Além dos cinco órgãos públicos situados na Agronômica, existe a desconfiança de que os esgotos e os materiais hospitalares estejam vindo de um conjunto de edificações situado nos fundos dos hospitais Nereu Ramos e Infantil Joana de Gusmão. “O que nos preocupa que é o problema está afetando a saúde de todos que têm ranchos aqui nessa área”, assinalou João Bittencourt.

O engenheiro Jair Sartoratto, da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), informou via assessoria de comunicação do órgão que desconhece o problema e vai aguardar o relatório a ser encaminhado pela Vigilância Sanitária municipal para tomar as providências. “Estamos dispostos a acompanhar a Vigilância na tentativa de localização da origem desse problema”, disse.
(Celso Martins, A Notícia, 18/07/2006)

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