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Um ponto crítico é a falta de infraestrutura, diz presidente da Floripa Airport

Da Coluna de Estela Benetti (NSC, 18/08/2018)

Após Santa Catarina esperar décadas por um terminal aeroportuário a altura da sua pujança econômica, o novo Aeroporto Internacional Hercílio Luz deverá estar pronto e iniciar operações em 1º de agosto de 2019, três meses antes do prazo previsto no contrato de concessão para o investimento de R$ 500 milhões. Esse ritmo europeu é da concessionária Floripa Airport, do grupo suíço Zurich Airport. Só que tudo indica que o atraso do setor público do país impedirá que essa inauguração aconteça com o novo acesso pronto. Mas o jovem executivo suíço Tobias Markert (foto), presidente da Floripa Airport, segue acelerando as obras da companhia e o aprimoramento dos serviços do aeroporto enquanto cobra a nova estrada. Graduado em administração de negócios e psicologia, com MBA internacional em aviação, Markert tem a experiência de 15 anos de atuação nos aeroportos de Zurich e Curaçao (Caribe). Entre as novidades que traz para Florianópolis está o projeto de transformar o terminal também numa atração turística para quem não está viajando. Saiba mais na entrevista a seguir.

Quando a Zurich Airport venceu o leilão do Aeroporto Hercílio Luz, o contrato previa o novo terminal pronto em outubro de 2019. Vocês estão adiantando a obra. Qual é a nova data prevista para a inauguração?

No cronograma da obra estamos na fase de construção metálica. Primero focamos nas fundações, píer e estruturas metálicas que são as obras mais críticas porque, se atrasarem, podem atrasar o projeto. Se em 31 de janeiro de 2019 atingirmos a meta de ter todos os prédios cobertos, poderemos cravar que abriremos o novo terminal ao público em primeiro de agosto de 2019. Por enquanto, essa é a nossa meta. A parte mais complexa da construção é a interna, para a instalação do sistema de gestão eletrônica de bagagens, o BHS (o software será um holandês já usado em outros aeroportos do Brasil) e o sistema de tecnologia de informação (TI). Os dois são conectados. Para instalar isso, precisamos dos prédios cobertos. Por isso em janeiro poderemos confirmar se vamos abrir o aeroporto em primeiro de agosto de 2019. Além do terminal temos uma série de obras para fazer. A nova taxiway, obras na pista, a área de segurança. No prédio principal, já concluímos 70% da estrutura de aço, incluindo o pavimento de todos os andares.

Como a construtora Racional, responsável pela obra, está conseguindo fazer mais rápido?

Um dos segredos da rapidez da obra são os trabalhos em paralelo. Antes da primeira fase terminar, já começou as fundações, a montagem das estruturas metálicas e assim por diante. Há uma razão para iniciar a obra pela parte central. É que ela é a grande caixa, onde ficará o sistema de bagagens. Outra coisa. A construtora Racional é muito organizada. Não tivemos nenhum atraso. O modelo construtivo é chamado GMP, que é Preço Máximo Garantido. No início fizemos um acordo com a construtora, informamos que queríamos esse projeto, precisávamos de um orçamento e um preço final. Se o preço final fosse menor do que o acordado, eles poderiam começar a construção. Esse modelo de construção é muito vantajoso porque se o valor ficar abaixo do que a construtora propôs, ela ganha um percentual a mais e nós também ganhamos.

Dificilmente a nova rodovia de acesso estará pronta em 1º agosto de 2019. Quais são as alternativas?

Uma parte da rodovia de acesso já está construída, outra está em andamento e há uma parte que ainda não começou. Essa que não começou requer várias desapropriações. Se eles não terminarem essa parte, não podemos usar esse acesso. Aí teria duas alternativas. Uma pela Base Aérea, mas essa via não tem estrutura para atender um aeroporto internacional. A outra alternativa seria a SC-405. Isso também não é uma alternativa porque essa estrada é congestionada todos os dias. O prefeito assegurou que em dezembro o trevo do Rio Tavares, com elevado, estará finalizado, o que melhora o fluxo. O governo do Estado chegou a mencionar que se o novo acesso não estivesse concluído, faria uma estrada no Bairro Carianos. Isso poderia ser um plano B, mas ultimamente eu não ouvi mais ninguém falar em plano B. (Após a realização dessa entrevista, o governo do Estado falou que uma alternativa será fazer apenas duas das quatro pistas do novo acesso ao aeroporto. Mas também não há a garantia de que essa obra estará pronta em 1º de agosto).

Seria possível utilizar o acesso atual do aeroporto?

Não é possível porque nessa área considerada de ar não podem ter pessoas que não vão embarcar ou desembarcar. Então, se o novo acesso não ficar pronto, a alternativa é a SC-405, que não é duplicada. Se alguma coisa acontece, um acidente, um alagamento, você não tem alternativa de chegar ao aeroporto. E eu tenho dito que uma rodovia em cujas margens são vendidas geladeiras usadas não tem condições de ser acesso a um aeroporto internacional. Na condição atual, muitas pessoas perdem avião por causa dos jogos no estádio da Ressacada. Daqui a um ano vamos abrir o novo aeroporto e precisamos do novo acesso. Preocupa o fato de termos ainda 161 desapropriações que afetam o andamento da nova obra.

Como está a movimentação de passageiros?

Hoje, temos uma movimentação de 4 milhões de passageiros por ano para um terminal com capacidade de 2 milhões/ano. O novo terminal é para 8 milhões por ano. Em janeiro e fevereiro tivermos crescimento no número de passageiros, de março a junho caiu frente ao ano passado, em julho cresceu. A expectativa é fechar o ano com mais passageiros do que em 2017.

Há novos voos previstos?

Projetamos mais passageiros porque ampliamos o número de voos. Vamos ter mais sete voos semanais para Porto Alegre, mais sete para o Galeão e mais sete para Guarulhos. E o mais importante para nós são os novos voos internacionais. Vamos ter um voo da Latam para Santiago, no Chile. A partir de janeiro teremos novo voo da Gol para Assunção, no Paraguai, três vezes por semana, e três novos voos por semana para Córdoba e Rosário, na Argentina. Isso resulta do trabalho da nova área de expansão na empresa.

E a movimentação de cargas?

Temos expectativas promissoras. De janeiro a julho frente ao mesmo período de 2017 crescemos quase 14%. A Infraero tinha cinco grandes clientes que respondiam por 70% da receita com cargas. Estamos conseguindo novos clientes, o que é muito positivo. A área de cargas responde por 7% da receita anual da Floripa Airport. A principal razão pela qual essa área está crescendo em Florianópolis é o trabalho maravilhoso que a Receita Federal tem feito. As cargas são liberadas mais rapidamente aqui do que em outros aeroportos. Hoje, as principais cargas são produtos eletrônicos e farmacêuticos. A alfândega é feita em Florianópolis.

Na pesquisa junto a usuários, o Hercílio Luz ficou com a nota mais baixa do Brasil. Como estão trabalhando para melhorar isso?

É fato que estamos em último lugar na pesquisa sobre os 20 maiores aeroportos do Brasil, mas já tivemos uma evolução enorme para melhor. Quando assumimos em três de janeiro nossa nota geral era 3,22 (vai de zero a 5). Agora, estamos com 3,7. Temos trabalhado e investido para melhorar. A pesquisa avalia vários serviços. Um deles é a organização em frente ao aeroporto. Fizemos uma reorganização e agora tivemos uma nota maior 4,07. Contratamos duas pessoas para trabalhar diretamente aí, orientar os passageiros. A nota 4 é quando começa a ficar bom. A gente não está feliz em ser o 20º aeroporto do Brasil, vamos trabalhar mais para mudar, mas estamos bem otimistas de que essa nota vai continuar subindo.

Antes de assumir a gestão do Hercílio Luz, o senhor atuou nos aeroportos de Zurich e Curacao. O que eleva a nota deles na sua opinião?

Eu acredito que uma das coisas que contribuem para isso é o foco nos passageiros. Por isso, um dos cargos criados também no terminal de Florianópolis é o de agente de terminal, que cuida dos passageiros, para que tenham a melhor experiência possível.

O senhor falou que o novo terminal de Florianópolis será também uma atração turística. O que vão oferecer?

Eu acredito que o aeroporto não é apenas um lugar de passagem, mas também o que eu chamo de “place to be”, onde as pessoas gostam de estar, que seja um destino. No Brasil isso não é comum, mas na Europa é. Uma das razões para atrair as pessoas é resgatar nelas a magia da aviação. Nós já começamos aqui os tours de estudantes. O nosso terraço, uma área de 670 metros que pode abrigar muita coisa, vai ser um lugar especial para essa atividade. Ele está sendo construído para que seja acessado por fora, sem entrar no aeroporto. Além disso, planejamos desenvolver o entorno do aeroporto que pode ter cinema, centro de convenções, complexo para kart, campo de minigolfe e um Consert Hall, lugar para shows maiores. O que estamos fazendo aqui é uma inspiração no Aeroporto de Zurich, que é o conceito aeroporto-cidade.(Próximo do aeroporto de Zurich será inaugurado em 2019 o complexo The Circle, um investimento de US$ 1,1 bilhão, com três hotéis de luxo, 11 restaurantes, showrooms e espaços para eventos).

Como será o mix de lojas do novo aeroporto?

Estou convencido de duas coisas. Uma é que precisamos atrair marcas fortes para o aeroporto, que as pessoas têm segurança sobre o que estão comprando. E outra é o senso de lugar, que é trabalhar para ter marcas boas de Florianópolis, do Estado de Santa Catarina, para que as pessoas se sintam no Estado. A gente espera atrair lojas do McDonald’s e Starbooks, que ainda não temos no aeroporto, e também unidades do Estado.

A Zurich Airports pode assumir a concessão de outros terminais de SC caso sejam privatizados?

Nós estamos atentos para participar da quarta rodada de concessões no Brasil, que será lançada até o final do ano. Se tiver um aeroporto do Estado, estamos abertos a todas as possibilidades.

Temos eleição no Brasil em breve. O que o senhor espera dos futuros governantes do Estado e do Brasil?

Não tenho envolvimento político. O nível de cooperação que nós tivemos com o governo de Santa Catarina em função do projeto que lideramos é muito bom e espero que isso continue com o novo governante. Em nível de Brasil, temos parceria ótima com a Anac e com outros órgãos do governo federal. Espero que o próximo governo também seja cooperativo conosco.

Nesse primeiro ano residindo em SC, que pontos fortes e fracos observou na economia da região?

Entre os pontos fortes que constatei ao trabalhar aqui estão a elevada capacidade de relacionamento interpessoal e o elevado nível de motivação das pessoas. E um ponto crítico que logo percebi é a falta de infraestrutura. Vivo isso diretamente com a demora para a construção do acesso ao aeroporto. Mas vejo também falta de infraestrutura hoteleira. A cidade deveria ter hotéis cinco estrelas. Eu já disse e vou repetir mais uma vez. Construir um aeroporto para 8 milhões de passageiros é fácil. Mas é preciso ter boas estradas e bons hotéis para acolher esses 8 milhões de passageiros.

Após a inauguração seguirá à frente da Floripa Airport? Tem novos projetos?

Tenho muito trabalho ainda. Eu preciso fazer um bom trabalho para pensar no próximo posto. Eu estou gostando muito de viver aqui em Florianópolis.

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