Na próxima segunda-feira, uma família ilustre e bastante numerosa completará cinco anos de endereço fixo, no coração da Ilha de Santa Catarina. O rico acervo da Casa da Memória de Florianópolis, depois de tempos sendo constituído, recuperado e ampliado, a partir de 30 de março de 2004, enfim, já podia ser visitado em um belo edifício e com o conforto merecido.
O prédio de 470 metros quadrados, localizado na Rua Padre Miguelinho, nº 58, esquina com a Rua Anita Garibaldi, fundos da Catedral Metropolitana, no centro histórico da cidade, foi erguido em 1929 para sediar o antigo Partido Republicano Catarinense, na gestão do então governador Adolfo Konder. Entre 1949 e 1978, abrigou o Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE/SC) e, depois, até 1995, a seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Tombado por leis municipal e estadual, em dezembro 1999 o casarão foi doado pelo governo do Estado à Prefeitura Municipal, que iniciou o projeto de restauro no ano seguinte, por meio do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). Profissionais do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Santa Catarina (Crea/SC) elaboraram os projetos complementares e a execução das obras começou em 2002.
A reforma trouxe à visibilidade da população o que estava ofuscado por longo período de abandono. A fachada apresenta longas aberturas, esquadrias em madeira, vidros jateados e rebaixos geométricos, remetendo ao estilo da moda na década de 1920, o art nouveau. De arquitetura eclética, são dois pavimentos com pé direito elevado, mais um porão alto. No hall de acesso, um ampla porta de vai-e-vem que leva o visitante a corredores, escadas, salões com forros em madeira e molduras largas.
Memória da cidade
Gerida pela Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC), há quem pense se tratar de uma espécie de museu de atiguidades. Na verdade, a Casa da Memória é um centro de documentação que reúne, restaura, organiza, preserva e divulga registros visuais, sonoros, bibliográficos e documentais relativos à história, à memória, à identidade e à produção cultural da cidade. Muitos deles estavam espalhados em diversas repartições da Prefeitura. Outros, chegaram com o tempo, doados por seus habitantes.
Atualmente, são cerca de 42 mil peças, entre vídeos, fotografias coloridas e em preto e branco, discos, CDs, DVDs, CDs-ROM, fitas de áudio com gravações de músicas e extintos programas de rádio, livros nacionais e estrangeiros, filmes, cartazes, exposições, mapas, periódicos, impressos e documentos de diversas épocas, que são preservados em três núcleos: audiovisual, de pesquisas e biblioteca. Entre as preciosidades que guarda, estão o Banco de Imagens Sylvio Ferrari, com milhares de fotografias e slides de caráter biográfico, histórico e geográfico, e o Arquivo Zininho, que mantém acervo de imagem e som, com ênfase às coleções organizadas pelo saudoso poeta, compositor e radialista Cláudio Alvim Barbosa.
Todo este trabalho, “que não está nem na metade do caminho pretendido”, segundo o coordenador de patrimônio da FCFFC, Dennis Radünz, começou bem antes de se achar o espaço físico definitivo. Nem sequer existia uma fundação de cultura da cidade, já se falava na criação de um braço da Secretaria Municipal de Turismo para cuidar da memória da Capital catarinense. Instituída a Franklin Cascaes, em 1987, seu regimento interno previa o projeto da Casa da Memória, mas, somente em 1994, começou-se a formar a equipe que iria coordenar o acervo, a partir da biblioteca.
Durante um ano, os técnicos do setor trocaram correspondência com outros centros de documentação do País para conhecer a legislação, o organograma, obter referências. Hoje, com uma equipe de catorze pessoas, entre funcionários, estagiários e voluntários, a própria Casa da Memória de Florianópolis é referência para outras cidades que estão montando repartições congêneres.
Estudantes, professores, pesquisadores, historiadores, antropólogos, geógrafos, sociólogos, enfim, um público especializado vindo de todos os bairros, de outras cidades e estados, além de turistas, encontram agora à sua disposição “um espaço adequado, onde se pôde centralizar todas as mídias e em lugar acessível, no centro da cidade”, diz a arquiteta e técnica da FCFFC, Eliane Veras da Veiga, que participa desde o estágio inicial do projeto.
A edificação também comporta um auditório de quarenta lugares, equipado com telão, onde são realizados cursos, palestras, lançamentos e outros eventos culturais. Lá também são coordenadas as atividades da FFC Publicações, selo editorial da entidade que já lançou oito livros e um DVD.
A Casa da Memória funciona de segunda à sexta-feira, exceto feriados, das 13h00 às 19h00. Quem quiser colaborar, doando ou permitindo a reprodução de algum documento importante, pode entrar em contato para avaliação do material, pelo telefone (48) 3333-1322 ou casadamemoria@ffc.sc.gov.br.
Comemoração
A Prefeitura Municipal, por meio da FCFFC, preparou uma comemoração alusiva aos cinco anos da sede da Casa da Memória, que ocorrerá na terça-feira, 31, um dia após o aniversário. Na área externa, calçadão da Rua Padre Miguelinho, a partir das 16h00, será exibido em tela de computador um power point com cerca de 200 imagens de diversas épocas da cidade e da própria história da Casa da Memória.
Um quarteto de músicos da Orquestra-Escola da FCFFC abrilhantará o evento, que também será prestigiado pelo personagem Frankolino. O boneco de manipulação direta ganha vida pelas mãos da atriz Andréa Rihl. Concebido para o projeto “Causos do Frankolino”, uma criação dela, foi confeccionado por Paulo Nazareno (estrutura), Maurilo Xavier Roberge (fisionomia), Luciana Chiacchio (figurino) e Carlos Eduardo Silva (peruca). Ele estará recepcionando as pessoas e convidado para visitar a casa.
Também haverá um estande comercializando diversos títulos, com preços que variam de R$ 10,00 a R$ 50,00 – entre eles, os editados pela FFC Publicações: os livros “13 Cascaes”, “Prêmio Franklin Cascaes de Literatura 2008 – Contos”, “Crônicas de Cascaes”, “Diário de Bordo”, “Florianópolis: Memória Urbana”, “Roteiro das Manifestações Culturais do Município de Florianópolis”, “Florianópolis: Síntese Histórica”, “Bruxaria nos Desenhos de Franklin Cascaes” e o DVD “Memórias de uma Cidade”.
E, às 19h00, no auditório, o professor-doutor Gilberto Sarkis Yunes, do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ministrará a palestra “A Ideia de Patrimônio”. A programação é gratuita e aberta ao público. Caso chova, será toda realizada dentro do prédio.
(Marcos Reichardt, FCFFC, 28/03/2009)