A série de audiências com o objetivo de discutir a situação da segurança pública em Florianópolis teve, na noite de quarta-feira (1º), sua terceira etapa, realizada no salão da Igreja São Bento, no bairro do Itacorubi, na Capital. As audiências são promovidas pelas comissões de Turismo e Meio Ambiente e de Segurança Pública da Assembleia Legislativa e pretendem levantar as principais demandas de cada região do município. Além desta etapa, já foram realizadas reuniões no sul e norte da Ilha. A próxima audiência irá debater os problemas da área continental do município.
O representante da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), delegado Werner Furlanetto, apresentou os dados sobre a situação da segurança no estado e no município, nos quais se percebe um aumento da criminalidade. Em 2015, foram registrados mais de 120 mil boletins de ocorrência em Florianópolis, mas neste ano já foram contabilizados 61 mil. “Em todos os índices do ano passado podemos perceber um acréscimo em relação aos anos anteriores. Vemos que a criminalidade vem aumentando. Os dados apontam este crescimento”, reconheceu Furlanetto.
O delegado também enumerou os objetivos estratégicos sobre os quais a secretaria vem trabalhando para combater essa situação. Entre os dez pontos apresentados, o primeiro é a recomposição do efetivo. Apesar dos 22 concursos realizados entre 2011 e 2014, as contratações não conseguem suprir a saída de oficiais para a reserva.
As outras ações dizem respeito à melhoria de condições de trabalho dos policiais com a compra de kits de proteção individual, aquisição de novas viaturas, melhoria das instalações físicas e o investimento em tecnologia para as análises do Instituto Geral de Perícias (IGP). Também estão dentro dos objetivos estratégicos o Projeto Bem Te Vi, de vigilância eletrônica, e o investimento de recursos federais para o aparelhamento do policiamento fronteiriço com outros países.
Divergência
O comandante da 1ª Região de Polícia Militar, que abrange todo o município de Florianópolis, coronel Renato Cruz Júnior, contestou as informações da SSP sobre o efetivo disponível. “O total verídico a ser considerado é de 630 policiais para o patrulhamento da cidade e não os 1.902 apresentados pela secretaria. O 4º Batalhão, que atende a Bacia do Itacorubi, tem hoje 309 PMs e devemos perder mais 20 até o fim do ano.
Não é suficiente para atender a demanda e esta é uma área extremamente conturbada”, frisou o comandante. O coronel explicou que devido ao sistema de escalas são 64 policiais por turno no batalhão, o que resulta em apenas 12 PMs para o atendimento às ocorrências.
Apesar disso, o tenente-coronel Marcelo Pontes, do 4º Batalhão, trouxe dados sobre as ocorrências na Bacia do Itacorubi, que indicam a diminuição da criminalidade em comparação com o mesmo período do ano passado. “Foram 45 armas retiradas de circulação até o momento; 50% a mais do que em 2015. Estatisticamente a cada 12 horas alguém é preso pelo efetivo do batalhão”, exemplificou Pontes.
Para diminuir os índices, o tenente-coronel afirmou que a alternativa está em aproximar a comunidade da Polícia Militar. “A população deve se conscientizar de que todos são importantes na segurança pública e ações como o Vizinho Solidário Interativo fazem toda diferença”, disse.
As propostas
A representante do Conselho de Segurança (Conseg) da Bacia do Itacorubi, Ana Cláudia Caldas, trouxe para a reunião um documento com 51 propostas da comunidade com o objetivo de colaborar com as estratégias de atuação policial na região. Dentre os pontos destacados pela presidente estão: repensar as áreas de atuação das delegacias com a integração entre as polícias militar e civil, a volta dos postos de polícia, a presença de equipes de investigação em todas as delegacias, maior apoio da Polícia Civil e mais participação da Polícia Militar nas reuniões do Conseg.
“Quando a gente conhece o que acontece em uma delegacia e o funcionamento daquela instituição, nós, como agentes externos, conseguimos ter um novo olhar e, às vezes, uma pessoa de fora consegue trazer soluções práticas que sem muitos recursos podem ajudar na melhora da situação. Essa é a importância deste documento”, argumentou Ana Cláudia.
A audiência também contou com a apresentação da experiência do Vizinho Solidário Interativo (VSI) que, segundo Soraya Camargo, voluntária do projeto, já foi implantado em 25 comunidades da Ilha. “Queremos que o VSI seja de todos, por isso nossa vontade em divulgar essa experiência. Ele representa uma mudança de comportamento, pois não adianta aumentar muros se você não conhece seu vizinho. Temos comunidades que diminuíram um índice de 54 arrombamentos em um mês para dois por ano. O diferencial deste programa é a relação com a polícia. Somos as câmeras vivas uns dos outros”, defendeu Soraya.
A reunião foi comandada pelo deputado Gean Loureiro (PMDB), presidente da Comissão de Turismo e Meio Ambiente. O parlamentar justificou a realização da série de audiências ao reconhecer que “a situação não está boa”. A alternativa para Loureiro é o trabalho integrado tanto entre as polícias, como entre as instituições e a sociedade. “Nosso efetivo é ridículo, totalmente insuficiente, as condições de trabalho são muito difíceis e não se faz política de segurança pública sem recurso e sem a participação da comunidade. É preciso lutar de maneira integrada”, defendeu.
A audiência contou ainda com a participação de representantes dos conselhos comunitários do Córrego Grande, Monte Verde, Coqueiros, Saco dos Limões e Praia do Meio; da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc); da Universidade Federal (UFSC); do Ministério Público (MP), além do secretário municipal de Segurança e Gestão do Trânsito, Aldo Sebastião Lopes Martins, e dos vereadores Guilherme Botelho (PSDB), Edmilson Carlos Pereira Junior (PSB), Celso Sandrini (PMDB), Vanderlei Farias (PDT) e Célio João (PMDB).
(Alesc, 02/06/2016)
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