Em reportagem produzida pela repórter da RBS TV de Florianópolis Kíria Meurer, o programa Fantástico denunciou neste domingo a venda de produtos com agrotóxicos como se fossem orgânicos. Além de Santa Catarina, ao longo um ano a equipe passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Brasília para mostrar situações nas quais o consumidor que se dispõe a pagar mais caro por alimentos supostamente mais saudáveis está sendo enganado.
Um dos flagrantes revelados é o de Mauro Schorr, um comerciante de orgânicos da Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Com um discurso em que enaltece os benefícios da cultura livre de pesticidas à saúde, ele contou que leva uma manhã inteira colhendo as frutas e verduras oferecidas em seu ponto. Mas uma câmera escondida o registrou diversas vezes comprando os produtos na Ceasa, na Grande Florianópolis.
Para ser considerado orgânico, não basta que o produto não tenha nada de agrotóxico. O agricultor precisa também preservar o meio ambiente, pagar os funcionários de forma justa e não usar fertilizantes químicos nem sementes geneticamente modificadas. Não era o caso do feirante enfocado: conforme o próprio produtor que lhe atendeu na central de abastecimento, os morangos adquiridos por ele tinham pesticidas. Procurado pela reportagem após o flagrante, Schorr reforçou que compra somente produtos orgânicos e que têm notas que comprovam a origem.
Negócio deve crescer 35% neste ano
Os fraudadores se aproveitam de um negócio que cresceu 25% em 2015 e neste ano deve aumentar 35%. De 2013 para cá, o número de produtores saltou de 6.719 para 12.136. A Sociedade Nacional de Agricultura estima que o preço de um produto orgânico seja em média 30% superior ao do convencional. Santa Catarina é um dos poucos Estados em que as frutas e verduras vendidas como orgânicas são analisadas em laboratório.
Apesar de reduzir os riscos, a fiscalização nem sempre evita as falsificações. A reportagem flagrou ainda o dono de um sítio certificado para produzir orgânicos em São Bonifácio, Gilberto Hawerroth, que completa o estoque com alimentos comprados na Ceasa. Os alimentos são entregues em restaurantes, mercados, feiras e até em uma escola de Florianópolis como se fossem todos orgânicos. Testes realizados com o tomate vendido por ele, porém, indicaram a presença de oito agrotóxicos, dois deles proibidos em seu cultivo. Três das quatro amostras da barraca de Schorr também apresentaram agrotóxicos.
Depois de feitos os flagrantes, Hawerroth negou que fizesse compras na Ceasa e admitiu que havia perdido o certificado para venda de orgânicos, alegando que faltava documentação que já havia sido encaminhada. Para garantir a compra do orgânico, o consumidor pode exigir a comprovação da origem ou registro no Ministério da Agricultura.
( Diário Catarinense, 31/01/2016)
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