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Sérgio da Costa Ramos: A Ilha pagará o preço por ter se tornado a capital brasileira com melhor qualidade de vida

( Da coluna de Sérgio da Costa Ramos, DC, 19/01/2015)

Não há mais agendas organizadas. Este é o verão da impaciência, do suor, das procissões motorizadas, da falta d’água – e, pior – da falta de luz. É só cair a tromba d’água da tardinha – em meio a raios e trovões – e vupt! Volta-se à Idade Média.

A Ilha vai atravessar o verão caótico sem o direito de se organizar em círculos de defesa, como faziam as carroças do Velho Oeste, tentando resistir a um ataque dos novos hunos. Joia da coroa turística do Cone Sul, a Ilha pagará o preço de ter-se tornado a capital brasileira de melhor qualidade de vida, segundo o IDH da ONU.

O saguão do acanhadíssimo aeroporto Hercílio Luz está transformado numa feira medieval, com direito a ursos e equilibristas. Frigir ao sol, dentro de um automóvel, é programa obrigatório tanto para nativos quanto para adventícios. Todos estão conhecendo o verdadeiro significado bíblico da primeira maldição que o Senhor impôs ao pecador:

“Viverás do suor do teu rosto!”

Enquanto as megacidades do Sudeste, como Rio e São Paulo, começam a experimentar uma autêntica desidratação demográfica – multidões assustadas com o faroeste da insegurança –, Floripa exibe números de crescimento que assustariam o próprio Alfred Hitchcock, o rei do suspense. A Ilha cresce perto de 8% ao ano, um ritmo não experimentado nem mesmo pelas cidades chinesas.

A esse ritmo, Floripa logo precisará de três túneis submarinos entre a Ilha e o continente, como aqueles que ligam Hong Kong a Kowloon.

Nem mesmo se Floripa importasse aquele tocador de obras de Manhattan – um certo Robert Moses –, que espalhou pontes e safenas sobre o East River e o Hudson, entre a Primeira e a Segunda Guerra. Melhorou um pouquinho, por alguns anos. Logo os engarrafamentos recrudesceram e chegaram a Staten Island e Richmond, atravessando a Verrazano Bay Bridge – aquela que John Travolta popularizou em Saturday Night Fever.

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Proponho que uma missão de paz da ONU aporte ali no antigo estaleiro Arataca e inicie as conversações pelas quais a Ilha capitulará, mas com alguma dignidade.

E quando os capacetes azuis chegarem, vou me recolher a alguma photo amarelecida dos anos 1950 ou 1960, no exato momento em que estiver (eu mesmo) entrando na Soberana para comprar um rocambole ou uma bomba (pacífica) de creme. Entre um Studebaker e um Ford Mercury, ao som “Around the World”, “Come Prima” e “Chega de Saudade”.

 

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