Gastronomia ousada, baladas chiques e bares renovam o cardápio de atrações da cidade, que só faz crescer, mantendo clima de praia
FLORIANÓPOLIS – Florianópolis vive, hoje, a fúria do novo. Desde que o século virou, a população da cidade cresceu 35%, o número de carros praticamente dobrou e o de turistas mais que isso, sendo hoje mais de um milhão na alta temporada.
O bairro açoriano Santo Antônio de Lisboa despontou na gastronomia, Jurerê Internacional nas festas de luxo, a praia Mole no turismo gay. Construções ressaltaram no mapa áreas como Novo Campeche e Canajurê. A Lagoa da Conceição se tornou uma meca mais profissionalizada dos tranquilos, e mesmo uma rodovia, a SC-401, que leva às praias do norte, se tornou centro de trabalho e atração turística, pelo crescimento e qualidade do comércio.
Nas listas ou guias de principais restaurantes, bares e clubes, chama a atenção a quantidade de lugares abertos há menos de cinco anos. Jornais mundiais vieram tocar as trombetas, mais estrangeiros chegaram.
Mas a fúria do novo, ainda bem, convive com a impassibilidade do antigo. Florianópolis continua sendo a cidade das fortalezas históricas, do esporte, das tainhas e camarões, de praias familiares e outras só acessíveis por trilhas. Grandes áreas, como Rio Vermelho ou os bairros mais ao sul, têm alma e sotaque bastante preservados. Ali, é possível passear pelos anos 1970 ou 1980, quando a ilha tinha menos de 200 mil habitantes e algumas estradas de acesso ao norte e ao sul posavam para fotos com um carro isolado na paisagem.
Florianópolis é também uma cidade que não para de ganhar praias, aliás. A lista oficial de 42 passou a cem e hoje há quem catalogue 117. Rodrigo Dalmolin, trilheiro que mapeia recantos que o Google Earth ignora e que está escrevendo um livro sobre trilhas e caminhos ilhéus, diz serem mais.
Diz e comprova com fotos. Este jornalista já trilhou com ele e aprendeu que uma cidade ainda com cerca de 50% de área verde tem sempre mais atrativos do que parece. Veja, nesta reportagem, dicas de algumas trilhas específicas da ilha.
Contra o trânsito do verão, a dica é ir antes das 8 horas para a praia. Atualize-se sobre o tráfego em twitter.com/t24horas.
Norte. O norte de Florianópolis está décadas à frente do sul. Isso tem boas e más implicações. Jurerê Internacional se tornou uma das praias-fetiche do Brasil, com três metros quadrados de hoje custando um terreno inteiro de 20 anos atrás. Baladas de luxos seguem surgindo. Muitos vivem ali grandes verões, mas o modelo exclusivista também gera um formalismo que não representa o melhor da espontânea alma manezinha.
A Praia do Santinho (a 19 quilômetros de Jurerê) é mais indicada para saudáveis e surfistas, e Santo Antônio de Lisboa (10 quilômetros), com seu colorido, arborização, casario colonial e gastronomia, suaviza o dia. O bairro acaba de ganhar um restaurante asiático (May) e o seu mais inventivo de frutos do mar (Recanto dos Açores), além de abrigar um bistrô estrelado pelo Guia 4 Rodas (Ponto G), um excelente português (Marisqueria Sintra) e uma série de opções certeiras (Rosso Restro, Bate Ponto, Restinga Recanto, Cantina Sangiovese). Também brotou por ali a cervejaria Sambaqui, com cervejas e sons autorais.
Quase no extremo norte da ilha, a Praia Brava tem desde dezembro um ótimo parador de praia, o Le BarBaron, suprindo uma estranha falta de algo do tipo nessa que é uma das áreas mais elitizadas da ilha. Como atrações extra, vale não perder a histórica Fortaleza de São José da Ponta Grossa (48-3721-8302) e o excêntrico Museu Mundo Ovo de Eli Heil (48-3235-1076; mundoovo@ibest.com.br), aberto sob agendamento. Perto dali, cinéfilos podem ir, na SC-401, ao Paradigma Cine Arte (paradigmacinearte.com.br), que exibe filmes de países variados e é vizinho da melhor padaria da cidade, o Café François.
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Ora, pois.
Sul. O maior trunfo do sul da ilha é sua atmosfera de ampulheta parada. De manhãzinha, visite praias apreciadas pelos nativos, como Morro das Pedras e Matadeiro, para logo estar na trilha mais breve até a Lagoinha do Leste, inclinada, com saída no Pântano do Sul e 50 minutos de duração. É a praia mais bonita da cidade, o que você provará aos amigos tirando fotos do alto do costão direito, o Morro das Coroas, acessível por meia hora de uma subida digna de cabras de montanha.
Menos difundida é a trilha até a praia do Saquinho, uma pequena comunidade sem energia elétrica encravada no sossego. Partindo da praia da Solidão, são 25 minutos cimentados e sombreados que rendem vistas panorâmicas e uma tarde na minipraia de mar pontuado de pedras. Um complemento da visita é petiscar frutos do mar no bar do seu Quirino, mantido com refrigeração a gás.
Para um passeio avançado, na volta pegue o carro e na própria Solidão entre na Rua Lauro Mendes, que três quilômetros depois vira, à esquerda, a Estrada do Sertão do Peri. Há uma parte bastante esburacada, mas ali você respira, no Sertão dos Indaiás, a Florianópolis mais rural possível, onde funcionou o último engenho de farinha e cana-de-açúcar da ilha. A lagoa distante, à direita, é a do Peri. A estrada termina na rodovia principal do Ribeirão da Ilha. À esquerda, 15 minutos dirigindo e 30 caminhando levam à praia de Naufragados, cultuada por alguns surfistas nativos. À direita ficam os restaurantes famosos pelo preparo variado de ostras – cerca de 80% da produção do país está na cidade.
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Leste. O leste de Florianópolis é um caos feliz. Filas, trilhas, gringos, esportes aquáticos, baladas de bermuda, praias decoradas por parapentes, bistrôs impecáveis, culto ao corpo e todo um universo granola-e-açaí se descortinam para quem cruza o morro da Lagoa da Conceição e passeia por ali.
Quem é da música eletrônica, dos ambientes ditos exclusivos e do camarote tem apenas o Confraria Club, há 11 anos referência local do gênero. Quem é de outros sons e de estilos mais tranquilos, porém, está em casa. Comece a noite interagindo com os hóspedes do Backpackers Sunset, apelidado de “hostel resort” pelo seu misto de bar, deques e piscina no alto do morro da Praia Mole, com vista ampla da Lagoa da Conceição. Além de informar sobre as melhores festas da noite, o hostel tem um buliçoso ônibus escolar amarelo que sempre leva a uma delas.
No quesito praias, o menu é ainda mais amplo e variado. Dê uma chance para belas minipraias isoladas, ao melhor estilo naufrágio idealizado. A do Mané Zé é acessível pela última viela à esquerda antes das areias da Joaquina e depois de um trabalhoso costão de pedras. A do Gravatá é um naufrágio diferente, com vista distante para uma praia movimentada, a Mole. Para chegar lá se caminha 30 minutos partindo de uma rampa em frente à escola Parapente Sul.
Outra opção, essa mais frequentada, são as piscinas naturais da Barra da Lagoa, translúcidas nos melhores dias e só não recomendadas quando sopra um forte vento leste. Para chegar até elas são 20 minutos andando a partir da pontezinha da Barra.
Como prato do dia, as dicas clássicas são a Mole e, já no sudeste, o Campeche. A Mole tem bons paradores de praia e se tornou, especialmente pela área entre o meio e o costão esquerdo, referência internacional para o público gay. O Campeche, na parte chamada Riozinho, é a referência dos sarados e vitalizados da ilha, com frescobol supersônico e pipas infladas de kitesurfe animando e colorindo o cenário.
Não perca o passeio à tradicional Ilha do Campeche, com areia de talco, frutos do mar, mergulho livre e trilhas com monitores. Barcos menores partem próximos do Riozinho, e maiores, de serviço profissionalizado, da Praia da Armação (48- 9902-3233; R$ 60 ida e volta, com até cinco horas de permanência na ilha).
Para comer, se a opção for pelos frutos do mar, o Ponta das Caranhas e o Fedoca do Canal estão sempre entre as melhores pedidas. O Bistrô Santa Marta e o Pellegrino Massas Artesanais completam as opções na região (leia mais em Guia gastronômico de Florianópolis: da cozinha clássica às saborosas novidades).
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A parte leste de Floripa tem ótimas oções de praias, como Joaquina e Campeche
Centro. O centro e seus bairros adjacentes estão longe das melhores praias, mas rendem noites agradáveis no verão. No continente fica a Via Gastronômica de Coqueiros, sempre cheia tanto pelos restaurantes como pelos três bares vizinhos com propostas diferentes, Conversa Fiada, Saint Jacques e Zé Mané.
O centro antigo ameaça uma revitalização com quatro bares próximos, Noel, The Mad Kelt, Kibelândia e Gato Mamado. Próximo do Beira-Mar shopping está o mainstream: Original (ampla carta de cervejas, acústicos pop-rock, clima leve) e Devassa (acústicos mas também pagode, sambão, clima Tinder).
No Santa Mônica, a avenida Madre Benvenuta, principal do bairro, próxima do morro da Lagoa da Conceição, parece inaugurar uma fachada por semana. As principais novidades são a creperia La Guirlanda, beneficiada pela larga vivência francesa do dono, e o surto comercial do Posto BR, no número 1477.
Embora postos insinuem madrugadas deprimentes, esse é diferente. Ali surgiu uma cantina, uma hamburgueria que vale sozinha a visita, dois bares com outra unidade na ilha e um bar novo, o Canto do Rio, onde você mesmo pega os copos, abre a cerveja e anota. Às sextas e sábados, samba tranquilo ao vivo.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1. Como praticar esportes aquáticos?
Para kite ou windsurfe, a Windcenter (windcenter.com.br) dá aulas de kite (2 horas, desde R$ 300) e wind (16 aulas, R$ 1250). Para experimentar o flyboard, a ProNáutica (pronautica.com.br) oferece test-drive de 30 minutos na Lagoa por R$ 200. Para stand up paddle, o Floripa Sup Club (48- 9991-3535) aluga equipamento por R$ 15 a hora e oferece aulas. Há aula de surfe de 1h30 na Surf Escola Barra da Lagoa (48-3238- 1360) custa R$ 60. Para mergulho, a Parcel (48- 3284-5564; parcel.com.br) cobra R$ 250 o batismo, R$ 120 o equipamento para mergulho livre e R$ 160 com dois cilindros.
2. Onde pedalar?
Os caminhos do centro até as praias do leste e do norte, além de terem bastante trânsito, esbarram em morros de extensão e inclinação sádicas. A região sul, pelas trilhas, estradas rurais e menor tráfego, é a melhor para andar de bicicleta. A Caminhos do Sertão (48-3234- 7712, caminhosdosertao.com.br) aluga bikes na região por R$ 35 a R$ 70 a diária, além de oferecer passeios guiados de um dia (R$ 95 a R$ 180) e pacotes de volta à ilha, com quatro dias de pedalada (R$ 520 sem hospedagem, R$ 980 com).
(O Estadão, 13/01/2015)
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