Em novembro de 2012, na primeira onda de atentados, o Estado foi pego de surpresa. Dois anos e duas ondas de ataques depois, na terceira investida de criminosos contra as forças de segurança e aos ônibus, setores de inteligência policial receberam na véspera dos ataques informações que indicavam novos episódios de violência. O alerta, no entanto, não foi suficiente para impedir que atentados se repetissem contra ônibus, bases policiais e policiais. A explicação pode estar no fato de que em determinadas áreas, a segurança pública catarinense se preparou para combater os atentados. Em outras, não.
As medidas pós-ataques, de consequência aos fatos criminosos, funcionam, embora muitas vezes evitem apenas ataques pontuais. Exemplos são as prisões dos dois suspeitos de atirarem contra a base da PM (Polícia Militar) no Parque São Jorge e a apreensão de um fuzil e três pistolas 9mm com quatro homens no Estreito, ambas ocorrências de segunda-feira, dois dias depois do início dos atentados. A questão de prevenção, com bloqueadores de celulares nos presídios e radiocomunicadores digitais – ferramentas que não atendem ao Estado na segurança pública – poderiam, se implantadas, ter evitado que novamente policiais se tornassem alvos de bandidos.
Para César Grubba, secretário de Segurança Pública de Santa Catarina, um avanço positivo para as forças de segurança foi a criação, em 2013, do Gramfacrim (Grupo de Acompanhamento e Monitoramento de Facções Criminosas). O trabalho, ressalta, é de paciência, mas já rende resultados. “Ações foram evitadas em função do forte cerco feito pelas forças policiais”, disse.
Se a ostensividade funciona, por outro lado medidas preventivas poderiam fazer com que o Estado soubesse com maior antecedência dos ataques. Uma das ferramentas que poderia auxiliar nesse trabalho são os rádios digitais, equipamentos fundamentais para melhor comunicação das polícias Militar e Civil e do Deap (Departamento de Administração Prisional).
Além disso, a falta de efetivo e a legislação penal permissiva do Brasil são problemas que também afetam as forças de segurança. “Com certeza, o rádio digital faz falta para as polícias, mas o Estado está trabalhando para contarmos com os equipamentos. Em reelação ao efetivo, teremos melhoras a partir dos próximos anos”, afirmou a tenente-coronel Claudete Lehmkuhl, porta voz da PM.
Secretaria de Justiça e Cidadania não fala sobre bloqueadores de celular
A questão dos bloqueadores de celular nos presídios, em especial no maior deles, a penitenciária de São Pedro de Alcântara, parece ser um assunto tabu na Secretaria de Justiça e Cidadania. Ontem, a assessoria de comunicação da pasta que cuida do sistema prisional em Santa Catarina, informou que o secretário Sadi Beck “não responderia as perguntas do Notícias do Dia” sobre os bloqueadores de celular nas prisões. A reportagem tentou conversar com Leandro Lima, diretor do Deap (Departamento de Administração Prisional), mas ele esteve boa parte da terça-feira em viagens e reuniões.
Polícia não revela próximas ações de inteligência
O delegado Akira Sato, diretor da Deic (Departamento Estadual de Investigação Criminal), divisão que cuida das ocorrências relacionadas aos ataques, não quis comentar em que pé estão as investigações e quais serão os próximos passos na tentativa de desbaratar os autores da onda de violência. “O caso é muito complexo e qualquer informação a mais pode atrapalhar toda investigação”, ponderou.
Segundo o delegado, o fato de o atual cenário de crimes ser muito semelhante ao de 2012 e 2013 no Estado, não significa que ataques a órgãos públicos por parte de criminosos seja uma “cultura banalizada” em Santa Catarina. “Isso acontece no Brasil inteiro, não é exclusividade de Santa Catarina”, resume.
Ações de combate a novos ataques
Desde 2012 a SSP (Secretaria de Segurança Pública) investiu cerca de R$ 300 milhões em diversos projetos. O destaque, segundo a SSP, foram investimentos nas áreas de tecnologia, com a criação e ampliação das centrais regionais de emergência, videomonitoramento urbano, armamento para as forças policiais, Corpo de Bombeiros Militar e perícia oficial; viaturas, obras e kits de proteção individual.
Cada kit é composto por um colete balístico, uma pistola .40, um par de algemas e outros acessórios. O secretário César Grubba lembrou que, “pela primeira vez na história das instituições de segurança”, os policiais são portadores de seus próprios equipamentos, não havendo mais necessidade de rodízio nas trocas de serviço.
Sobre a radiocomunicação digital, as cidades contempladas com o serviço em 2014 serão os municípios localizados na fronteira, que receberão o sistema através do Enafron (Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras). A previsão da secretaria é que as demais cidades catarinenses, em especial a Capital e o Litoral, sejam contempladas em 2015.
A SSP admite que a falta de efetivo é um problema sério para as forças policiais. No entanto, garante que de janeiro de 2011 até ontem foram incluídos/nomeados 6.839 servidores na área da segurança pública. Todos os órgãos vinculados à SSP foram beneficiados. A previsão é de um novo concurso na PM em 2015. Já este ano, deverá abrir concurso para o IGP (Instituto Geral de Perícias) e Polícia Civil.
(Notícias do Dia Online, 30/09/2014)
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