No dia 19 de agosto de três anos atrás, uma fritadeira foi responsável pela destruição de metade de um dos principais patrimônios históricos de Florianópolis. Os 110 anos de história da ala norte do Mercado Público foram reduzidos a cinzas em menos de quatro horas.
Depois do fogo, a reconstrução mudou a cara do corredor central e dos boxes daquela parte do prédio, dando a sensação de segurança aos que trabalham ou passam por lá todos os dias.
No entanto, o olhar atento dos bombeiros encontrou uma série de soluções inadequadas, que poderiam causar novos riscos. No lado oposto, a situação é ainda pior. A Ala Sul nem sequer passou por reforma para se adequar ao padrão de prevenção a incêndios.
A obra realizada em 2005 na Ala Norte, após o fogo que a destruiu, seguiu o projeto aprovado pelos bombeiros em junho de 2004. Uma vistoria realizada após a reforma, em janeiro de 2006, mostrou que nem tudo estava adequado ao projeto.
Da aprovação dessa vistoria depende a retirada do habite-se do prédio, que seria a sua liberação para uso pela Secretaria de Urbanismo e Serviço Público (Susp) da Capital.
Hoje, os 120 boxes das duas alas funcionam sem a aprovação dos bombeiros, que, depois daquele ano, não foram mais chamados ao local para inspecionar a situação do imóvel.
– No prédio novo, algumas empresas pediram alvará de funcionamento, mas todos foram indeferidos. A vistoria não aprovou a obra. Na Ala Sul, que não foi reformada, realizamos apenas uma vistoria de manutenção para verificar os itens de urgência – esclarece o capitão do Corpo de Bombeiros Charles Alexandre Vieira.
Previsão é começar reforma em março
Como a última vistoria foi feita há dois anos e sete meses, o Diário Catarinense pediu para que o sargento Áureo Artur Nunes, bombeiro responsável pela última inspeção, acompanhasse a reportagem ao Mercado Público para saber se as adequações foram feitas nesses últimos anos. Com o projeto em mãos, o sargento comparou o que estava desenhado no papel com o que foi instalado.
Bomba d’água diferente da prevista, tubulação com diâmetro menor que o sugerido, pára-raios inadequados, falta de cisterna ou caixa dágua para uso exclusivo dos bombeiros, central de gás e sprinkler apenas nos boxes da Ala Norte, hidrantes ligados à rede sem água e extintores despressurizados ou fora da validade são alguns dos problemas encontrados nos dois braços do mercado.
– O problema é não querer fazer, porque condições têm. A administração de lá pode entrar em acordo com os bombeiros para aumentarmos prazos para a realização das mudanças e pensarmos em formas de adequação – afirma o capitão Charles Vieira.
Para o administrador do prédio, Jucélio Campos, o problema é a falta de verba para completar a reforma na Ala Sul.
– Depois do incêndio, recebemos cerca de R$ 2,9 milhões do governo estadual e da prefeitura para a obra daquele pedaço. Para o outro lado, estamos esperando a liberação de um convênio com o Estado e o investimento de mais R$ 2,5 milhões – explica.
O administrador informou que a obra ainda não foi feita porque a liberação do dinheiro depende do fim do período eleitoral.
– Nossa previsão é iniciar a reforma em março de 2009 – afirma Campos.
(Tatyana Azevedo, DC, 18/08/2008)