Artigo de Antônio Coquito — jornalista socioambiental (Ambiente Brasil, 02/07/08)
Em que condições você quer deixar a realidade socioambiental para os seus filhos e netos? Na sua agenda está em destaque o consumo consciente e responsável? O seu cotidiano incorpora preocupações com a poluição, o efeito estufa e a camada de ozônio? O que você consome na rua, joga a embalagem no lugar correto?
O destino do lixo de sua casa e do seu trabalho segue padrões da coleta seletiva? A sua empresa incorpora práticas de responsabilidade e cidadania socioambiental? Na ação de governo em sua cidade, estado ou no país, você percebe, sugere e participa da formulação de políticas públicas de respeito e preservação do meio ambiente e defesa de direitos? Enfim, você se sente co-responsável pelos problemas e desafios locais e de toda a sociedade?
Bom, para começo de conversa; se a todas as questões anteriores você diz sim, então está atento à nova consciência que tem movimentado a forma de gerir os negócios, o posicionamento de organizações sociais e os tratados de governos: o desenvolvimento sustentável.
Trata-se de um modelo de progresso pautado na evolução gerencial de empresas e governos; mas, também nas atitudes individuais e coletivas comprometidas com transformações socialmente responsáveis. Tais atitudes contribuindo para respeito ao meio ambiente, sua biodiversidade; equilibrando toda a ordem dos aspectos sociais e econômicos. Uma atitude de cuidado com o planeta e seu destino.
O mundo tem refletido a necessidade de uma postura diferente diante da condução dos rumos de nossa casa maior, a terra. Esta preocupação vem acompanhada de uma convocação para jeitos diferentes de ser e de fazer de todos nós. Somos provocados a agir no cotidiano como cidadãos ativos e propositivos.
E assim, mudanças são incorporadas nos planejamentos estratégicos empresariais, nos planos e intervenções governamentais, crescendo a consciência pelo consumo responsável e ecologicamente correto. A sustentabilidade tem diversos desafios, eixos que nos conduzem a um mesmo propósito: sermos cuidadores planetários.
Prioridades socioambientais
Atentar para o planeta que temos, e o que queremos com ele; nossa co-responsabilidade para deixá-lo em condições saudáveis. Esse alerta foi dado pelo conjunto de estudos científicos e programas da Organização das Nações Unidas – ONU. Cito; “Nosso Futuro”, “Agenda 21”, “Objetivos do Milênio”, “Protocolo de Quioto” e “Painel Internacional de Mudanças Climáticas – IPCC”. Neste último, o IPCC adverte no relatório III que todos (entidades, empresas, governos e pessoas) somos chamados a fazer nossa parte por uma nova terra.
A convocação da ONU, por meio da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, é explicita em seus objetivos e intençções. Essa comissão define a primícia de que o modelo socioeconômico sustentável seja capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras; não esgotando os recursos. Esta constatação desenvolvimentista esbarra em um mundo de comportamento, muitas vezes, inconseqüente; ou seja, que consome, destrói e polui sem se importar com os rastros de devastação.
É sinal claro da necessidade de mudar o foco exclusivamente do lucro a qualquer custo, no qual o desenvolvimento econômico desconsidera seu poder de impacto e as co-relações advindas para um pensar produtivo integrado a atenção com o ambiental e o social.
Falando do ambiente sustentável e de seus desafios, não podemos ignorar a interconexão de dois temas que falam direto à urgência da conjuntura pautada no desenvolvimento equilibrado. A comunidade científica internacional aponta como incompatível a harmonia desejada com o cenário de vulnerabilidade social. Esta fragilidade configurada nos altos índices de pobreza e, ainda, um descuido generalizado com os recursos e riquezas ambientais.
Para se ter uma idéia; somos cerca de sete bilhões de habitantes do mesmo território – a Terra, uma verdadeira teia unida em causas e conseqüências. Portanto, também capaz de apontar soluções! Não dá para conviver ignorando contextos públicos, resultado das relações sociopolíticas e econômicas estabelecidas. A realidade diante de nós está a nos provocar; precisamos ter ações concretas.
O mundo está gerando uma radiografia muito perversa, ou seja, três bilhões de pessoas estão vivendo abaixo da linha de pobreza. Isso significa ausência de saneamento básico, moradias em locais inadequados, carência de participação cidadã, dentre outros. São prejuízos de ordem social inclusiva; uma necessidade do despertar do conjunto social para o entendimento de que a negação, em forma de exclusão que afeta a todos, adia o desenvolvimento sustentável.
Se não bastassem as condições de miserabilidade; os dados da ONU falam que no cenário ambiental destruímos 70% da vegetação original. Indo além, unindo meio ambiente degradado e condições de miséria, interferimos nos rumos e custos da saúde pública. A conseqüência no aumento da produção de gases como dióxido de carbono, etano, óxido nitroso, dentre outros, tem efeito danoso à vida humana e do planeta.
Destes, vemos aparecer doenças antes não percebidas e o ressurgimento de outras que já estavam extintas ou controladas. Numa conjuntura global, presenciamos situação de saúde que assusta países ricos e pobres, bairros nobres e de periferia. Esta realidade afeta a todos, num retrato de epidemias que por descuido de todos e irresponsabilidade coletiva, traz o risco de sermos afligidos por pandemias.
Brasil sustentável
No Brasil, o convite à consciência sustentável apóia-se no relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – o PNDU. Segundo o documento, 46,9% da renda nacional concentram-se nas mãos dos 10% mais ricos. Já os 10% mais pobres ficam com apenas 0,7% da renda. E não pára por aí, o sinal vermelho de alerta ambiental chama a atenção; já tivemos 1 milhão de km² de florestas costeiras. Hoje, dispomos de apenas 10% desse total.
Reforçando a constatação do PNUD, o Banco Mundial (Bird) analisa, por meio do relatório denominado “Onde está a riqueza das nações?”, também, as variáveis sociais e ambientais necessárias para o desenvolvimento sustentável. No documento, o BIRD descreve a necessidade de confluência no Produto Interno Bruto – PIB, os recursos naturais e os bens intangíveis.
Estes últimos formados por acesso à educação, saúde, eficiência do sistema judiciário, qualificação de mão-de-obra, emigrantes e crescimento populacional apontados como os mais significativos no relatório. Já no quesito ambiental são avaliados os recursos minerais, madeira, pastagens, áreas de cultivo e ritmo de esgotamento dos recursos naturais.
A situação brasileira, segundo dados do relatório do BIRD, está em condições piores do que a dos nossos vizinhos Argentina e Uruguai. A conjuntura brasileira tem adiado e fragilizado a cidadania. Com isso, percebe-se o não conhecimento e a não utilização dos equipamentos sociais públicos de boa parte do todo da população. E ao mesmo tempo, vimos o estrangulamento do potencial ecológico.
O relatório do Banco aponta como solução sustentável a transferência de investimentos de uma área para a outra, equilibrando o déficit de sustentabilidade, ou seja, se temos potencial numa determinada área, que esta financie e promova o avançar de outra. Um exemplo sugerido no relatório é capitanear e concentrar recursos para áreas como educação, tratamentos de saúde, acesso à moradia etc. Isso significa encontrar caminhos para sanar, dar respostas rápidas e ágeis ao que emperra a sustentabilidade em suas interconexões e amplitude.
Governos, empresas e organizações não governamentais – ONGs -, estão consolidando uma rede de diálogo, uma rede atenta para o debate e compromisso socioambiental de atenção ao contexto planetário. Essa se fortalece no apoio e intervenção direta ou indireta, por meio de programas, projetos e ações para redução da vulnerabilidade social.
Uma atitude séria, de responsabilidade do que temos com o que seremos. Então, pensar em sustentabilidade é comprometer-se com a cidadania local que extrapole para uma preocupação com o todo diante de nós, uma atitude que é incorporada às práticas de indivíduos e empresas.
O chamado para uma sociedade sustentável está colocado. Ele fundamenta-se em três pontos que se interconectam: o desenvolvimento econômico; a preservação do meio ambiente e a consciência de justiça social. Desses, devemos ter a clara compreensão para que nossos acordos e decisões superem a condição de papel.
Neste sentido, ampliarmos nossa compreensão para um compromisso com o que está diante de nós, e com o que mesmo distante, interfere na forma como vivemos. E, além disso, entender que somos responsáveis diretos – pessoas físicas e jurídicas, no local onde atuamos. Assim, contribuímos na gestão do planeta para nós e as gerações futuras.