A área de 32 mil metros quadrados do aterro da Baía Sul, que está sendo retomada na Justiça pela União, deve ser administrada pelo município, que planeja fazer no local um grande parque público. Para transformar o terreno em área de lazer, a Prefeitura da Capital tomará como base o projeto original do aterro, assinado pelo arquiteto Roberto Burle Marx, em 1978. Mas encontra resistência dos comerciantes do Camelódromo Centro Sul, que têm prazo até 1º de maio para deixarem o local.
O co-autor do projeto original, o arquiteto e urbanista José Tabacow, foi contratado pelo Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) para ser o consultor da área. Sua missão, conforme define, é costurar os pedaços que sobraram e foram separados pelas construções no terreno, sem alterá-las, dando um caráter único ao parque.
O trabalho de inspeção começou na semana passada. “O nível de detalhes que precisamos entender para construir o parque é altíssimo. É um trabalho complexo. Por isso, estamos fazendo as primeiras visitas, verificando o que pode ser aproveitado”, reiterou. As ideias que surgirem depois do diagnóstico, que não tem estimativa de ser concluído, serão apresentadas aos técnicos do Ipuf, aos secretários e ao prefeito Cesar Souza Júnior (PSD).
Tabacow destaca que a ideia não é falsificar nem restaurar o projeto original de Burle Marx, mas buscar inspiração em sua obra. “Queremos propor um aterro da forma que foi imaginado, mas adaptado para o espaço. Quando o projeto inicial foi proposto, não tínhamos edifícios no entorno e nem um trânsito tão intenso”, observou.
Os espaços existentes e usados como áreas de socialização, como o CentroSul, a Passarela Nego Quirido e os clubes de remo devem ser mantidos no projeto. Mas o arquiteto opina que outros, como a estação de tratamento de esgoto da Casan, poderiam sair dali. “Qual é a cidade do mundo que pode se dar ao luxo de virar as costas para uma paisagem dessas? Aqui não é o local ideal para essa estação. É uma interferência que poderia sair e dar lugar a restaurantes, pista de skate ou até um grande espaço para shows, que não temos hoje na cidade”, questionou.
Comerciantes pedem definição de local antes do fechamento
Resistente em meio ao vácuo deixado pelo estacionamento da Comcap e entulhos restantes do que um dia foi o Direto do Campo, o Camelódromo permanece de portas abertas, mas os corredores estão vazios. Não fosse pela presença de um ou outro morador de rua que perambula pelos boxes pedindo dinheiro ou a fidelidade dos clientes conquistados nos 17 anos de existência, o trabalho dos cerca de 150 comerciantes perderia o sentido. Mas não desistir, para eles, é sobreviver.
Mesmo depois que os vizinhos deixaram o terreno do aterro da Baía Sul, os ex-ambulantes permaneceram firmes. A ameaça de despejo anunciada em 2010 foi ignorada até o começo deste ano.Oprazo que estabelecia a desocupação até 18 de fevereiro foi prorrogado na Justiça, que concedeu uso até 1º de maio. Alegando que não têm para onde ir, comerciantes confiam que a prefeitura vai arrumar um espaço para realocá-los. Caso o município não cumpra a promessa feita em janeiro, eles garantem que não vão sair. “Começamos com uma negociação pacífica. Não vamos sair enquanto não houver posicionamento da prefeitura”, reclama Rosemari Rabelo, presidente da Acacif (Associação do Camelódromo Cidade de Florianópolis). Reunião com o prefeito está marcada para hoje, às 10h.
Mesmo perdendo 80% da clientela, o desejo dos comerciantes é permanecer onde estão. Sabendo que é impossível, querem ser instalados em algum lugar que seja compatível com área de comércio, na área central, de preferência. O município sugeriu dois espaços: uma área próxima ao terminal Cidade de Florianópolis e o terminal desativado do bairro Saco dos Limões.
União avalia cessão
O lugar mais viável para a realocação dos comerciantes seria uma área próxima ao Terminal Cidade, que também pertence à União. A cessão ao município está sendo analisada. “Estamos olhando a questão da localização, se já faz parte da cessão à prefeitura, se tem condições de abrigar o empreendimento”, reiterou a superintendente do Patrimônio da União em Santa Catarina, Isolde Espíndola. Ela ainda não sabe quando dará resposta à prefeitura, mas adiantou que com ou sem anúncio o terreno do aterro da Baía Sul deverá estar desocupado até o prazo legal.
(Notícias do Dia,15/04/2013)