No mês passado, a Pixeon, empresa de software para a área de saúde, com sede em Florianópolis, anunciou uma fusão com a Medical Systems, de São Bernardo do Campo (SP). Atualmente, o gaúcho Fernando Peixoto, ex-presidente da Pixeon e atual diretor de pesquisa e desenvolvimento da nova empresa, estuda como vai ser a integração das equipes.
“Dois terços do pessoal de São Bernardo estaria disposto a vir para Florianópolis, mas só um terço do pessoal daqui mudaria para São Bernardo, e só com algum incentivo”, disse Peixoto. Ele mesmo definiu, como uma das condições da fusão, continuar em Floripa.
Esse parece ser um dos segredos do sucesso do polo de tecnologia de Florianópolis: a atração de pessoas de várias partes do País, que montam suas empresas ao redor de um centro de excelência que é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A cidade nem sempre tem a visibilidade de outros polos, como Campinas e Recife, mas já conta com uma história de décadas e, neste ano, deve ultrapassar R$ 1 bilhão em faturamento.
Falta pouco. No ano passado, o polo tecnológico de Florianópolis faturou R$ 958 milhões e, se manter o crescimento médio de 16% dos últimos anos, vai chegar aos 10 dígitos. Segundo dados da prefeitura, no ano passado eram 489 empresas ativas de software e serviços e 71 de hardware. A cidade é muitas vezes chamada de “capital do turismo”, mas já faz alguns anos que o setor de tecnologia da informação ultrapassou as atividades turísticas como a principal fonte de negócios para Florianópolis.
O polo começou a se estruturar em 1984, com a criação do Centro Regional de Tecnologia em Informática (Certi), a partir do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC. O objetivo era ajudar empresas a desenvolver produtos de alta tecnologia. Posteriormente, o centro foi renomeado Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras, mantendo a mesma sigla. “No começo, trabalhávamos mais para São Paulo, para empresas como Metal Leve, Cofap e Volkswagen”, afirmou Carlos Alberto Schneider, superintendente geral da Certi. “Não existia cliente aqui.”
Para ajudar a resolver esse problema, a Certi criou em 1986 a Incubadora Empresarial Tecnológica (IET), que depois passou a se chamar Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas (Celta). A Chaordic Systems é uma das 30 empresas incubadas no Celta. Ela oferece, a varejistas virtuais, um sistema de recomendação de produtos para consumidores. Entre seus clientes estão a Saraiva e a Nova Pontocom. “Florianópolis tem uma comunidade boa e empreendedora”, afirmou Anderson Nielson, diretor de Gestão de Pessoas da Chaordic. Ele é de Joinville. “A diversidade cultural contribui muito para criar empresas novas em Florianópolis.”
Pessoas. Um estudo feito ano passado pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) mostrou que cerca de 10 mil pessoas trabalhavam no setor de tecnologia da informação e comunicação em Santa Catarina, sendo que 36% estavam em Florianópolis. O estudo ouviu 354 empresas, que tinham 2,2 mil vagas em aberto, para contratação imediata. Para este ano, a previsão era de 5,7 mil vagas em aberto.
“Hoje o maior problema é a falta de mão de obra”, afirmou Guilherme Stark, presidente da Acate. Stark é sócio fundador da Reason Tecnologia. Fundada em 1991, a empresa fabrica equipamentos para o setor elétrico.
A reclamação de falta de mão de obra é comum em outros polos de tecnologia brasileiros, como Campinas (SP) e Recife. Em parceria com a Acate, o governo de Santa Catarina criou um programa de treinamento de jovens chamado Geração Tec, que tem como objetivo formar 1.150 pessoas neste ano. “Até 2014, queremos formar 5 mil pessoas”, afirmou Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina.
Especializada em sistemas de gestão, a Softplan/Poligraph é uma das maiores empresas do polo de Santa Catarina. Criada em 1990, a Softplan emprega 1,1 mil pessoas, e tem expectativa de faturar R$ 150 milhões este ano, um crescimento de 30% sobre 2011. “Uma das causas do desenvolvimento do setor de software em Florianópolis é a situação geográfica”, disse Moacir Antônio Marafon, diretor e um dos fundadores da Softplan. “Não podem se instalar na ilha indústrias que causam impacto ambiental.”
Marcelo Amorim atua como investidor anjo. Sua empresa, a Jacard Investimentos, é uma das sócias da Axado, que permite comparar preços de frete. Amorim mudou-se de São Paulo para Florianópolis em 2004. “O nível do polo é muito alto, mas não se vende essa história bem vendida”, disse. “No Brasil, a única comparação é com Campinas.”
(Estadão, 23/09/2012)