A Semana Nacional do Trânsito começa amanhã, e neste ano, o foco das ações de conscientização está no excesso de velocidade, um dos principais motivadores de acidentes. Mas além de tentar reduzir a violência no trânsito, os próximos dias também devem servir de reflexão para todos que fazem parte do trânsito. O que cada um de nós pode fazer para melhorar a mobilidade? Mostramos nesta reportagem algumas iniciativas em Santa Catarina que podem servir de exemplo.
O trânsito faz parte do dia a dia das pessoas e é foco de críticas e cobranças. Mas o que muitas vezes não se percebe é que o comportamento de cada um ajuda a tornar as ruas violentas e sem mobilidade. Para conscientizar a sociedade, acontece de amanhã até o dia 25, a Semana Nacional do Trânsito, promovida pelo Conselho Nacional de Trânsito. As ações querem alertar para o perigo do excesso de velocidade, uma das principais causas de acidentes. O foco são jovens entre 18 e 25 anos. Em SC, a violência nas estradas estaduais já levou 295 pessoas à morte este ano.
Se os acidentes com mortes são o lado mais cruel do trânsito, é no dia a dia que percebemos outro problema crônico: a falta de mobilidade. Em Florianópolis, quem acessa a Ilha todas as manhãs sabe o que é isso. É difícil disputar espaço entre os 180 mil carros que passam por dia na BR-282. No final de tarde, o sufoco se repete no sentido contrário. No Sul da Ilha, motoristas saem cada vez mais cedo de casa para evitar transtornos em direção ao Centro. Nem a inauguração, em dezembro, da faixa reversível da SC-405 os problemas foram resolvidos.
No Norte da Ilha, o principal ponto de congestionamento é na SC-403, saída do Bairro Ingleses e, também, na ligação do Rio Vermelho. Com o término da duplicação da SC-401, o trânsito melhorou, mas aumentou o número de motoristas que excedem o limite de velocidade e provocam acidentes. Sem falar do que turistas e moradores enfrentam no trânsito da Lagoa da Conceição no verão.
Blumenau também já mostra reflexos dos 218 mil carros. A cidade, com muitos morros, cortada pelo Rio Itajaí-Açu, já não consegue ampliar a estrutura viária. Ainda na região do Vale, é a BR-470, segunda mais movimentada do Estado, que traz preocupações. Apesar de ter boa estrutura e sinalização, a rodovia é uma das mais perigosas.
Já o trecho Sul da BR-101 é o principal gargalo. No feriado de 7 de Setembro, motoristas ficaram quatro horas na fila em Laguna, que ainda não teve a duplicação concluída.
Nesta Semana Nacional do Trânsito, vamos aproveitar para discutir problemas e mostrar que quando a consciência acompanha a evolução das cidades, dos carros, dos tempos, é possível, sim, criar alternativas. Confira na página ao lado histórias de pessoas que decidiram ir em busca de soluções para melhorar a mobilidade.
Anjos de rodas
Se você quer começar a pedalar, mas tem medo de fazer isso no meio da cidade, saiba que pode contar com uma ajuda especial. Os Bike Anjos são ciclistas experientes e voluntários que ajudam pessoas que querem aprender a andar de bicicleta na cidade correndo menos riscos. Eles saem para pedalar com você, dando dicas e ensinando boas rotas por Florianópolis. E tudo de graça. Os anjos estão nas redes sociais: www.facebook.com/BikeAnjoFloripa. Em SC, estão também em Itajaí.
Preferência
O engenheiro eletricista Vinicius Rolim alterna: usa ônibus e carro. Quando opta pelo transporte coleitvo, chega mais cedo em casa, já que o veículo tem via exclusiva na saída do túnel até o terminal do Centro, em Florianópolis. Vinicius lembra que é importante dar preferência aos ônibus.
– Tento ceder a vez, sobretudo nos casos de afunilamento. Temos que respeitar, pois sua capacidade de transporte é maior. Precisamos deixar de ser egoístas no trânsito.
Estacionamento
A segunda infração mais cometida pelos motoristas de SC é o estacionamento irregular: perde apenas para o excesso de velocidade. O Trânsito 24h recebe, todos os dias, flagrantes de diversas cidades do Estado de motoristas que não respeitam a sinalização e acabam usando a falta de educação para estacionar.
DE BICICLETA
Enio Guilherme conta a história da mulher dele. Há dois anos eles saíram do Bairro Estreito, em Florianópolis, para morar em Palhoça. Para Enio, projetista de 41 anos, a mudança trouxe conforto: estava mais perto do trabalho e podia ir pedalando para a empresa. Mas Lígia continuava trabalhando na Ilha. Cansada de perder tempo nos congestionamentos, a química de 43 anos resolveu fazer alguns testes quanto ao percurso. Tentou várias rotas de ônibus, somando o custo da passagem com o tempo percorrido. Ela gastava quatro horas por dia para ir e voltar.
Então, resolveu comprar uma bicicleta e pedalar os 25 quilômetros: leva uma hora e meia. Só que o caminho exige muita atenção e concentração porque precisa passar pela marginal da BR-101, Beira-Mar de São José e Beira-Mar Norte – sendo que apenas estas duas últimas contam com ciclovias.
– Poderia ser mais rápido se tivesse mais estrutura para ciclistas no caminho – ressalta Enio.
E Lígia agora está em outro teste: há duas semanas comprou um modelo de urbe bike – uma bicicleta dobrável. O equipamento pode ser útil naqueles dias em que ela sai de casa com o tempo seco e no fim da tarde está chovendo. É só dobrar a bicicleta, colocar na bolsa e voltar de ônibus.
A PÉ
O empresário Roberto Gretz, 34 anos, dá um exemplo simples para melhorar a mobilidade urbana. Ele comenta que na Grande Florianópolis temos pequenos “centros de facilidades”, onde, em um raio de três quilômetros, há farmácias, mercados, bancos, escolas, academias, e não é preciso se deslocar para longe.
Centros como nos bairros Trindade, Ingleses, Campinas, Kobrasol ou Estreito, onde mora. Residindo em um desses centros, Roberto faz tudo que pode a pé, inclusive em dias de chuva.
– Quando chove, a contribuição para a mobilidade é maior ainda, já que mais pessoas saem de carro.
Roberto tem um escritório em casa e outro no mesmo bairro em que mora, para onde também vai a pé. Quando precisam usar o carro, ele e a mulher Vanessa planejam um trajeto que atenda a ambos, usando um só carro.
Outra solução apontada por Roberto, ao alcance de qualquer um, é fazer tarefas pela internet, como pagar contas, ao invés de se deslocar ao banco. Outra dica é dividir o carro com alguém conhecido e pegar uma carona.
– Faço tudo a pé. Do meu prédio à academia são cinco quadras. E tem gente que vai de carro.
Roberto conta que desde a faculdade tinha carro e deixava na garagem.
– Hoje uso menos a bicicleta porque no meu bairro não há ciclovias.
DE CARONA
Fabiano de Freitas Silva e seus colegas de trabalho, Vitor e Fernando, arranjaram uma ideia bem simples para ajudar o trânsito. Eles moram em bairros da Grande Florianópolis, um no Estreito e os outros dois em Barreiros, no Continente. Eles trabalham no Parqtec Alfa, no João Paulo, que fica na parte da insular. Há três meses fazem um rodízio de carros. A cada semana um vai de carro dando carona aos outros. Além do congestionamento para entrar na Ilha todas as manhãs, outro problema foi amenizado.
– O estacionamento da empresa está sempre cheio. Se eu chegar às 8h10min, já não tem mais vagas – reclama Fabiano.
Menos carros nas vias e menos vagas ocupadas no estacionamento. Além da economia dos gastos que foi para todos e da companhia para todo o trajeto. O grupo aprovou a mudança e recomenda a todos.
(DC, 17/09/2012)