Enquanto Ipuf e incorporadora não chegam a um acordo para criar faixa, ciclista sofre acidente fatal no último dia de trabalho
A morte de um ciclista na Avenida Madre Benvenuta, em Florianópolis, na última sexta-feira, aconteceu em um local onde deveria existir uma ciclovia, conforme o Termo de Ajustamento de Conduta assinado pela incoporadora que construiu o Shopping Iguatemi.
Devido a esse acidente, a sexta bicicleta fantasma será instalada em Florianópolis hoje, às 19h30min. Criado em 2003, nos Estados Unidos, o movimento se espalhou pelo mundo, colocando bicicletas brancas onde ciclistas sofrem acidentes fatais.
O homenagem será em memória a José Lentz Neto, ciclista que foi atropelado a poucos metros da Universidade do Estado de SC (Udesc), onde foi servidor por 42 anos. Aos 60 anos, Lentz voltava para casa depois de seu último dia de trabalho na Central de Documentação. Tinha acabado de se aposentar. Segundo a filha Amanda, que estuda na Udesc, ele fez cirurgia de redução de estômago há alguns anos e começou a andar de bicicleta em busca de qualidade de vida.
A discussão entre ciclovia e ciclofaixa
Daniel de Araújo Costa, presidente da Associação de Ciclousuários da Grande Florianópolis (Viaciclo), participou da organização de uma bicicletada, que será realizada antes da colocação da bicicleta fantasma.
Chamada de Ride of Silence, passeio do silêncio, em tradução literal, o protesto tem o objetivo de cobrar a construção da ciclovia (pista com proteção de meio-fio) na Madre Benvenuta, como proposto quando o Shopping Iguatemi foi construído. A incorporadora Pronta, maior acionista do shopping, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta se comprometendo a construir ciclovia e ciclofaixa (só com pintura para indicar o trânsito de bicicletas). Segundo o advogado da Pronta, Alexandre Araújo, o problema é que o termo de compromisso prevê a construção de ciclofaixa, e o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) entendeu que no local seria construída uma ciclovia.
– É um local onde o metro quadrado é muito caro. Para fazer uma ciclovia seria preciso desapropriar terrenos, alterar calçadas, é uma obra de milhões e não é o que nos comprometemos a fazer – disse Alexandre.
A implantação da ciclovia na Madre Benvenuta, se foi prometida, precisa ser executada. Segundo acordo firmado com a municipalidade, a ciclovia seria de responsabilidade do Shopping Iguatemi. Mas uma questão semântica (ciclovia ou ciclofaixa), com argumentos técnicos, está transformando a celeuma, na verdade, num jogo de empurra que envolve o Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). A burocracia lerda pode ser tão letal quanto o trânsito violento. O poder público e o setor privado precisam se unir para parar de contabilizar mortos.
(Por Roberta Avila, DC, 05/09/2012)
Processo vem desde 2006
O shopping foi inaugurado em 2006, desde então o processo sobre a ciclovia tramita na Justiça Federal. Enquanto isso, acidentes no local somam-se às estatísticas.
Segundo o Ipuf, o acordo feito com o Shopping Iguatemi, em audiência pública realizada em 2008, quando o processo corria na Justiça, é que o projeto realizado seria elaborado pelo Ipuf e pago pelo shopping. Conforme o instituto, mesmo sem alterações no trânsito da Madre Benvenuta, 400 metros de ciclovia já poderiam ter sido feitos, incluindo o trecho vizinho da Udesc, onde ocorreu o acidente fatal, e o trecho que foi feito, na Avenida Beira-Mar.
Conforme o instituto, existem fatores no projeto do Ipuf que encarecem o projeto, como iluminação e canteiros, mas o trecho de 300 metros entre a Udesc e o posto Petrobras já poderia ter ciclovia, não é necessária nenhuma modificação no trânsito para essa parte da obra.
Desde o início de 2012, segundo a Polícia Rodoviária Militar, no Estado foram registrados 90 acidentes envolvendo ciclistas, 20 fatais.
(DC, 05/09/2012)