Gente fazendo compras com sacola de pano ainda existe. Em Joinville, as padarias dão desconto para quem dispensa sacola de plástico. Vale para o pão e para o leite também.
A idéia de baixar o consumo de sacos plásticos surgiu em uma escola. Foi sugestão das crianças preocupadas com o meio ambiente e assustadas com o que viram numa visita ao aterro sanitário da cidade.
“Aquele cheiro ruim, aquele monte de sacola de plástico. Tem muita, mas muita sacola de plástico”, diz Letícia de Souza, de 10 anos.
É muita sacola mesmo. Em um mês, nós, brasileiros, usamos um bilhão de sacos plásticos. E um bilhão por mês significa que, do começo desta reportagem até agora, foram consumidos mais de 23 mil saquinhos só no Brasil. E o pior: o Brasil parece assistir passivo ao desastre, enquanto países já reagem.
O governo chinês quer mudar a imagem de um dos países mais poluidores do mundo. O primeiro vilão a ser derrotado já foi escolhido: os sacos plásticos.
A partir de 1º de junho, lojas e supermercados não poderão mais oferecer sacos plásticos gratuitamente. E fica proibido também fabricar, vender e usar sacolas plásticas muito finas, aquelas que de tão fininhas não podem ser recicladas. A decisão radical surpreendeu. Mas a China está apenas seguindo uma tendência internacional.
Em 2002, a Irlanda passou a taxar as sacolas plásticas. Em um ano, o uso caiu mais de 90%. Na Alemanha e na França, só recebe sacola plástica na loja quem paga por ela. Na África, Ruanda, Quênia, Tanzânia e África do Sul, proibiram o uso de sacolinhas plásticas.
Enquanto isso, no Brasil…
“Você vai na loja de vídeo, eles colocam dentro do saco plástico. O saco do supermercado não é lá grandes coisas. E eles colocam dois sacos de supermercado”, indaga a atriz Gláucia Rodrigues.
O Fantástico propôs uma tarefa para Dona Gláucia, Seu Luiz e os três filhos: guardar, durante uma semana, todo saco plástico que recebessem na rua. “Agora, para onde vai isso?”, pergunta Dona Gláucia.
Aí é que está problema! Só 20% dos plásticos são reciclados no Brasil. O resto? Bom, o resto está aí, poluindo os mares e matando peixes, boiando nos rios e entupindo bueiros. Acredita-se que o plástico leve até dois séculos ou mais para se decompor.
“O lixo que a gente produz fica aqui. Não evapora, não vai para Marte, não vai para a Lua. Fica aqui. E se não é degradável, é uma tragédia”, comenta Gláucia.
Plástico biodegradável? O que é isso?
“É um produto que se degrada por ação de microorganismos vivos e, portanto, ele deixa de existir para se transformar em moléculas menores que não prejudicam o meio ambiente”, explica a pesquisadora Maria Filomena Rodrigues, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo.
No Brasil, já existe tecnologia para a fabricação de plástico biodegradável. Existe até uma usina fabricando matéria-prima, no município de Serrana, pertinho de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Lá, a cana vira açúcar, e o açúcar vira plástico biodegradável.
“Se for colocado no lixo, em até 180 dias ele desaparece totalmente, se transformando em gás carbônico e água”, garante o fabricante de plástico biodegradável, Sylvio Ortega.
Mas, por enquanto, tudo o que a usina produz vai para o exterior. No Brasil, ainda usamos o velho plástico, aquele feito a partir do petróleo, que leva séculos para se degradar.
Alguns anos atrás, apareceu no mercado aquilo que parecia ser a solução do planeta. Você já ouviu falar no chamado plástico oxibiodegradável? Ele também vem do petróleo. Em menos de um ano, o plástico exposto ao sol vira pó. Mas logo surgiram críticas, dizendo que o produto não se biodegrada. Ele apenas faz o plástico virar pó – um pó cheio de metais pesados.
“Esta é uma grande falácia, um grande engodo. Quando você fala em biodegradável, você pensa que se desmancha no ar, desaparece na natureza. Isso não é verdade”, afirma o representante da indústria de plásticos, Francisco Assis.
“Os laudos comprovam que é um produto que não agride o meio ambiente, pelo contrário, ele veio para ajudar a diminuir os resíduos produzidos no meio ambiente”, comenta a fabricante de plástico oxibiodegradável, Flávia Morandini.
No Rio de Janeiro, a família de Dona Gláucia cumpriu a tarefa que o Fantástico sugeriu:
“Em praticamente uma semana, a gente juntou 84 sacos plásticos. Dá uma média de mais de dez por dia”, calcula a atriz.
Nos cinco minutos que durou a reportagem, 115 mil sacolas plásticas foram consumidas no Brasil.
(Globo.com/Fantástico, 16/03/08)
1 Comentário
O Sr. presidente do Plastivida tem um discurso antigo e requentado sobre a tecnologia. Há mais de 04 anos ele, juntamente com as petroquímicas que ele representa, vem lançando um discurso de desqualificação não fundamentada sobre a tecnologia. Se realmente ele tivesse razão, nós já não estaríamos mais no mercado.