O assunto mais comentado da última semana, a duplicação da rua Deputado Antônio Edu Vieira, no Pantanal, não é recente. Há mais de nove anos, a Prefeitura da Capital estuda uma forma de facilitar a vida de moradores, estudantes e visitantes que utilizam a principal via do bairro, além de fechar o anel viário com vias rápidas no entorno do maciço do morro da Cruz.
Foram necessárias muitas audiências públicas com a comunidade para se chegar ao atual projeto, rejeitado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A universidade tem participação fundamental no projeto, já que, sem a cessão de parte de seus terrenos, a obra não será possível.
Segundo o vice-prefeito de Florianópolis, João Batista Nunes, em 2003, um projeto de duplicação de toda a via, os 2,1 quilômetros entre a rua João Pio Duarte Silva, na entrada para o Córrego Grande, até a João Motta Espezim, no Saco dos Limões, chegou a ser aprovado pelos vereadores, em sessão pública no Pantanal. “Desde então, o projeto de duplicação faz parte do plano diretor da cidade. Todas as novas construções obedecem ao afastamento necessário da rua”, explica Nunes.
O projeto ousado chegou a ser licitado, mas as desapropriações necessárias passaram a custar caro ao município. O secretário municipal de obras, Luiz Américo Medeiros, estima que seriam necessários mais de R$ 20 milhões para pagar as indenizações. O município entendeu, então, que poderia fazer em partes. Como não seria preciso indenizar a UFSC, já que se trata de uma área pública, essa se tornou a solução viável.
“Assim, seria duplicado apenas o trecho que não necessitaria de desapropriação. Faríamos um binário na Edu Vieira, sentido Armazém Vieira até a rótula da Eletrosul”, comentou Medeiros. Com parte da rua com mão única, já que apenas 900 metros seriam duplicados, os carros seriam desviados para a avenida Cesar Seara. A rua Capitão Romualdo de Barros, na Carvoeira, teria o trânsito também em mão única, no sentido oposto, assim como parte da João Motta Espezim.
Prefeitura garante humanização
Nunes garante que todos os trechos do projeto receberiam humanização. Seriam feitas obras de saneamento, drenagem, recuperação do asfalto, ciclovias e ciclofaixas, entre outros, principalmente na Edu Vieira. A parte duplicada sofreria mudanças significativas. “Cada lado teria calçada de 2,5 metros, ciclovia de 2,8 metros e 1 metro de canteiro para separar a ciclovia da pista. Além disso, seriam mais sete metros das duas pistas em cada sentido, com trechos com canteiro central”, afirma.
Também estava prevista faixa exclusiva de ônibus para o transporte BRT (Bus Rapid Transit). “Todos os horários dos ônibus foram discutidos com a comunidade, e estavam integrados para facilitar o transporte coletivo entre o Centro e a UFSC”, complementou. O novo projeto também chegou a ser licitado, no ano passado. “Sem garantias da UFSC, tivemos que suspender, a pedido do TCE (Tribunal de Contas do Estado)”, confirma Medeiros.
Para Nunes, a principal perda para o bairro foi o novo posto de saúde, previsto no projeto em área que seria cedida pela universidade. “Já tinha dinheiro garantido para a construção, mas não temos onde construir”, afirmou. O secretário Luís Américo Medeiros acredita que duplicação ainda será realizada. “Só não sabemos quando. Mas a obra é essencial para resolver os problemas de trânsito no local”, concluiu.
Universidade questiona “fragilidade”
O reitor da UFSC e presidente do Conselho Universitário, Álvaro Prata, afirmou que a maior crítica dos integrantes do conselho e dos moradores do entorno está na fragilidade do projeto apresentado pela prefeitura. “Faltam simulações sobre o assunto. Qual seria a garantia de que o sistema binário é a melhor solução para a mobilidade?”, questionou.
Prata ainda acrescentou que o projeto não prevê incentivos para o transporte coletivo, ciclovias e faixas para o BRT. “Com uma via mais alargada, os carros serão priorizados. A UFSC está disposta a ceder o terreno, mas falta contextualizar tudo isso. Mais de 35 mil pessoas circulam por ali diariamente. O trânsito pode ficar perigoso e há possibilidades de, no futuro, a UFSC ter que mudar de lugar”, complementou.
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Projeto rejeitado: R$ 6 milhões
Obras de revitalização do asfalto, drenagem e esgoto, sem duplicação: R$ 3 milhões
(Emanuelle Gomes, ND, 17/03/2012)