Ex-vereador em São José, Carlos Lelis parte para o ataque contra Juliano Campos, também investigado no suposto esquema
Apontado como um dos intermediários no pedido de propina de R$ 250 mil ao empreendimento Jardim Botânico, o ex-vereador de São José Carlos Lelis, o Cao Lelis, resolveu partir para o ataque. Não contra a polícia nem contra empresários, mas mirando o ex-assessor parlamentar Juliano Duarte Campos, que seria outro negociador, segundo a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Os dois são citados nas denúncias de cobrança de propina e extorsão envolvendo fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em Florianópolis. Cao Lelis disse em entrevista ao Diário Catarinense, na sexta-feira à tarde, que foi Juliano quem o procurou para que chegasse no empresário Davi de Souza, dono da J.A. 01 (Jardim Botânico), de São José. Lelis disse que foi usado por Juliano e confirmou que houve pedido de propina para que a obra não fosse multada pelos fiscais.
Na Deic, as declarações de Lelis soaram como tentativa de defesa do político. Na semana passada, ele conversou com o delegado Renato Hendges, o responsável pela investigação do grupo, para garantir que era inocente. O delegado afirmou que Lelis atuou como intermediário no caso do Jardim Botânico, que há provas e que ele deve responder por isso.
O advogado Luiz César Silva Ferreira, defensor de Juliano, disse que as afirmações de Lelis são inverdades e que ele terá de provar o que disse na Justiça. O advogado também mostrou irritação com as constantes entrevistas do delegado Hendges sobre o seu cliente, e afirmou que pedirá providências na Corregedoria da Polícia Civil. O delegado comentou que as suas entrevistas são baseadas na investigação. Ele não vê nenhum problema no fato de o advogado procurar a corregedoria.
O policial declarou que Juliano figura como o principal intermediário das denúncias de extorsão que os dois empreendimentos fizeram à polícia: o Jardim Botânico e o Shopping Continente (Grupo Almeida Junior). Para o policial, as situações contra Juliano ficaram evidentes nas conversas gravadas em que o servidor do Ibama, Eduardo Benício de Abreu, apareceu negociando valores da propina. Eduardo nega os crimes.
A partir de segunda-feira, os 13 nominados pela Deic começarão a ser ouvidos pelo Ministério Público Federal, na Capital. Serão interrogados pelo procurador da República Walmor Alves Moreira num procedimento de investigação criminal. O procurador quer complementar as informações e aprofundar a investigação.
Investigação envolve corrupção e formação de quadrilha
Em nota, na sexta-feira, Walmor afirmou que investiga supostos crimes de concussão (quando o servidor exige vantagem para exercer a função), corrupção e formação de quadrilha, que teriam sido praticados por servidores do Ibama – na semana passada, três servidores foram afastados do trabalho por 60 dias.
A Deic chegou a nominar a ação que pretendia desencadear. Seria a operação “Tsunami”, conforme consta no inquérito policial enviado mês passado à juíza de São José, Iasodara Fin Nishi. O delegado pediu prisões e mandados de busca e apreensão. A magistrada não chegou a julgá-los. Ela enviou a investigação à Vara Criminal Federal de SC, pois entendeu que compete à Justiça Federal julgar os fatos.
Por Diogo Vargas, DC, 21/08/2011)
“Eu fui usado e não sabia”
ENTREVISTA: Carlos Lelis, Suspeito de envolvimento no esquema
Suspeito diz que levou “documento” a empresário porque achou que ele seria multado pelo Ibama
Diário Catarinense – O senhor diz que foi usado nessa situação. Usado por quem?
Carlos Lelis – Eu fui usado pelo Juliano. Ele me pediu para procurar um empresário amigo meu, que esse empresário iria tomar uma multa. É o empresário Davi (Jardim Botânico).
DC – Mas o Juliano coagiu o senhor? O que ele lhe fez?
Lelis – Não. O Juliano me procurou perguntando se eu era amigo desse empresário. Eu disse que eu era. Ele disse: ‘ah, então tu vai lá e fala com ele porque esse empresário tem um empreendimento que ele fez negócio errado e vai tomar uma multa em R$ 1,2 milhão’. Disse que teve uma denúncia do Ministério Público Federal sobre o loteamento. O MPF, quando recebe a denúncia, faz o processo e manda para o Ibama se manifestar. Assim foi feito. Aí ele me procurou dizendo que tinha um documento para o empresário, pedindo se eu poderia levar. Aí o cara é meu amigo e lógico que eu vou levar.
DC – O senhor foi mensageiro?
Lelis – Sim, mensageiro e fui usado. Não sabia (propina). Aí esse foi o primeiro momento. Eu mostrei para o empresário e ele foi atrás. Aí o empresário me procurou perguntando o que eles pediram. Naquele momento eles não tinham pedido nada. Mas depois, retornou a me procurar, esse Juliano, e que teria de dar alguma coisa lá para os caras despacharem.
DC – Era dinheiro?
Lelis – Era dinheiro, né. Ele acha que fui eu que falei. O próprio empresário começou a gravar eu e o Juliano. Talvez ele não acreditou na amizade que nós tínhamos.
DC – Havia corrupção?
Lelis – Não posso dizer porque nunca vi os fiscais do Ibama e nunca vi o Juliano junto com os caras. Mas vi em entrevista o próprio fiscal dizer que é amigo dele há 20 anos.
DC – O senhor não imaginou que poderia envolver propina?
Lelis – Não, mas depois, numa segunda parte, eles pediram propina.
DC – Quem pediu?
Lelis – O Juliano, falando que os fiscais queriam propina de R$ 250 mil para liberar a documentação. Aí o empresário, ora queria pagar, ora não. Aí eu ficava com medo. Aí começaram as conversas do Davi com o Ibama. Até que uma hora eu me aporrinhei com a situação e falei para o empresário que não ia intermediar mais. Passei a mão no meu celular e liguei para a Deic pedindo que alguém intervisse na situação que eles estavam extorquindo.
(DC, 21/08/2011)
Promotor assume caso Ibama em Santa Catarina
Justiça estadual declina em favor do Ministério Público Federal
O Ministério Público Federal assumiu na sexta-feira a competência para investigar, processar e julgar a notícia de supostos crimes de concussão, corrupção e formação de quadrilha, praticados por servidores do Ibama no âmbito da Justiça Federal.
A Justiça estadual decidiu declinar da competência para investigar o caso. O procurador da República, Walmor Alves Moreira, informou que vai instaurar um procedimento investigatório criminal, no qual estão sendo coletados documentos da Polícia Civil, Ministério Público e Justiça estaduais, e que foi determinada a oitiva das pessoas envolvidas com os fatos.
Segundo o promotor, a partir da semana que vem, todos os notificados poderão comparecer acompanhados de seus advogados à sede do Ministério. O suposto caso de extorsão por fiscais do Ibama em empreendimentos imobiliários da região da Grande Florianópolis, envolvendo a construção do Shopping Continente Park, o residencial Jardim Botânico, em São José, e o Shopping Via Catarina, em Palhoça, já resultou no afastamento de quatro fiscais do órgão no Estado.
Foram afastados do setor de fiscalização, Eduardo Benício de Abreu, acusado de comandar o esquema, Jaime Florêncio Rosa, Alberto de Paula Martins e Paulo Coelho. Eles serão alvo de uma comissão de processo disciplinar.
O superintendente estadual interino do Ibama, Kleber Isaac Silva de Souza, disse que os fiscais suspeitos visitavam as obras sem informar seus superiores. “Iriam ao local antes mesmo da denúncia para já ter algo formal”, destacou ele, que espera uma investigação imparcial por parte do Ibama e da Justiça.
(ND, 21/08/2011)
Nota investigação Ibama
O MPF comunica que recebeu da Justiça Estadual decisão de declinação de competência para investigar, processar e julgar a notícia de supostos crimes de concussão, corrupção e formação de quadrilha, praticados por servidores do Ibama no âmbito da Justiça Federal.
Após examinar os fatos e diante da necessidade de complementar as informações e aprofundar as investigações, para daí opinar, e em atenção às garantias da pessoa elencadas no art. 5º, LV, da Constituição Federal, resolveu instaurar um procedimento investigatório criminal, no qual estão sendo coletados documentos da Polícia Civil, Ministério Público e Justiça Estaduais, e foi determinada a oitiva das pessoas envolvidas com os fatos, o que se dará a partir da semana que vem, sendo que todos os notificados poderão comparecer acompanhados de seus advogados à sede do MPF.
Florianópolis, 19/08/2011.
Walmor Alves Moreira
Procurador da República
(MPF, 19/08/2011)
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