Buracos no chão e corrosão são visíveis nas estruturas, algumas com mais de 30 anos sem devida manutenção
Na Via Expressa Sul, na SC 401 e até mesmo na Beira-mar Norte os carros dominam o trânsito e o pedestre fica em segundo plano. A solução para possibilitar a passagem para o outro lado da via em segurança para quem anda a pé é a construção de passarelas. Porém, em Florianópolis, a maioria das 11 construções desse tipo ficou esquecida pela administração pública e a população tem que conviver com o estado precário em que se encontram.
Quem passa diariamente pela passarela da rodoviária Rita Maria, por exemplo, não tem como não perceber os buracos no piso ou a corrosão da estrutura. Até plantas começaram a crescer entre a argamassa e o metal. “É só quando acontece um acidente que as pessoas começam a reparar”, comenta Lara Mirela Alves de Sousa, 26. Para Ricardo Nascimento, 36, não é só a passarela da rodoviária que está “horrível”. Ele passa com frequencia pela estrutura em frente ao shopping Iguatemi e relata a falta de cuidado. “Ela pode cair. A única vez que fizeram algo foi só a pintura”, diz.
De fato, a insegurança no local é grande. Enquanto a reportagem fazia entrevistas em cima da passarela, um senhor escorregou e caiu nas escadas, na rampa construída no meio dos degraus. Com chuva, a estrutura fica ainda mais perigosa, principalmente porque o corrimão, que deveria servir de apoio ao pedestre, já se desprendeu do concreto. “Tudo vibra quando a gente passa. Em dias de chuva as escadas viram cascatas. Dá pra perceber as rachaduras no chão”, relata Joyce Andrade, 20.
Em frente ao Centro de Convenções, outra passarela se destaca na paisagem da Capital. Para Carla Victoria Lattario e Kátia Regina Almeida, que vieram do Rio de Janeiro para um congresso, a estrutura poderia ser melhor cuidada. “Aqui passa gente do Brasil inteiro e isso é, querendo ou não, um cartão postal da cidade para quem não tem tempo para conhecer mesmo Florianópolis”, comenta Carla.
Prefeitura e Deinfra administram as estruturas
A secretaria municipal de obras é responsável pela manutenção de quatro passarelas da Capital. O secretário Luiz Américo Medeiros explica que nenhuma delas teve, depois de sua construção, manutenção em sua totalidade. A passarela da rodoviária Rita Maria data de 1986 e está bastante deteriorada porque, segundo Medeiros, é feita de material diferente das demais: a argamassa armada, mesmo material da usado no prédio da rodoviária. Já a do shopping já tem 30 anos. “O problema é que ela é de alumínio e tem muito vandalismo”, diz o secretário. As duas passarelas próximas ao Titri (Terminal de Integração da Trindade) são as mais novas, com 11 anos, mas estão sem cobertura, por causa dos roubos frequentes do material, o policarbonato.
A mesma coisa aconteceu com as três passarelas da Via Expressa Sul, com dez anos, administradas pelo Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura). Segundo o engenheiro Nelson Picanço, consultor técnico do departamento, o vandalismo fez com que a administração pedisse a retirada da cobertura. Elas sofrem manutenção apenas quando há pontos atingidos pela ferrugem. Entretanto, a corrosão já atingiu algumas partes da estrutura, que continua sem tratamento adequado. O Deinfra ainda era responsável por quatro passarelas na SC 401, mas uma delas teve que ser desmanchada devido à obra de duplicação da rodovia. “Elas devem ter de seis a sete anos e já tiveram que ser recuperadas”, conta Picanço. A passarela do Centro de Convenções foi levantada pelo Deinfra, mas a manutenção fica por conta da prefeitura municipal.
Manutenção teria evitado problemas nas passarelas
Segundo Medeiros, a prefeitura contratou, há dois meses, uma empresa para fazer o levantamento do estado das passarelas da Capital e o que pode ser feito para recuperá-las. “Esperamos um laudo para tomar providência”, garante. O Deinfra também afirma que existe um estudo para verificar as manutenções a serem feitas e diz que as estruturas são fabricadas com aço especial. “É uma corrosão apenas externa”, comenta.
Os professores do departamento de Engenharia Civil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), área de estruturas, Ivo Padaratz e Leandro Miguel, explicam que as passarelas poderiam estar conservadas se houvesse uma manutenção adequada. “Em estruturas metálicas o problema é corrosão, mas a pintura e o tratamento de pontos específicos poderiam ter evitado que chegassem a esse estado”, conta Miguel.
A manutenção, segundo Padaratz, é periódica, porém agora a solução para essas estruturas é a recuperação, o que custa mais caro para a administração. “Passarelas de concreto, como a do Iguatemi, poderia nunca ter entrado em processo de corrosão. O concreto deveria proteger o aço”, conclui.
(Por Emanuelle Gomes, ND, 19/08/2011)
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