Estado escolheu ponte convencional entre as avenidas Beira-mar Norte e Continental, mas engenheiros defendem modelo estaiado
A opção do governo pelo modelo de ponte convencional para a quarta ligação entre Ilha e Continente não agradou a todos. A partir de estudos realizados pela Secretaria de Infraestrutura, o Estado definiu que a melhor alternativa seria uma ponte para ligar as avenidas Beira-mar Norte e Continental, criando novo eixo mais ao Norte da cidade e diminuindo o fluxo de veículos na Via Expressa. O modelo escolhido foi o chamado convencional, nos moldes da Colombo Salles e Pedro Ivo.
“Hoje, a ponte estaiada é uma evolução da ponte pênsil (como a Hercílio Luz) e é o que há de mais moderno. É a solução contemporânea mais recomendada e pode ser muito bonita, a exemplo de outras como a ponte JK de Brasília, ponte Octávio Frias sobre o Rio Pinheiros em São Paulo, as pontes Barqueta, Alamillo e Centenário, em Sevilha, na Espanha”, afirma o engenheiro civil Plínio Xavier, formado há quase 50 anos pela USP (Universidade de São Paulo), do grupo que defende a estaiada.
O engenheiro civil Gilberto Scafuro, também com experiência de 50 anos na área, lembra que, somente na cidade de São Paulo, seis pontes estaiadas estão em construção. “Uma ponte bem projetada, além de ser uma obra de arte, não custa muito mais que a convencional. A cidade merece uma obra de arte, uma ponte que demonstre a pujança da cidade e seja um novo marco na paisagem e não uma simples ligação entre a Ilha e o Continente”, defende Scafuro.
Além do custo maior, um dos principais argumentos do governo é que o modelo estaiado ofuscaria a visão da ponte Hercílio Luz. Para o engenheiro Plínio Xavier, não se deve levar em consideração apenas o preço e optar pelo convencional para evitar poluição visual é um “argumento falacioso”. “Você pode fazer algo que conviva bem com a Hercílio Luz. Uma ponte convencional é algo sem expressão em uma paisagem linda como aquela”, opina.
Governo anuncia detalhes nos próximos dias
De acordo com o governador Raimundo Colombo, os detalhes sobre o projeto de quarta ligação entre Ilha e Continente serão divulgados oficialmente nos próximos dias. “Estamos na fase de consulta aos órgãos envolvidos no processo. Mais alguns dias e estaremos anunciando os detalhes”, diz Colombo.
O estudo da Secretaria de Infraestrutura apresentava também como alternativa a construção de um túnel, o que foi descartado em função dos valores e dificuldade de execução. Quanto à ponte, havia duas opções de localização: o eixo Norte, ligando as avenidas Beira-mar Norte e Continental; e o plano Via Expressa, construindo a estrutura no vão entre a Colombo Salles e Pedro Ivo, com base no projeto de ampliação de capacidade da Via Expressa desenvolvido pelo governo federal.
Quanto ao modelo, havia duas possibilidades: a ponte convencional (como as que já existem) e a ponte estaiada, tipo de construção que virou febre na engenharia civil e arquitetura. “Fizemos simulações dos dois lados. Uma ponte estaiada comprometeria seriamente a visão da Hercílio Luz. Em alguns pontos, praticamente a esconderia. Além do custo ser maior”, justifica o governador.
O Estado estuda a execução da obra via PPP (Parceria Público Privada). A intenção é comercializar os espaços de aterros que serão necessários para erguer a nova ponte e financiar o custo estimado em cerca de R$ 1 bilhão, incluindo os acessos viários.
Projeto precisa ter aval do Iphan
Segundo o presidente do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), Paulo Meller, a opção pelo modelo convencional também levou em consideração a potencial dificuldade em obter a aprovação de licenças necessárias. “Em uma consulta informal ao Iphan percebemos que poderia haver alguma resistência”, relata Meller. Uma obra no entorno da ponte Hercílio Luz, patrimônio tombado em todas as esferas, tem obrigatoriamente que passar pelo aval do Iphan (Instituto de Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional).
“O Iphan não pode se manifestar baseado em conjecturas. Só emitiremos parecer às instituições interessadas, no caso, o governo do Estado, mediante apresentação de proposta que possibilite analisar o caso do ponto de vista do patrimônio cultural”, informa a superintendente do instituto em Santa Catarina, Cristiane Galhardo Biazin. “Não há como dizer se permitiríamos ou não determinado tipo de ponte sem antes analisar o projeto, estudos visuais e de impacto de vizinhança. Atualmente, a questão da visibilidade é entendida não só como a visão livre do objeto tombado, mas sim como a manutenção da ambiência do bem”, completa Cristiane.
Saiba mais
As ações do Iphan são baseadas no Decreto-lei número 25/1937
– Artigo 17 – As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de 50% do dano causado.
– Parágrafo único – Tratando-se de bens pertencentes à União, Estados ou municípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.
– Artigo 18 – Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de 50% do valor do mesmo objeto.
Fonte: Iphan
(Por Maiara Gonçalves, ND, 09/08/2011)
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