Deveríamos consumir menos peixes do topo da cadeia alimentar e mais de suas presas para reequilibrar o ecossistema marinho.
Diminua a quantidade de atum e salmão e encha seu prato com arenque e sardinhas se quiser contribuir para salvar os peixes do planeta. É o que diz o cientista que liderou a análise mais completa já feita das populações de peixes nos oceanos do mundo e como elas mudaram ao longo do último século.
O estudo de Villy Christensen, do Centro de Pesca da Universidade da Colúmbia Britânica, confirmou algumas indicações prévias de que populações de peixes predadores do topo da cadeia alimentar, como bacalhau, atum e garoupa, sofreram grandes declínios, diminuindo cerca de dois terços nos últimos cem anos. Mais da metade desse declínio ocorreu nos últimos 40 anos.
Porém, Christensen descobriu que a população total de peixes pequenos, como sardinha, anchova e badejo, mais do que dobrou ao longo do último século. Esses são peixes dos quais os maiores predadores normalmente se alimentam.
– Removendo o predador, você obtém mais peixes que servem de presa – disse Christensen. – Isso não foi demonstrado antes porque as pessoas não julgam o número, eles não saem para contar os peixes.
Seu pedido para que os consumidores dirijam sua atenção para a base da cadeia alimentar marinha, de predadores como o atum e o bacalhau para peixes mais incomuns ecoa aquele do chef celebridade britânico Jamie Oliver, que sugere que devemos comer mais escamudo, cavala, faneca, arenque e sardinha.
– Sei que vocês gostam das ceias com peixe, mas nosso apetite pelos mesmos peixes, dia após dia, está esgotando-os dos mares – disse Oliver. – Eu não vou esperar que os políticos resolvam essa, pessoal, vocês podem realmente ajudar a partir do conforto de suas próprias cozinhas. Deixem de lado o bacalhau, o hadoque e o atum, diversifiquem e cozinhem uma variedade maior de peixes.
Reequilíbrio das espécies em jogo
Christensen apresentou suas descobertas no dia 18 de fevereiro, no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (American Association for the Advancement of Science, AAAS), em Washington.
– A pesca excessiva definitivamente teve um efeito “quando os gatos saem, os ratos fazem a festa” nos nossos oceanos – disse Christensen. – Ao se remover as grandes espécies predadoras do oceano, os pequenos peixes forrageiros puderam prosperar.
Christensen pediu encarecidamente às pessoas que comam mais da crescente população de peixes pequenos como sardinhas e anchovas, a fim de reequilibrar as espécies de peixes do planeta.
– Atualmente, esses peixes são transformados em farinha e óleo e utilizados como alimento para a indústria da aquicultura, que está se tornando cada vez mais dependente dessa fonte de alimentação – disse Christensen.
Em sua análise, a equipe de Christensen coletou dados de mais de 200 modelos de ecossistemas marinhos ao redor do mundo, usando uma técnica chamada Ecopath (caminho ecológico) para estimar a massa de peixes variados nos oceanos do mundo e como ela mudou de 1880 a 2007.
Tradução: Guilherme Justino
(The Guardian, Nosso Mundo Sustentável, 10/03/2011)
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