Moradores da avenida Hercílio Luz, principalmente a vizinhança da maternidade Carlos Corrêa, no Centro da Capital, estão indignados com um problema que se arrasta há anos. Segundo eles, há mais de oito anos a Prefeitura vem prometendo fechar parte do canal localizado no antigo leito do rio Bulha, mas até agora nada foi feito. O trecho com cerca de 70 metros de extensão provoca mau cheiro e atrai ratos e baratas.
Segundo o professor Geraldo do Vale Pereira, 46 anos, a Prefeitura já prometeu outras vezes o fechamento daquele trecho, mas nada de concreto foi feito.”O que mais incomoda é o forte cheiro que, em dias mais quentes, torna-se insuportável”, desabafa. Também aposentado, Moacir Vieira Cardozo, 70 anos, concorda com o vizinho e critica a postura da Prefeitura por ainda não ter tomado nenhuma providência.
Cardoso diz que o local hoje tem servido como depósito de entulhos e lixo. “Já vi até mesmo um monitor de computador ser jogado naquela área e nada foi feito”, afirma. Também reclama que no verão o problema é maior ainda, pois somado ao mau cheiro, a falta de cobertura do trecho infesta a região de ratos.
O chefe do Departamento de Projetos e Obras da Secretaria Municipal de Obras, engenheiro Rafael Hahne, disse ontem que o projeto já está pronto no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf). “Falta apenas concluirmos estudos técnicos sobre a localização de um extravasor, para não prejudicar o sistema de drenagem”, explica. Segundo ele, será feita a revitalização do local, com implantação de ciclovia e mesas.
(A Notícia, 24/07/2007)
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2 Comentários
FLORIANÓPOLIS DOS SEPULCROS CAIADOS*
“Muita gente acha maravilhoso o fato de a Prefeitura Municipal de Florianópolis estar cobrindo o rio da Avenida Hercílio Luz. Mas o fato é triste. Esta é a realidade. Estão varrendo a sujeira para baixo do tapete, melhor dizendo: estão escondendo o esgoto embaixo das coberturas de concreto.
Mas, o que deveria ser feito? Abrir a cabeça e revolucionar, quebrando paradigmas. Falta gente que ouse, como ousou o prefeito Jaime Lerner em Curitiba, há cerca de 30 anos, ao transformar uma rua congestionada pelos veículos em um calçadão aprazível, a “rua das Flores”, exemplo copiado posteriormente por muitas cidades, entre as quais a própria Florianópolis…
Primeiro, deveria-se tratar o esgoto em lugar de joga-lo in-natura no rio. Assim, este seria despoluído. Imaginem o rio de águas limpas, como era originalmente!
Segundo, reconstituir a mata ciliar, atendendo ao código florestal. Como não seria possível recriar os talvez 30 metros especificados por lei, reflorestar apenas seis metros já daria uma outra visão às margens. Para isto, a terceira medida: a avenida Hercílio Luz deveria atender somente ao tráfego local, dando acesso às garagens dos edifícios com pistas de uma faixa só. Ciclovias e passeios para os pedestres fariam parte deste novo sistema viário. Isto privilegiaria os pedestres e os ciclistas e desestimularia o uso do automóvel. Imaginem mesinhas ao redor das quais os moradores dos edifícios pudessem sentar vendo suas crianças brincar
Com isto haveria uma mudança radical na paisagem, desde o aterro até a avenida Mauro Ramos. Teríamos mais uma área verde extensa, mais qualidade de vida, mais SAÚDE, pois menos esgoto seria despejado na baía sul, haveria menos nichos para ratos e baratas habitarem…
Porque não repensar este modelo de desenvolvimento mentiroso, que “esconde o lixo embaixo do tapete”, que esconde as mazelas embaixo de lages de concreto, solução barata e medíocre?
Porque o IPUF não cria um projeto, mostrando em desenhos e/ou maquetes, o que poderia vir a ser a área em torno do rio, com águas límpidas correndo, com árvores nativas, bancos de jardim, crianças brincando, pássaros e peixes?
E há outros rios em Florianópolis que poderiam, JÁ, passar por intervenções positivas. Há um, paralelo à avenida Patrício Caldeira de Andrade, em Capoeiras, ao lado da empresa Reunidas, que poderia ter suas margens arborizadas e que merece também ser despoluído. Sem falar nos rios Araújo e Büchller, que fazem a divisa de Floripa com São José…
Sonho? Utopia? Pois enquanto houver sonhadores e utopistas (como eu me categorizo), teremos esperança. Já quando estes desaparecerem, convivam então com os subterrâneos de esgotos, habitat de ratos e baratas, rios e mares poluídos e bueiros exalando odores fétidos da falta de visão e de coragem de nossos administradores. Administradores que não ousaram… Que não tiveram visão. Que não tiveram coragem de quebrar paradigmas e assim revolucionar o conceito de desenvolvimento urbano…
Cesário Simões Júnior, Analista de Sistemas, tecnologista, ecologista e pesquisador auto-didata
Autor do projeto de tombamento do Caminho da Costa da Lagoa (1981)
*Plagiando o artigo “A Ilha dos Sepulcros Caiados” de Ana Echevenguá (http://www.ecoeacao.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8545&Itemid=1)
As cidades fedem!