O perigo de salinização do maior manancial da Ilha de SC, apontado em estudo, alerta e divide opiniões das autoridades
A possibilidade de salinização da Lagoa do Peri, em Florianópolis, publicado na edição de ontem no DC, dividiu opiniões. As informações tiveram como base o parecer técnico elaborado pelo geógrafo Alexandre Felix, mestrando em Geologia Marinha e Geomorfologia Costeira da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e pelo geógrafo José Maurício de Camargo. – Sabemos que o ponto crítico das ressacas é em agosto. Sem nenhuma obra, o risco seria iminente – alerta Alexandre Felix.
De acordo com o estudo, protocolado ontem na Fundação do Meio Ambiente (Floram), há a hipótese do maior manancial de água doce da Ilha de SC ser salinizado no período entre dois a três meses, caso ações emergenciais não sejam tomadas na praia da Armação, que sofre com a erosão e o avanço do mar.
O parecer técnico dos geógrafos afirma que a salinização poderia ocorrer de três formas: o contato da cunha salina (pressão que a água salgada faz ao penetrar da terra até a lagoa) com o canal do Rio Quincas Antonio e sangradouro da Lagoa do Peri; entrada da cunha salina do aquífero diretamente na Lagoa do Peri e o rompimento da barreira formada pela restinga. Para evitar que a lagoa perca as águas doces, de acordo do Felix, seria preciso, além das obras de enrocamento, o engordamento da faixa de areia e a retirada do molhe.
Para a Floram, se a possibilidade de salinização da reserva que abastecimento 113 mil pessoas for confirmada, será o maior desastre ambiental do Estado. O superintendente da Floram Gerson Basso afirma que os estudos de Felix têm prioridade de acompanhamento. Na segunda-feira, o documento será entregue ao prefeito de Florianópolis Dário Berger.
– A salinização não pode ser descartada. Sabemos que se nada for feito, perderemos a Lagoa e no Brasil não temos a tecnologia para retirar sal da água.
A Fundação do Meio Ambiente (Fatma) também não descarta este risco. O superintendente Murilo Fortes disse que a primeira medida, o enrocamento na Armação, foi tomada para evitar o processo. Grupos com profissionais especializados em correntes marítimas e geólogos também serão formados para identificar o que pode ocorrer na Lagoa do Peri.
Casan contesta estudo feito pelo geógrafo
O superintendente da Companhia de Abastecimento e Saneamento Urbano (Casan) Cláudio Ramos Floriani Junior questiona o estudo dos geógrafos porque os profissionais não têm conhecimento técnico necessário.
– Para ser confiável, o parecer deveria ser feito por hidrólogo ou geólogo. Eles são profissionais que têm clara noção do que pode acontecer.
Floriani acrescenta que nesta semana foram feitas cinco medições no canal de sangradouro, em uma distância de 3,8 quilômetros.
Em uma vez, a água constou como salobra (mistura da água salinizada com água doce) mas, que para ser salinizada, o mar precisaria avançar mais dois metros e percorrer quatro quilômetros até a estação da Casan, ideia que é considerada descabida por Ramos Floriani.
A procuradora da República Analucia Hartmann afirmou que o Ministério Público Federal tem interesse em acompanhar as obras que envolvem a Armação e lamenta que a situação tenha chegado neste ponto. O DC tentou contato com o prefeito Dário Berger, mas ele não foi localizado.
Ontem, funcionários da empresa contratada para executar a obra de contenção na Armação seguiam com o trabalho, que deve duram cerca de mais 85 dias.
GERSON BASSO, Superintendente da Floram
Sabemos que se nada for feito, perderemos a Lagoa e no Brasil não temos tecnologia para retirar sal da água.
CLÁUDIO FLORIANI, Superintendente da Casan
Para ser confiável, o parecer deveria ser feito por hidrólogo ou geólogo.
(Francine Cadore, DC, 29/05/2010)
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