Em diferentes estudos, relatórios e entrevistas ao longo dos últimos meses, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) lançaram dados, alertas e informações sobre a intensificação de eventos climáticos extremos, com ênfase nos riscos de inundações e secas nas diferentes regiões do país e na necessidade de preservação das florestas e em zerar emissões de carbono. Em linhas gerais, esses alertas, geralmente realizados em parcerias com cientistas de instituições ao redor do mundo, traçam panoramas sobre como o aquecimento do planeta e fenômenos como o El Niño e as queimadas compõem esse sistema.
Temperatura recorde – O aumento da temperatura na terra é apontado por cientistas como principal causador dos eventos extremos. O ano de 2023 foi o mais quente já registrado na história, com 50% dos dias acima do limiar de perigo. Esse aquecimento gera efeito nos oceanos, que também aquecem. Isso provoca secas, inundações, além de ondas de calor e frio. O assunto foi abordado pelo relatório do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus (C3S).
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Retenção de carbono nos oceanos – O fenômeno tem a ver com o excesso de carbono que circula na atmosfera: 90% desses gases são retidos pelos oceanos. O calor nos oceanos, por sua vez, cada vez mais intenso, pode ocasionar mais fenômenos como ciclones e flutuações nas chuvas. Um grupo de cientistas do Programa Mundial de Pesquisa Climática (WCRP) da Organização Mundial de Meteorologia (WMO) liderado pela professora Regina Rodrigues, do Departamento de Oceanografia da UFSC, redigiu uma declaração alertando para o recorde recente. Os cientistas já mostravam que esses casos poderiam aumentar em frequência, duração e intensidade se não ocorrerem esforços dramáticos de mitigação e adaptação.
El Niño – A professora também destaca o papel do El Niño neste cenário. As cheias do Rio Grande do Sul de novembro de 2023 e de maio de 2024 estão relacionadas a esse fenômeno natural. As mudanças climáticas intensificam o fenômeno. Além disso, a atmosfera mais quente carrega mais umidade e provoca chuvas cada vez mais fortes.
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Impacto nas florestas – Atmosfera e oceanos aquecidos também levam prejuízos às florestas, que são grandes responsáveis por eliminar esse excesso de gases. Isso gera um ciclo vicioso: com menos florestas, mais carbono no ar, maior a temperatura das águas e maior o risco de eventos extremos. Dados então inéditos foram levados à Conferência Mundial do Clima em 2023, com cenários traçados a respeito das alterações climáticas.
Preservação das florestas – As florestas, quando preservadas, regulam a temperatura e isso é avaliado como um fator central para que se reverta o cenário. As queimadas e os combustíveis fósseis são elementos que agravam o acúmulo de gases. O sistema se aproxima daquilo que a comunidade científica chama de ponto de não retorno, que pode levar a cenários devastadores. Um estudo liderado pela UFSC foi capa da revista Nature, em fevereiro, traçando cenários diferentes para o agravamento da crise.
Ciclo da água – O ciclo da água também sofre alterações e produz consequências no cenário global. Com mais calor, há mais fenômenos de secas e de cheias, o que impacta na disponibilidade hídrica, especialmente no hemisfério sul. Os prejuízos são de cerca de 780 bilhões de dólares, é o que estima uma análise co-assinada pelo professor Pedro Chaffe, de Engenharia Sanitária e Ambiental, na Science. Chaffe também apontou, em outro estudo, as alterações provocadas pelo clima e pelo uso do solo na intensificação das secas e das cheias.
Cidades inteligentes – A ciência há décadas emite alertas, mas também estuda medidas de mitigação e de enfrentamento aos desastres. Políticas públicas que favoreçam cidades inteligentes e preparadas para lidar com as emergências podem ser uma solução. Uma pesquisa com a participação da professora Franciely Velozo Aragão usou como ponto de partida a norma técnica ISO 37123, que trata das cidades e comunidades sustentáveis, com indicadores para cidades resilientes.
(UFSC, 07/05/2024)
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