Artigo escrito por Janine Mara Alves (E-mail, 06/01/2010)
A medicina, juntamente com a bioquímica vem desenvolvendo estudos genômicos com a pretensão de melhorar o funcionamento dos futuros organismos humanos. Promete um paraíso na saúde, onde poderemos detectar, prevenir e curar as enfermidades de acordo com os genes de cada um, criando um futuro onde não haverá necessidades de intervenções medicamentosas para cura e atenuação das doenças genéticas ou hereditárias.Talvez seja criado um mundo onde a biotecnologia esteja a serviço do homem. Entretanto, o modelo econômico de hoje permite muito mais um consumo agressivo e coloca o homem a serviço da tecnologia. Produzir mais para consumir mais.
A reportagem da Revista Super Interessante de setembro de 2009 – Verdades Inconvenientes Sobre a Industria dos Remédios, cita que 70% das despezas do SUS decorrem da assistência às doenças que poderiam ser tratadas com mudança de comportamento e 70% do faturamento da indústria farmacêutica vem dos medicamentos vendidos sob prescrição médica.
A idéia de melhorar o desempenho humano é muito boa para a indústria, pois, independente das doenças, ao nos convencer de que podemos ser melhores , mais precisos, mais espertos, mais “felizes” com medicamentos e alimentos especiais, elas podem ter lucros maiores.
No entanto, precisamos provocar mudanças nos padrões de consumo relacionados aos hábitos alimentares e sanitários para que a natureza descanse.
Em 2002, o Brasil apresentou sua Política Nacional de Promoção da Saúde reforçada pelo pacto da Saúde de 2006, em que descreve a promoção da saúde como ”um amplo processo social e político, que não engloba apenas as ações dirigidas para o fortalecimento das habilidades e capacidades dos indivíduos, mas, também, das ações direcionadas para as mudanças nas condições sociais, ambientais e econômicas, de forma a aliviar seu impacto sobre a saúde pública e individual”.
Nesta linha de pensamento/ação, a atividade física tem representado um forte componente para a promoção da saúde, avançando na construção e reflexão dos aspectos da saúde no cotidiano do indivíduo e da comunidade.
Segundo a OMS (2007), a prática de atividade física regular reduz o risco de mortes prematuras, doenças do coração, acidente vascular encefálico, câncer de cólon e mama e diabetes tipo II. Atua na prevenção e diminuição da hipertensão arterial, previne o ganho de peso, auxilia na prevenção e redução de osteoporose, promove bem estar, reduz o estresse, a ansiedade e a depressão. Não há dificuldade em concluir, que na redução dessas doenças, há redução no consumo das medicações correlatas.
A Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis vem estimulando Projetos que visam o combate ao sedentarismo, como o Floripa Ativa, destinado aos idosos e Academia Itinerante em implantação destinado aos adultos. Visam a prática de atividades físicas em locais públicos como Unidades Locais de Saúde, Centros Comunitários, parques e outros.
Bem antes do poeta romano Juvenal, habitante desse planeta no século I d.C., criador de várias sátiras e máximas filosóficas como as descritas abaixo, sabia-se dos benefícios oferecidos por uma vida mais ativa.
-As pessoas comuns – em vez de cuidar da sua liberdade – estão apenas interessadas em “pão e circo”, ou seja, pode-se depreender que o poeta critica um costume popular da época, que ao invés de ações de liberdade satisfaziam-se com uma alimentação pobre em nutrientes e atividades passivas de lazer; e na máxima mens sana in corpore sano, sugeriu o poeta que ao invés de riqueza, poder, ou crianças,a população deveria pedir por uma mente sã dentro de um corpo são.
Entre algumas das inúmeras pesquisas a respeito, cito o artigo de Sebastião Salvador Ramos – especialista em Cardiologia e Medicina do esporte: 2419 adultos sedentários (hipertensos e normotensos) fizeram 2 meses de exercícios aeróbicos 30 min/dia na maioria dos dias da semana e o resultado foi a diminuição da pressão arterial sistólica em 3,84mmHg, e a diastólica em 2,58mmHg. Imagine a multiplicação desse dado em milhares de pacientes do SUS dependentes de medicamento contínuo. A economia deve ser muito significativa. No caso do diabetes tipo 2 podemos citar o estudo Manson 1991 e 1992 que concluiu: a atividade física constante diminui do risco de desenvolverdiabettes do tipo 2 em homens e mulheres independente do histórico familiar, peso, fumo e outros fatores. Ou do estudo de Kasch, 1990 que provou que a realização de pelo menos 4 horas semanais de atividade física moderada a intensa diminui em 70% a incidência de diabetes tipo 2. Ou seja, diminui a resistência à insulina, e consequentemente o consumo da mesma. Nessa mesma linha, artigos sobre melhorias no aparelho circulatório, no sistema cardiovascular nos estados de ansiedade e depressão leve, circulam no meio científico mundial.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Maringá/PR, com a implantação do Projeto Academia da Terceira Idade para pessoas acima de 60 anos, foi constatado uma diminuição de 30% no número de consultas e 27% nas solicitações de anti-inflamatórios no postos de saúde nas regiões onde foram implantados os aparelhos.
Recuperar o controle de nossas decisões práticas diárias. Negar imposições. Sejam elas (bio) tecnológicas, comerciais, políticas e sociais. Ou a idéia de que somente o que vem da indústria ou da mídia é correto ou pode nos salvar. Vamos criar fronteiras humanas para o conhecimento, para a ciência, para obtenção do conhecimento e equilíbrio físico e mental. Ter uma vida mais ativa, com exercícios físicos planejados, estruturados e constantes é uma ótima e saudável alternativa.
Janine Mara Alves é Funcionária Pública Municipal; tem formação inicial de Engenheira Agrônoma (UFSC); é ativista ecológica de GaiaFloripa e colaboradora de GaiaNet. Profissional de Educação Física, atualmente trabalha no setor de Vigilância Nutricional e Doenças e Agravos não Transmissíveis da Secretaria Municipal de Saude de Florianópolis.
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2 Comentários
O artigo, em poucas palavras faz uma análise interessante sobre pesquisas e as iniciativas em torno das políticas públicas voltadas à saúde da população. Realmente, vivemos numa sociedade de conflitos. Senão vejamos: enquanto somos pressionados ao consumo desenfreado de alimentos, com porções individuais cada vez maiores, a mídia nos impõe um modelo de beleza quase que impossível de alcançar. Entre o consumo de alimentos e o consumo do modelo ideal de beleza, ficamos nós. O que nos resta são divulgações de pesquisas voltadas à promoção da saúde que subsidiam as iniciativas do poder público. O artigo de Janine Mara Alves, nesse sentido é elucidativo e chega em boa hora.
Mto bom.