Depois de discutir cidades inteligentes e seguras no Sebrae, saúde e sustentabilidade no Hospital Baía Sul, o Fórum 2050, série de seminários alusivos aos 16 anos do Jornal ND, discutiu, nesta terça-feira (27), o futuro da educação, das profissões e do trabalho na Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) em Florianópolis.
O debate, com cinco especialistas, focou nos impactos da transformação digital e da contemporaneidade em todos os níveis da educação e no mercado de trabalho. O jornalista da NDTV, Alexandre Mendonça, foi o mediador do seminário, mais uma vez transmitido em tempo real pelo portal ND+.
Reitor da Unisul e anfitrião do seminário, Mauri Luiz Heerdt abriu o evento explicando a essência do Ecossistema Ânima: “Transformar o país pela educação. E sempre falamos que somente a educação não transforma o mundo, porém, não haverá transformação sem uma boa educação e isso exige o que estamos fazendo: conexão! Pensar a partir de um projeto em conjunto”, afirmou Mauri fazendo alusão ao seminário.
Questionado sobre a principal ideia que gostaria de transmitir, o reitor falou do conceito de ‘trabalhabilidade’. “Hoje, temos que desenvolver algumas competências que independem da profissão A, B ou C. Talvez a profissão C não exista no futuro, mas se trabalharmos com esse conceito novo, de estarmos preparados para resolução de questões complexas, estaremos preparados para qualquer realidade profissional”, pontuou Mauri.
Já o diretor regional do Grupo ND em Florianópolis, Roberto Bertolin, disse que é uma satisfação para a empresa conduzir as discussões, pela essência do jornal ND.
“Desde que nasceu, o ND se propôs a não somente levar informação, ou opinião, mas provocar debate, discutir a cidade, interagir com o poder público, com as instituições e as empresas. É o que fazemos neste seminário, mais uma vez e, por isso, é importante agradecer. Sem a aliança da boa imprensa com as instituições isso não seria possível”, destacou Bertolin.
Professor da Unisul, Baltazar Andrade Guerra disse que é importante amarrar, nas discussões sobre o futuro da educação, as questões de desenvolvimento sustentável, ou seja, como educar para uma sociedade onde é preciso se preocupar com desenvolvimento econômico, mas também com progresso da sociedade, a redução das desigualdades e a preservação ambiental.
“A missão da universidade é preparar as futuras gerações para um mundo em transformação. Vivemos um momento de mudanças globais muito intensas. Precisamos que nossos alunos sejam cada vez mais resilientes, criativos, empáticos e tenham capacidade de conhecer o mundo e que se tornem protagonistas desse mesmo mundo”, afirmou Baltazar.
Vice-presidente de talentos da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), Moacir Marafon argumentou que a transformação digital ocorre de forma acelerada e que é preciso, também, acelerar a educação.
“Se a educação for na frente da educação digital, vamos ter períodos de riqueza e bem-estar social. Hoje, estamos perdendo esse jogo. Se não mudarmos isso, teremos não pessoas desempregadas, mas pessoas não-empregáveis”, declarou Marafon. Para superar esse risco, Marafon acredita que é fundamental atrelar tecnologia e educação.
Santa Catarina, atualmente, é o sexto maior pólo de tecnologia do país, com 17.700 empresas. O setor representa 6,1% do PIB (Produto Interno Bruto) catarinense. “Ainda há muito espaço para crescer, porque não existem mais negócios separados da tecnologia. Ou seja, a influência da tecnologia é muito maior do que os 6% do PIB”, afirmou Marafon.
Ele completou o raciocínio lembrando que Florianópolis é a cidade brasileira com o maior número de empresas de tecnologia por mil habitantes. “No Estado, nos próximos dois anos, devemos contratar mais 12 mil profissionais com perfil tecnológico. Além das vagas abertas [cerca de 4 mil na Capital] essa demanda vai crescer muito mais que a oferta”.
O gerente de educação básica e profissional do Sesi/Senai-SC, que integra a Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), Thiago Korb, reforçou que as mudanças entre a incorporação de tecnologia na educação perpassa todo o fluxo educacional.
“A Fiesc tem iniciativas de educação básica, profissional, ensino superior e temos investido muito na educação digital justamente por acreditar nesse processo. Não é mais uma iniciativa, é uma condição. Daqui para frente, toda a nossa educação precisa pensar de forma digital”, defendeu Korb. Ele representou o diretor do Senai/SC no seminário, Fabrizio Pereira, que teve um imprevisto e não pode participar.
O gerente do campus Florianópolis da Unisul, Jairo José Assumpção, disse que a fase é de desafios, tanto da universidade, quanto dos professores, como da gestão e do modelo acadêmico a ser seguido.
“O nosso desafio é como integrar essas quatro dimensões num perfil de profissional encaixado com aquilo que o mercado pede e que se modifica muito rapidamente. Conseguimos dar luz nessa escuridão ao apontar que o modelo acadêmico precisa ser refeito, repensado e estamos nesse caminho”, ponderou Jairo.
Jairo representou Rodrigo Alves, professor da Unisul que também teve um imprevisto. O secretário de Educação de Florianópolis, Maurício Fernandes, também participaria do seminário, mas também precisou se ausentar por motivos pessoais.
Transformação digital e educação
Na abertura do debate, o reitor da Unisul fez alusão ao tempo em que a educação era baseada em escolarização. Para ele, hoje, existe uma complementação entre educação, formação e escolarização. “Certamente, a digitalização é o que mais contribui para isso. Tenho um filho de 20 anos e, às vezes, chego em casa e pergunto: ‘onde você aprendeu isso? Foi na escola? E ele responde que não, ou seja, a escola é apenas uma das instituições formadoras”, disse Mauri.
Thiago Korb recorreu aos dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) divulgados na semana passada. “Tivemos a prestação de contas do quanto a pandemia foi danosa ao processo educacional brasileiro. Precisamos olhar para isso. Os especialistas têm falado de cinco a dez anos para recomposição de aprendizagem. Esse é um efeito de longo prazo e a conta vem para nós”, afirmou Korb.
Para Korb, nesse contexto, ainda é preciso pensar numa nova educação e num novo olhar para a sociedade. “O processo educacional precisa ser revisitado para que façamos a ponte entre aquilo que as empresas e a sociedade estão nos demandando com aquilo que as instituições qualificadoras estão fazendo em sala de aula”, disse Korb.
Moacir Marafon disse que, enquanto a rádio levou 75 anos para chegar a 50 milhões de pessoas, o jogo Pokémon Go! levou 13 dias. Para ele, a velocidade do mundo digital mexe com as profissões e as tecnologias disruptivas criam novos modelos de negócios, novas oportunidades e mudam o comportamento dos consumidores.
“Quando falamos em digitalização, temos que cuidar. Não é pegar o velho e deixá-lo no mundo digital. A digitalização seria digitalizar os livros, o conteúdo. É fundamental, mas é o começo. As pessoas precisam ser transformadas e, para isso, a tecnologia está aí e temos que pensar em processos diferentes de educação. É pensar que os algoritmos, os dados, os meios digitais podem fazer a gente tratar os alunos no seu ritmo de aprendizagem. Faz sentido hoje ter o dia da prova? Será que não pode ser uma gamificação?”, questionou Marafon.
Jairo José disse que o sistema Ânima tem um conjunto de princípios que norteiam as decisões no dia a dia e um deles diz que, numa escola, até as paredes ensinam.
“O sentido da frase é que não existe mais uma sala de aula específica para aprender. O nosso aluno aprende no ônibus para faculdade, ou em casa. Ou seja, a instituição tem que oferecer material para o aluno em qualquer lugar e não apenas na sala de aula. A consequência disso é que muda completamente o nosso modelo mental de sala de aula”, declarou Jairo.
O professor Baltazar defendeu que o desafio atual dos educadores é preparar as futuras gerações para trabalhar com profissões e empresas que ainda não existem e tecnologias que ainda não foram inventadas.
“Vivemos um momento de transformação digital, de mudanças econômicas globais, com uma interconexão cada vez mais maior entre estados, empresas, indústrias e, ao mesmo tempo, um momento de mudanças ambientais e globais extremamente desafiadoras. Temos o papel de preparar os futuros líderes para o mercado, mas também preparar cidadãos”, ponderou Baltazar.
Curador dos seminários do Fórum 2050, o professor Neri dos Santos disse que o Grupo ND transmitiu conhecimento. Segundo ele, conhecimento é informação devidamente processada e contextualizada e que os três eventos proporcionaram isso. Em relação ao seminário de terça, Neri comentou que os maiores desafios são sociais.
“As instituições de ensino superior e ensino médio estão formando pessoas para trabalhos e profissões que não existem mais. Estamos formando desempregados. Esse é o desafio que as instituições de ensino precisam entender. Além das competências técnicas, os estudantes devem adquirir competências digitais”, avaliou o professor. De acordo com Neri, ainda em 2022, o Fórum 2050 pode promover mais um seminário, desta vez, com o tema governança.
(ND, 27/09/2022)
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