TRF4 suspende licenciamento de Parque Urbano e Marina de Florianópolis
21/02/2025
Grupo organizador do seminário Maricultura em Rede avalia evento e projeta futuro
21/02/2025

Patrimônio cultural de Florianópolis, Berbigão do Boca une cor e alegria na abertura do Carnaval

Desfile de bonecos gigantes em meio a uma multidão festiva, sob um toldo colorido.

Berbigão do Boca acontece desde 1992 no Centro de Florianópolis (Foto: Divulgação)

“É festa pra rachar, é uma coisa louca, vamos botar pra quebrar, no Berbigão do Boca!”. Quando a marchinha do hino-enredo começa, todo mundo já sabe: o bloco do Berbigão do Boca começou e, com ele, as festividades do Carnaval em Florianópolis. Neste 21 de fevereiro, o Centro da capital catarinense vai se transformar, pelo 33° ano seguido, em um mar de cor, alegria e música.

Desde 2004, o Berbigão do Boca é considerada a festa oficial de abertura do Carnaval de Florianópolis por meio do decreto 2.150. Sete anos depois, ela foi tombada como patrimônio cultural e material do município.

A saída do bloco acontece sempre na sexta-feira que antecede o Carnaval. Leonardo Garofallis, o Nado, diretor financeiro e um dos sete fundadores do Berbigão do Boca, explica que o dia para a festa foi escolhido para criar o clima para as comemorações.

— O Berbigão acontece com a motivação original, de motivar o Carnaval, de lembrar as pessoas que daqui a uma semana tem Carnaval, e que elas têm que preparar os seus espíritos, se dispor já das coisas menos importantes, e cair na folia — explica.

Criada para ser uma festa carnavalesca, Leonardo conta que o Berbigão do Boca foi se adaptando à expectativa dos foliões e de quem participa dela.

— Eles trazem muito da tradição de Florianópolis [para o bloco], tornando muito mais do que uma festa carnavalesca, mas uma festa da cidade, de suas tradições, a maior da cultura popular de Florianópolis, indiscutivelmente — aponta.

33 anos de Berbigão do Boca

Era uma quarta-feira de cinzas do ano de 1992. Sentados em uma mesa da sede do clube Doze de Agosto, no bairro de Coqueiros, sete pessoas, incluindo Leonardo, bebiam para acabar com a ressaca do Carnaval que recém tinha terminado. Boca, um dos foliões, estava triste pois para ele — um “carnavalesco inimigo do fim” — o Carnaval em Santa Catarina durava pouco tempo em comparação a festividades em outros estados, como Pernambuco.

— Nessa época o Carnaval passou para a Passarela Nego Quirido, com as escolas de samba. Com isso, houve uma diminuição do número de blocos, que sempre foi a grande manifestação carnavalesca de Florianópolis, a mais típica pelo menos, e ele [o Boca] estava inconsolável — lembra Leonardo.

Boca, então, disse para os companheiros: “nós precisamos fazer alguma coisa”. Assim, a ideia de Leonardo foi fazer uma festa que antecedesse o Carnaval, e não que o prolongasse. Dessa forma foi concebido o Berbigão do Boca, uma combinação do nome de uma iguaria típica de Florianópolis com o apelido do folião que se “revoltou” com o jeito em que a festa era feita na Ilha.

Bonecos gigantes

Mas foi só a partir de 1995 que o bloco começou a ter os famosos bonecos como principal atração para homenagear e eternizar pessoas com influência de Santa Catarina. O responsável pela montagem é o artista Alan Cardoso, que homenageou primeiramente o músico local Luiz Henrique Rosa.

— O Alan é especialista em boi de mamão e fez uma maricota personalizada com a cara do Luiz Henrique Rosa. Ali, inspirados pelo Bacalhau do Batata, lá de Recife, que tem aqueles bonecos enormes, passamos a homenagear pessoas do nosso dia a dia, de variadas classes sociais, profissões, ocupações, passamos a homenagear essas pessoas que faleceram, para eternizá-las na memória do povo — conta Leonardo.

A cada ano eram feitos cerca de dois a três bonecos. Porém, devido a capacidade de estocagem e os cuidados necessários, Leonardo explica que, atualmente, é feito um boneco por ano. Em 2025, o homenageado da vez será o carnavalesco Seu Lidinho, passista manezinho, membro da Copa Lord e ícone do Carnaval de Florianópolis, que morreu em agosto de 2024.

Manifestações culturais de Florianópolis

Leonardo destaca que o Berbigão do Boca possui diversas alas que compõe o bloco durante o Carnaval. Entre elas, estão as rendeiras, típicas da cultura açoriana e que realizam a renda de bilro. A festa reúne em uma roda cerca de 80 rendeiras fazendo suas artes e, depois, ao final do evento, elas dançam pelas ruas da cidade.

— São pessoas de mais idade que extravasam sua alegria, chega a emocionar — conta.

Entre as alas, estão as das rainhas do Carnaval que já existiram e revivem a glória obtida nos anos anteriores. Também há a ala das passistas, com as futuras rainhas, e uma ala com meninos e meninas que dançam uma coreografia específica para a festa.

O “Luxo no Lixo”, um carro alegórico tradicional idealizado por Pedro Goulart, conhecido como Pedrinho, e Silvinho D’Aláscio, também faz parte do espetáculo. Pedrinho puxava o carro vestido com seu smoking e tomando espumante. Ele morreu ao 71 anos em agosto de 2024, vítima de câncer.

O Bloco Místico, criado recentemente, também é um movimento que Leonardo considera como um dos mais importantes do Berbigão.

— É importantíssimo porque o imaginário manezinho não se desprende de bruxos, bruxas e boitatás, esses entes mitológicos que nós temos. No ano passado, vieram 150 pessoas vestidas dos mais variados personagens e reverenciando, evidentemente, os três grandes magos da Ilha: o Seixas Neto, Maia Filho e Franklin Cascaes — lembra.

Também há a ala das escolas de samba, onde cada agremiação traz a sua bandeira, com dez mestres-salas e porta-bandeiras.

Festival gastronômico

Leonardo conta que o evento busca também resgatar a culinária de Florianópolis, com um festival gastronômico onde o alimento obrigatório é o berbigão, feito por chefes amadores. O concurso acontece desde 2004 e durante os 21 anos de história já gerou dois livros de receitas, em uma parceria com a Faculdade Senac de Gastronomia.

— Isso fez com que hoje nossos restaurantes – naquela época não tinha – ofereçam pratos à base de berbigão — explica.

Mais de 120 mil pessoas no Berbigão

Segundo Leonardo, a estimativa é de que entre 120 e 130 mil pessoas devam passar pela festa no dia 21 de fevereiro, considerando todas aquelas que circulam em todos os segmentos da festa. Em 2024, por exemplo, 70 mil pessoas estavam no Centro entre 19h e 20h durante a festa, segundo dados da Polícia Militar.

— A partir das 19h, nós fazemos um desfile com todas as alegorias e todas as atrações. O desfile, que sai do mercado, vai até a Praça XV, a Catedral, desce a Praça XV e retorna ao mercado. Então é isso, um pico de 70 mil pessoas para [um total de] 120, 130 mil durante as 12h de festa — aponta.

Para a 33º edição da festa, a expectativa de Leonardo “é a maior possível”.

— A gente vê porque as nossas redes sociais bombam, a nossa loja bomba, nós temos um mercado vendendo camisetas e está tudo lotado de gente, os bares já estão vendendo camarotes aqui no mercado, uma movimentação assim que nunca se viu — conta.

Preparativos para a festa

“Somos iguais escolas de samba”, segundo Leonardo. A festa termina, mas a captação de recursos e patrocinadores para a próxima edição já inicia, com habilitação às leis de incentivo à cultura municipais, estaduais e federais

— Chegando em setembro, outubro, nós já temos as primeiras providências, tendo um planejamento que está pré-definido há muito tempo e que tem sido de muito sucesso — explica.

(NSC, 21/02/2025)

mm
Monitoramento de Mídia
A FloripAmanhã realiza um monitoramento de mídia para seleção e republicação de notícias relacionadas com o foco da Associação. No jornalismo esta atividade é chamada de "Clipping". As notícias veiculadas em nossa seção Clipping não necessariamente refletem a posição da FloripAmanhã e são de responsabilidade dos veículos e assessorias de imprensa citados como fonte. O objetivo da Associação é promover o debate e o conhecimento sobre temas como planejamento urbano, meio ambiente, economia criativa, entre outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *