A 10ª edição do Seminário de Meio Ambiente do Crea-SC reuniu essa quarta, 4.12, na sede em Florianópolis, especialistas, profissionais e estudantes do setor ligados à prevenção, mitigação e respostas a eventos climáticos no estado. Com o tema “Desastres Ambientais: As Engenharias, a Agronomia e as Geociências nas Soluções”, o evento foi organizado pela Comissão de Meio Ambiente do Crea, trazendo palestras e debates sobre os desafios em Santa Catarina, como mudanças climáticas, disponibilidade hídrica e gestão de crise. Participaram da mesa de abertura o presidente Kita Xavier, a coordenadora da Comissão de Meio Ambiente, engª ftal Elizangela Bortoluzzi, o secretário do Meio Ambiente e da Economia Verde, Guilherme Dallacosta, a diretora financeira da Mútua, engª Roberta Maas e o presidente da Credcrea, Gelásio Gomes.
A programação contou com apresentações sobre o papel da Defesa Civil no gerenciamento de catástrofes intermunicipais e os planos de contingência em desastres naturais em Blumenau, além de uma análise da EPAGRI sobre a disponibilidade hídrica no estado frente às mudanças climáticas. Outro destaque foi a apresentação do Comitê de Gestão de Crise do Crea-SC, iniciativa pioneira que reforça o compromisso do Conselho com a preservação ambiental e a segurança da sociedade.
“Somos indagados para resolver problemas, então, eventos como esse trazem a magnitude do conhecimento técnico a serviço da sociedade”, frisou o presidente Kita, destacando o trabalho da comissão de meio ambiente na escolha do tema e também a atuação do Comitê de Gestão de Crise, que foi além do que a sociedade esperava.
A coordenadora Elizangela Bortoluzzi abriu os trabalhos e ressaltou o quanto o evento fortalece a troca de conhecimentos e a construção de soluções conjuntas. “Os desastres ambientais estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia e o papel dos profissionais é essencial na mitigação de riscos e na recuperação das áreas afetadas. Este seminário é uma oportunidade para alinharmos estratégias, unirmos esforços e ampliarmos nossa atuação em prol de um futuro mais sustentável.” Falou também sobre o trabalho da comissão.
“Nossa comissão do meio ambiente atua a partir de orientação para os profissionais do sistema, os nossos conselheiros e diretores regionais, para que eles possam estar participando de tomadas de decisão junto aos municípios, levando todo o conhecimento técnico aos conselhos municipais”.
Panorama em SC – Em 40 anos, o estado sofreu mais de 2 mil eventos climáticos extremos, muitas vidas perdidas e o prejuízo de cerca de 40 bilhões de reais. Os dados foram apresentados pelo secretário Guilherme Dallacosta, que reafirmou a necessidade do envolvimento do setor da engenharia. “É fundamental e de suma importância termos esse levantamento de como devemos falar sobre esse assunto e nos preparar para todas as adversidades climáticas que estão por vir”.
O diretor de Gestão de Riscos da Secretaria de Estado da Defesa Civil, Luiz Eduardo Machado explanou sobre o planejamento para 2025/2026 e listou uma série de obras que estão em andamento. Ressaltou também que Santa Catarina está na vanguarda dos desastres climáticos.
“Estamos vivendo uma emergência climática e de acordo com os dados do Cobrad – Código Brasileiro de Codificações de Desastres, 75% dos eventos ocorrem no estado. Por outro lado, justamente por esse motivo, somos referência em monitoramento, alerta e resposta a essas calamidades”, lembrou.
“Não temos mais como conter os desastres naturais, não existe mais essa possibilidade. Toda nossa expertise será voltada à adaptação, a colaboração dos profissionais da área para o que já está ocorrendo e para o processo de piora. Teremos que aumentar nossa capacidade de resiliência, de nos recuperar”.
Luiz Eduardo salientou que “a União progrediu e o estado também, mas os municípios precisam de uma atenção especial para reestruturação, pois são eles que dão a primeira atenção aos episódios” Citou ainda a importância da cooperação entre as cidades afetadas para o envio de técnicos e especialistas, umas às outras.
“Tudo isso é extremamente oneroso para os municípios. Nós estaremos realmente na frente quando nossos municípios estiverem preparados”.
Situação hídrica – O pesquisador da Epagri/Ciram, eng. agrônomo e hidrólogo Guilherme Xavier de Miranda Junior destacou o prejuízo dos eventos extremos para a área da agricultura e a necessidade que os profissionais devem ter de observar a história e o desdobramento das ocorrências ao longo dos anos. Apresentou também os eixos de segurança hídrica trabalhados no estado, como a garantia do acesso à agua adequada às necessidades da população, assim como a de suprimento de água para as atividades produtivas e usos múltiplos; a preservação dos ecossistemas e a resiliência aos eventos extremos, como secas e inundações.
“O setor agropecuário é o mais prejudicado pelos fenômenos extremos. De 2020 a 2023 tivemos prejuízo de 10 bilhões no estado devido à estiagem. Temos que sempre olhar para o passado, observando os dados. Isso é fundamental para que possamos definir o futuro, e termos a compreensão dessas variações cíclicas e sazonais que temos”.
“Precisamos reduzir a vulnerabilidade e estimular cada vez mais essa resiliência ambiental para que possamos melhorar as nossas respostas a esses eventos e conviver melhor com eles”.
Guilherme trouxe ainda indicadores e avaliação em termos de balanço hídrico ao longo dos anos no meio oeste catarinense, e o que vai estar disponível por bacia, por município e até as microbacias, para que se possa tomar decisões mais assertivas quanto a políticas públicas, nacional, estadual e municipal. Não adianta incentivar armazenamento de água ou cisternas em locais que não há necessidade.
Defesa Civil de Blumenau
“Chegamos nesse ponto aprendendo pela dor e pela frequência de desastres. Temos a cada dois anos uma enchente em Blumenau”, lembrou o geógrafo e diretor de geologia da Defesa Civil de Blumenau, Gerson Lange Filho, reforçando que a continuidade dos serviços na administração pública é primordial para a efetividade dos serviços nessa área.
“Se o gestor público não tiver a sensibilidade de manter uma equipe que realmente dê continuidade aos trabalhos, talvez tenhamos resultados negativos”, disse, completando que a frequência e a resiliência ajudaram o município a chegar nesses pontos de mitigar a gestão dos riscos.
Gerson trouxe vários dados sobre a estrutura da secretaria e mostrou ainda como funciona o aplicativo Alerta Blu, que disponibiliza números e informações que ajudam o cidadão que entender a situação em tempo real, trazendo por exemplo o nível do rio Itajaí Açu e informações sobre as barragens, entre outros.
Atuação do Crea-SC – O diretor eng. Jackson Jarzinski, coordenador do Comitê de Gestão de Crise do Conselho, apresentou as ações realizadas em 2024, e dados sobre o evento climático no Rio Grande do Sul, que contou com o apoio técnico do Comitê, que elaborou um plano de ação imediata para auxílio ao estado vizinho.
“Nós não estamos preocupados com modalidade, estamos focando no conhecimento técnico, onde aí sim entra a força das nossas engenharias para trazer a vida de novo às pessoas. O Comitê de Gestão é nosso principal objetivo, vamos estar envolvidos nas discussões da segurança pública e da saúde, dando apoio técnico às demandas”.
Entre as ações do Comitê de Crise do Conselho estão a Campanha Solidária Reconstruir –RS, incluindo vistorias das condições de uso de unidades básicas de saúde e escolas; ação de análise geotécnica dos eventos climáticos no Alto Vale do Itajaí em SC; ação no município de Santa Tereza-RS, para avaliações das condições geotécnicas.
Foi ainda viabilizado pelo Crea-SC o visto profissional aos profissionais de SC e PR; a emissão de ART humanitária; entregues 40 laudos de escolas para a Secretaria de Educação de Canoas-RS. Tudo isso com a participação de 23 profissionais do estado, 10 profissionais do Paraná e 150 voluntários envolvidos na ação, com 97 laudos gerados.
(CREA/SC, 04/12/2024)
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