Um estudo traz novos dados sobre como as barragens afetam a diversidade de árvores em florestas ribeirinhas da Mata Atlântica no Sul do Brasil. A pesquisa, publicada em outubro na revista científica Scientific Reports, foi conduzida por Mariah Wuerges, Eduarda Mantovani-Silva, Nivaldo Peroni e Eduardo L. H. Giehl, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho faz parte da pesquisa de doutorado de Mariah e integra as investigações dos laboratórios de Diversidade e Conservação e de Ecologia Humana e Etnobotânica.
O artigo examina como as barragens impactam a diversidade local e regional das florestas ao longo de uma bacia hidrográfica. Entre os principais achados, os pesquisadores constataram que a presença de barragens resulta em uma homogeneização regional — isto é, reduz a variação de espécies entre diferentes áreas — enquanto, em nível local, promove uma heterogeneização temporária das florestas. Essa resposta levanta novos desafios para a conservação.
“Desde o início do doutorado da Mariah, nossa ideia foi olhar para o efeito para além de uma só barragem, para ter um panorama mais amplo dos impactos. Nisso entram outras formas de medir a diversidade, que não se resumem apenas a contar quantas espécies temos, mas se são as mesmas espécies em cada local, ou se são espécies diferentes, o que na ecologia chamamos de diversidade beta”, aponta Eduardo Giehl, supervisor do trabalho.
O estudo revelou ainda que o alagamento permanente de áreas florestais, causado pelo represamento dos rios, degrada também as florestas que sobram na margem dos reservatórios. Um sintoma dessa degradação é a perda de diversidade beta pela diminuição variação de espécies entre locais, que se dá pelo favorecimento de espécies de árvores mais generalistas sobre as especialistas. Esse processo diminui a diversidade ecológica regionalmente, colocando em risco importantes funções ecológicas que essas florestas desempenham, como a manutenção da biodiversidade e o suporte à fauna local.
“Nosso estudo oferece uma base importante para entender como as barragens afetam diretamente não apenas os ambientes aquáticos, mas também as florestas que dependem do regime natural dos rios”, explica Mariah Wuerges. “Essas descobertas trazem novas visões para o planejamento de medidas de mitigação e compensação de obras como barragens, que deveriam passar a incluir a diversidade beta nos processos de estudo e licenciamento ambiental.”
O estudo propõe ainda que políticas de conservação devem considerar esses impactos na diversidade beta e sugere métodos mais abrangentes de avaliação de impacto ambiental. A pesquisa é uma contribuição essencial para compreender os efeitos em larga escala das barragens sobre a Mata Atlântica, um dos hotspots de biodiversidade mais ameaçados do mundo, e reforça a importância da preservação desses ecossistemas.
O artigo completo está disponível na Scientific Reports.
(UFSC, 07/11/2024)
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