Da Coluna de Renato Igor (NSC, 28/03/2024)
O Centro de Florianópolis é a terra do “vale-tudo”. Reportagem da colega Rafaela Cardoso, para a NSC TV, informou que foram 125 furtos no comércio da região de janeiro até o dia 19 de março. Os crimes se concentram na região da Avenida Hercílio Luz.
Por mais que alguns políticos que vivem no mundo da fantasia considerem algo até aceitável esse tipo de crime, com absoluta certeza, para a vítima, normalmente o comerciante de pequeno porte, a sensação é de impotência absoluta e revolta.
Quem empreende neste país é um verdadeiro herói. Insegurança jurídica, regras que mudam a todo momento, achaque de fiscais corruptos (não todos, mas eles existem, claro), custos de aluguel, tributos e tudo mais que envolve contratações e demissões, a concorrência desleal na esquina e a incerteza em saber se vai encontrar a casa em ordem quando reabrir o estabelecimento no dia seguinte.
A polícia diz que já identificou muitos destes marginais e os prendeu inúmeras vezes. De que adianta se não ficam presos? É um crime de menor potencial ofensivo, sem ameaça. Causam prejuízos em quem trabalha e empreende, gera emprego e tributos. Só dão retrabalho à polícia. Para a própria PM, é uma sensação de impotência.
Qual a mensagem que é dada ao marginal que comete esse tipo de crime e nada lhe acontece ? Que “não dá nada”. Que o crime compensa, sensação de impunidade.
Zumbis
Segundo os policiais, a imensa maioria dos furtos é provocada por dependentes químicos, verdadeiros “zumbis” que perambulam pela madrugada em busca de qualquer objeto que possa ser trocado por uma pedra de crack.
Muitos são pessoas em situação de rua (PSRs). Não se pode generalizar e tampouco criminalizar as pessoas nesta condição desumana. Entretanto, é fundamental que as autoridades policiais e os gestores públicos identifiquem as diversas tribos entre aqueles que moram nas ruas.
Existem os que perderam empregos, não conseguem pagar aluguel, tem problemas psiquiátricos e romperam vínculos familiares.
Estes precisam de apoio do Estado, com políticas públicas de moradia social, capacitação profissional e assistência social.
Existem os dependentes químicos e alcoólatras. Estes precisam de ajuda e tratamento, mesmo que na base da força, após se tentar as abordagens anteriores, como dos assistentes sociais e tratamento ambulatorial.
E, por fim, os criminosos, muitos infiltrados entre os PSRs.
Cabe às autoridades e aos gestores públicos, com suas equipes técnicas, identificar quem precisa de ajuda e quem é bandido. Muitas vezes as características do povo de rua se misturam. É um tema complexo e não existe solução simples.
Cabe à sociedade exigir o fortalecimento das políticas públicas de resgate social e inclusivas (tratamento, capacitação, assistência social, moradia digna) para quem quer se ajudar. Mas, aos marginais e bandidos, que trazem prejuízo a quem produz e ameaça à vida de trabalhadores, com casos de agressões e até mortes já registradas em Florianópolis, é preciso atuação enérgica das forças de segurança, dentro da lei.
Polarização
Há um emburrecimento do debate sobre segurança pública e a calcificação da polarização política está entre as causas disso. A esquerda acredita que a criminalidade é um problema social e que os criminosos são vítimas de uma sociedade opressora e desigual. A direita raiz vai na linha “bandido bom é bandido morto”.
Evidente que, numa sociedade brasileira com violência epidêmica, o discurso da direita tem maior adesão social.
Entretanto, é preciso descolar do pensamento simplório e mágico.
De fato, precisamos de políticas públicas inclusivas, com mais oportunidades, que virão através de uma boa educação e condições dignas de vida (moradia, trabalho, lazer, cultura, transporte eficiente, esportes).
Por outro lado, é preciso ser firme, intolerante e dentro da lei no combate à criminalidade, qualificando e valorizando cada vez mais as polícias e dando celeridade e qualidade na apuração de crimes, andamento de processos e julgamentos na Justiça.
O marginal precisa ter certeza de que seus atos terão consequências legais.
Mas, convenhamos, em um país em que crimes cometidos com desvio de milhões de reais são flagrados, provados com tudo documentado, dinheiro devolvido, mas as penas são anuladas — fica mais difícil ter esperança.
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